Redação Pragmatismo
Lula 07/Mar/2019 às 08:41 COMENTÁRIOS
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Até quando o ex-presidente Lula vai resistir?

Publicado em 07 Mar, 2019 às 08h41

Quanta dor Lula ainda pode suportar? Por que o temem tanto os sem-caráter? Perseguido barbaramente há três anos, nesse período ex-presidente perdeu companheira de vida, irmão, neto e amigos. Mas ainda empresta seu olhar sereno e altivo para que a esperança sobreviva

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Luiz Inácio Lula da Silva (Imagem: Ricardo Moraes | Reuters)

Cláudia Motta e Paulo Donizetti de Souza, RBA

Ao se despedir do neto, o ex-presidente Lula disse a Arthur que ele agora está com dona Marisa no céu. E prometeu que quando for encontrá-los também, vai levar o diploma de sua inocência, que vai redimi-lo de todo bullying que o Arthur sofreu na escola. E vai provar que Moro e Dallagnol mentiram.

Quanta dor um homem é capaz de suportar? É impossível saber. A natureza humana é vasta, os limites, extensos. Aos 73 anos de idade, Luiz Inácio Lula da Silva parece forçado a testar esses limites.

O ex-presidente foi preso em 7 de abril passado, dia do aniversário de 67 anos de sua companheira de vida, Marisa Letícia. A mulher com quem foi casado por 43 anos morreu em 3 de fevereiro de 2017.

Familiares e amigos atribuem a morte prematura de Marisa Letícia a todo o sofrimento vivido por Lula, pelos filhos e por ela própria. A ciência comprova a relação entre tristeza, angústia, adoecimento.

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Depois de 10 meses sem poder conviver com os filhos, netos, com sua bisneta, seus amigos e sem o contato permanente com o povo – vivência que dá ao ex-presidente energia e juventude –, em 29 de janeiro último Lula perdeu o irmão mais velho, Vavá. Também metalúrgico em São Bernardo do Campo, Vavá estava com 79 anos e lutava contra um tipo raro de câncer que afeta os vasos sanguíneos. Contrariando a Lei de Execuções Penais, o ex-presidente foi proibido de participar do velório até o último momento.

A jornalista Nicole Briones, do Instituto Lula, que está “ao lado” do ex-presidente na cobertura da Vigília, em Curitiba, conta que nesse quase um ano Lula só teve medo uma vez. “Era uma manhã de domingo quando os advogados entraram em sua cela e ele não entendeu.” O dia, 8 de julho, e estavam lá pra comunicar que ele estaria livre graças a um habeas corpus do TRF-4. Lula não foi solto e manteve a serenidade o dia todo.

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Mais tarde, contou que seu medo foi a possibilidade de terem aparecido lá pra comunicar uma notícia ruim sobre o irmão, que já não estava bem.

Nesta sexta-feira (1º), entretanto, o pior dos medos que um ser humano pode sentir, se confirmou. Lula recebeu a morte do seu neto Arthur, de 7 anos.

Deveria ser proibido um pai enterrar um filho e um avô enterrar um neto“, disse o ex-presidente, consternado pela dor. Arthur era o único filho de Marlene e Sandro, o mais jovem dos filhos de Lula e Marisa.

Vavá morreu saudoso do irmão ex-presidente. E pobre, como foi durante toda a vida. Como de resto toda a família Lula da Silva, sofria com a injustiça dos ataques, e com as mentiras tecidas ao longo de décadas e que hoje ajudam a alimentar um ódio que corrói a nação.

Era de Arthur, lembra o blogueiro Luiz Müller em texto postado, o tablet apreendido pela força tarefa da Lava Jato há três anos. Naquele 4 de março de 2016, Sérgio Moro promoveu a ação espetaculosa da condução coercitiva de Lula – não sem antes mandar invadir e revirar ao avesso seu apartamento em São Bernardo do Campo. Tudo isso sem que o ex-presidente tivesse recebido sequer um convite para ir depor espontaneamente.

O tablet do Arthur ainda tá com Moro”, escreve Müller. “O avô, pro Arthur, Moro não devolve mais. Dos 4 aos 7 anos, a vida de Arthur foi invadida, de forma leviana, rasteira, abusiva e violenta. Era manhã quando os netos de Lula foram acordados com as portas arrombadas, barulho e homens armados vasculhando seus brinquedos, a mando de Moro. No ano seguinte, (Arthur) perde a avó. Um ano depois, seu avô é levado preso, pra bem longe dele. Onze meses depois, Arthur entra no hospital 7h20 e falece 12h11.

Conforme já relatou Lula, toda essa perseguição – com objetivos políticos que foram alcançados nas eleições de outubro – resultou à família dificuldades até para conseguir trabalho. E trouxe para todos os brasileiros que não se conformam com injustiça, mais um episódio de inconformismo e dor.

O homem, que elevou o Brasil à condição de nação respeitada internacionalmente, que retirou milhões da miséria e levou saúde, educação, luz e alegria aos rincões do país, deveria estar curtindo sua velhice e os louros de sua obra grandiosa ao lado da família, dos amigos.

No Brasil surreal, onde o ódio governa, o presidente eleito com a ajuda de Moro não sabe o que diz, direitos e povo são desprezados e os ministros desconhecem as áreas que vão administrar, Lula é o retrato de todas as injustiças.

Lula é símbolo de conquista de cada jovem pobre que chegou à universidade, cada pai e mãe que acreditaram que haveria um futuro diferente para seus filhos. O sofrimento de Lula é o sofrimento dos milhões para quem um país se faz com inclusão e justiça social, com respeito às diferenças, igualdade, cidadania.

A dor de Lula é a dor de quem treme de indignação diante das injustiças. Transformar essa dor em capacidade de resistência para recuperar o Brasil para todos os brasileiros seja talvez a única saída.

Lula pôde abraçar seus familiares e amigos e despedir-se de Arthur neste sábado cinzento de março. Nas redes sociais, algumas demonstrações de selvageria fazem balançar a fé na humanidade. São pessoas que, mais que ódio, ou inveja, têm medo de Lula. Porque sua história, sua existência e suas ideias atormentam essa gente, mexem, no fundo, com a ausência de caráter.

Lula caminhou pelo cemitério Jardim da Colina, em São Bernardo do Campo para o adeus ao neto. Ainda que rodeado de policiais – “que medo vocês têm de nós”, diz a canção – acenava agradecido ao povo ao seu redor. Abatido pela perda, e submetido a uma distância forçada do convívio com a família, os amigos e o povo, Lula ainda carrega em si a luz da serenidade, a força da dignidade, a altivez. E também uma esperança que nos contagia a seguir em frente, em busca de uma humanidade mais justa.

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