Redação Pragmatismo
Eleições 2018 05/Out/2018 às 13:12 COMENTÁRIOS
Eleições 2018

O eleitor de extrema-direita no domingo de eleição

Publicado em 05 Out, 2018 às 13h12

"O eleitor brasileiro de extrema direita acordou no domingo da eleição, deu um beijo nos filhos ainda na cama e tomou café da manhã olhando o WhatsApp...". Leia a íntegra do roteiro de domingo do eleitor de extrema direita

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Mário Lima Jr., Jornal GGN

O eleitor brasileiro de extrema direita acordou no domingo da eleição, deu um beijo nos filhos ainda na cama e tomou café da manhã olhando o WhatsApp. Tinha recebido uma imagem absurda, na noite anterior, com uma fala atribuída ao Haddad dizendo que todas as crianças a partir de 5 anos de idade passam a ser propriedade do Estado. Logo compartilhou a notícia falsa com todos os seus contatos, sem verificar a informação.

Para ir à igreja, cristã, colocou o tênis, vestiu uma calça jeans e uma camiseta branca estampada com o rosto do candidato do Partido Social Liberal à Presidência da República, homem que é a favor da tortura e do assassinato e rejeita a democracia.

Antes de sair de casa, viu na TV que um homem foi morto pela polícia militar poucas horas atrás. Mais um negro morador de favela assassinado pelo Estado. Temente a Deus mas sem medo de julgar o próximo, o eleitor comenta nas redes sociais que talvez o homem fuzilado tivesse envolvimento com o tráfico. Sendo assim, menos um bandido no mundo. Além disso, pensa que na guerra inocentes morrem até a vitória completa, desde que os mortos sejam os favelados.

Como combater dez bandidos armados com fuzis apontados pra você?”, na porta da igreja o radical perguntou babando, com sangue nos olhos, a um amigo que declarou voto diferente. A resposta é óbvia, a Lei permite atirar e matar quando há situação iminente de risco de vida. A questão que a extrema direita não discute é quais medidas podem ser criadas para impedir que bandidos coloquem as mãos em armas. Medidas de inteligência não atraem votos de extrema direita, só o ódio.

E depois da liberação das armas para os “cidadãos de bem”?

Encerrou a conversa rápido, a missa estava começando, e terminou se despedindo defendendo a volta do regime militar, “pela ordem e pela moral da nação”. Mulheres grávidas, crianças e todo tipo de gente foram arrancados de casa e depois torturados físico e psicologicamente. O Congresso foi fechado, o habeas corpus foi suspenso, atentados terroristas eram praticados tanto pela direita quanto pela esquerda. Não houve ordem nem moral após o Golpe de 64.

Saiba mais: As semelhanças entre 1964 e 2016 com base em pesquisas atuais e do passado

Diante da urna o eleitor desejou um Brasil melhor. Onde a empresa que ele abriu recentemente dê certo e ele enriqueça pra gerar empregos. Alega que geraria ainda mais se a reforma trabalhista não tivesse sido tão suave. Quando digitou o número do candidato, não pensou no bem-estar popular ou no desenvolvimento geral da cidadania. Porque rejeita a história de escravidão, pobreza e dor que constituiu o país. Rejeita inclusive qualquer estatística atual sobre miséria e violência. O número de jovens negros assassinados é três vezes maior do que jovens brancos, mas isso tudo é “mimimi”.

De novo em casa, sem arrependimentos, viu no noticiário noturno que não era uma arma na mão do favelado, como a polícia pensou, era um guarda-chuva.

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