Homem que espancou e jogou a esposa do 10º andar recebeu R$ 12 milhões da produtora do filme de Bolsonaro
Cidadão de bem: homem envolvido no crime que chocou o Brasil nesta semana recebeu a bagatela de R$ 12 milhões da produtora do filme de Jair Bolsonaro, além de já ter sequestrado um parente de Eduardo Suplicy. Imagens mostram Alex Leandro Bispo espancando a esposa. Para salvar a própria vida, a mulher tenta acalmá-lo com um abraço, mas de nada adianta. Antes das imagens virem à tona, Alex chegou a se ajoelhar e chorar no velório da esposa

por Felipe Borges e Ana Oliveira
Alex Leandro Bispo dos Santos, preso sob acusação de feminicídio após a morte de Maria Katiane Gomes da Silva, recebeu R$ 12 milhões da produtora executiva do filme sobre Jair Bolsonaro. O pagamento, revelado nesta semana, reacendeu questionamentos sobre contratos firmados pela prefeitura de São Paulo e sobre a trajetória criminal do suspeito, cuja ficha inclui o sequestro-relâmpago de um sobrinho de Eduardo Suplicy, em 2003.
A informação sobre o repasse foi publicada pelo The Intercept, que apontou ligação direta entre Bispo e o Instituto Conhecer Brasil (ICB), presidido por Karina Pereira da Gama. Ela é também produtora executiva da cinebiografia Dark Horse, obra em desenvolvimento a partir da produtora Go Up, da qual é sócia. Documentos consultados pela reportagem mostram as assinaturas de Bispo, da esposa morta — que figura como testemunha — e de Karina no contrato firmado.
O valor repassado a Bispo — R$ 12 milhões — teria como origem um contrato de R$ 108 milhões firmado pela gestão Ricardo Nunes (MDB) para instalar e manter 5.000 pontos de wi-fi gratuito em áreas de baixa renda da capital paulista. Segundo o Tribunal de Contas do Município (TCM), o edital que deu origem ao contrato apresentava ao menos 20 irregularidades, entre elas critérios genéricos para justificar a escolha de uma ONG para um serviço técnico que, em tese, poderia ser prestado por empresas especializadas ou por estruturas internas do município.
A discrepância de custos também chamou atenção. Enquanto a Prodam, empresa pública municipal de tecnologia, cobra R$ 306 pela manutenção de um ponto de wi-fi, o ICB passou a receber R$ 1.800 para instalar cada ponto e mais R$ 1.800 por mês para mantê-lo em funcionamento. Pelo plano de trabalho, o planejamento deveria seguir até dezembro de 2024, com início da instalação em janeiro de 2025.
Um histórico criminal conhecido
A prisão desta semana não é o primeiro registro de violência envolvendo Alex Leandro Bispo. Fontes da segurança pública confirmam que ele participou, em 2003, do sequestro-relâmpago de Roberto Calmon de Barros Barreto Filho, sobrinho de Eduardo Suplicy — hoje deputado estadual e, à época, senador. A vítima foi rendida na região dos Jardins e mantida sob ameaça de arma enquanto criminosos tentavam acesso a cartões e senhas.
Bispo acabou detido por seguranças de um estabelecimento comercial e, posteriormente, condenado a seis anos e quatro meses de prisão. Ele ainda era jovem quando deixou o sistema prisional, já acumulando antecedentes.
As imagens que mudaram o rumo da investigação
O episódio que levou à morte de Maria Katiane, em 29 de novembro, inicialmente foi tratado como uma morte suspeita. Em depoimento à polícia, Bispo afirmou que a esposa teria se atirado do 10º andar após uma discussão.
Mas as gravações do condomínio e do próprio apartamento do casal levaram a investigação em outra direção. As imagens mostram uma sequência de agressões minutos antes da queda.
No estacionamento, Bispo desfere socos contra a companheira. No elevador, a discussão continua, seguida por tentativas de agarrar o pescoço da vítima. Em outro momento, arranca Maria Katiane da cabine de forma brusca, enquanto ela tenta se segurar nas portas. Cerca de um minuto depois, retorna sozinho, senta-se no chão e leva as mãos à cabeça.
A Polícia Civil concluiu que o conjunto de gravações contraria integralmente a versão de suicídio apresentada pelo suspeito. Peritos analisaram o circuito interno e câmeras dentro do apartamento, além de coletar depoimentos e checar inconsistências nas declarações iniciais. Com base nas evidências, o Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) solicitou a prisão temporária, decretada nesta terça-feira (9). Bispo agora responde por feminicídio consumado.
O velório e a reação pública
Antes da divulgação das imagens, o suspeito chegou a se ajoelhar e chorar no velório da esposa, numa cena que ganhou repercussão após a prisão. Com os vídeos divulgados, o caso provocou nova onda de indignação nas redes sociais.
A prefeitura de São Paulo e o Instituto Conhecer Brasil foram procurados para esclarecimentos sobre o pagamento a Alex Bispo e sobre a execução do contrato dos pontos de wi-fi. Até o fechamento deste texto, não houve resposta.
Homem chora em cima da mulher MORTAno caixão, a beija…ao fundo vc ouve a criancinha gritando “Volta pra mim mamãe, volta pra mim” 💔 após, o marido é preso por jogar a mulher do 10° andar.
A impunidade neste país está fazendo com que tudo o que é de maligno brotar nas pessoas.… pic.twitter.com/TIuHvWf3nF— Leopoldina 🇧🇷 (@PunkyBolsonaro) December 10, 2025



