Redação Pragmatismo
Notícias 10/Dez/2025 às 15:59 COMENTÁRIOS
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Figurantes da cinebiografia de Jair Bolsonaro vão à Justiça por condições “humilhantes” e surpresa com o tema do filme

Publicado em 10 Dez, 2025 às 15h59

Mais de 10 figurantes da cinebiografia de Jair Bolsonaro vão à Justiça por terem sido submetidos a condições de trabalho “humilhantes”, incluindo agressões, comida estragada, restrições no uso do banheiro, além de terem sido enganados sobre o tema do filme

filme bolsonaro dark horse

Ao menos 14 figurantes que participaram das gravações de Dark Horse, a cinebiografia do ex-presidente Jair Bolsonaro, começam a se mobilizar para processar os produtores do filme. Dois deles, sob condição de anonimato por medo de retaliação, relataram à coluna um ambiente de trabalho descrito como “humilhante”, marcado por agressões, restrições abusivas e condições inadequadas de permanência no set.

Os relatos reforçam o acúmulo de denúncias que já chegaram ao Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado de São Paulo (Sated-SP). O sindicato informou ter recebido queixas envolvendo atraso no pagamento, revistas corporais, controle rígido de circulação, episódios de agressão e até fornecimento de comida estragada. Delegados sindicais chegaram a ir ao local das filmagens após o volume de denúncias.

Revistas, controle de banheiro e retenção de celulares

Segundo figurantes ouvidos pela reportagem, o ambiente de trabalho em Dark Horse fugiu completamente do padrão usual da indústria audiovisual. Os profissionais foram submetidos a revistas minuciosas logo na chegada, com o principal objetivo de impedir o uso de celulares. Os aparelhos eram retidos e guardados por seguranças durante toda a jornada.

Até mesmo a ida ao banheiro era controlada. Uma das fontes descreveu o procedimento como “inédito e constrangedor”: o acesso só era liberado quando se formava um grupo, acompanhado por seguranças, em uma espécie de “comboio”.

Comida insuficiente e relatos de intoxicação

A alimentação também se tornou motivo de queixa. Em vez de um café da manhã convencional, os figurantes receberam apenas um “kit lanche”, considerado muito inferior ao padrão da maioria das produções. No horário do almoço, denúncias de comida estragada chegaram ao sindicato — embora as fontes ouvidas afirmem não ter consumido refeições deterioradas, elas dizem ter testemunhado colegas passarem mal após comer.

Jornadas extenuantes e pagamento tardio

As jornadas de gravação também se estenderam além do habitual. Uma das fontes contou que trabalhou das primeiras horas da manhã até a noite, em um dia que ultrapassou facilmente 12 horas de produção. Pelo trabalho, receberá 165 reais — apenas 35 dias após as filmagens, feitas em novembro.

Surpresa com o tema e constrangimento político

Outro ponto recorrente nas queixas é o sigilo em torno do tema do filme. Segundo os figurantes, muitos só descobriram durante as gravações que a produção tinha caráter celebratório da trajetória de Bolsonaro.

“Muitos se sentiram constrangidos, porque são críticos ao Bolsonaro e não queriam estar associados a uma obra com essa temática”, relatou uma figurante. Segundo ela, houve até quem exagerasse deliberadamente na atuação, na esperança de que as cenas fossem cortadas na edição.

Cresce a mobilização para ação coletiva

Com o acúmulo de denúncias, pelo menos 14 figurantes já discutem medidas judiciais contra os responsáveis pelo filme. A avaliação é de que houve violação de direitos trabalhistas, quebra de condições mínimas de dignidade e descumprimento de acordos básicos do setor audiovisual.

O Sated-SP segue coletando depoimentos e deve encaminhar novas ações de fiscalização. Até o momento, a produção de Dark Horse não comentou as denúncias.

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