Redação Pragmatismo
Notícias 28/Mai/2025 às 15:10 COMENTÁRIOS
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Grupo que executou advogado em MT se autodenominava "Comando de Caça Comunistas"

Publicado em 28 Mai, 2025 às 15h10

Investigação da PF descobre que a execução do advogado Roberto Zampieri não foi um crime isolado, mas a ponta de um iceberg que desnudou uma quadrilha bolsonarista com atuação interestadual, envolvida em assassinatos sob encomenda, espionagem e tentativas de cooptação do Judiciário, tudo com o respaldo de militares da ativa e da reserva

caça comunistas
Algumas das armas encontradas com o grupo

Por Ana Oliveira e Felipe Borges | Pragmatismo Político

A execução do advogado Roberto Zampieri, em dezembro de 2023, em Cuiabá (MT), não foi um crime isolado. Foi a ponta de um iceberg que revelou à Polícia Federal uma organização criminosa empresarial, com atuação interestadual, envolvida em assassinatos sob encomenda, espionagem e tentativas de cooptação do Judiciário, tudo isso com o respaldo direto ou indireto de militares da ativa e da reserva.

Nesta quarta-feira (28), cinco pessoas foram presas em operação da PF autorizada pelo ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal (STF), em Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais. A investigação, batizada de Operação Sisamnes em referência ao juiz persa da Antiguidade que foi executado por corrupção, expôs um esquema que mistura violência política, milicianismo e interesses fundiários milionários.

O Pragmatismo já havia abordado, em reportagens anteriores, os contornos crescentes da radicalização de direita armada no Brasil e as conexões entre militares, empresários e violência política.

“Comando C4”: o grupo que se via como “caçador de comunistas”

Segundo a Polícia Federal, o grupo se autodenominava “Comando C4” — sigla para Comando de Caça Comunistas, Corruptos e Criminosos. Apesar do discurso pseudo-moralizante, os integrantes atuavam como milicianos com estrutura empresarial: armamento pesado, uso de disfarces, drones, garotas de programa como “iscas”, e uma tabela impressa com os “valores” de execução de alvos.

O “serviço” era precificado conforme o cargo da vítima:

“Figuras normais”: R$ 50 mil
Deputados: R$ 100 mil
Senadores: R$ 150 mil
Ministros e autoridades do Judiciário: R$ 250 mil

Não está claro, ainda, se alvos com esses cargos chegaram a ser espionados ou se as listas eram apenas projeções. O nome do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, foi citado como possível alvo, conforme apuração da TV Globo.

Espionagem, armas pesadas e conexões institucionais

Durante a operação, foram apreendidas armas de guerra em Minas Gerais: cinco fuzis de precisão (com silenciadores), 15 pistolas, lança-rojão tipo AT 34, minas magnéticas, explosivos, carros com placas frias e até uma frota de veículos Doblò destinados à execução dos crimes.

A investigação revelou ainda que o assassinato do advogado Zampieri não foi motivado por ideologia política, mas por uma disputa fundiária: mais de R$ 100 milhões em terras no Mato Grosso. O mandante, segundo a PF e a Polícia Civil, seria o produtor rural Aníbal Manoel Laurindo. Outros presos são o coronel da reserva Luiz Cacadini, apontado como financiador; Antônio Gomes da Silva, o executor; Hedilerson Barbosa, auxiliar direto do atirador; e Gilberto Louzada da Silva.

Todos foram indiciados em 2024 pela Polícia Civil, e agora têm suas funções corroboradas pela PF. Há ainda mandados de busca e apreensão, monitoramento eletrônico e medidas cautelares como recolhimento domiciliar noturno e entrega de passaportes.

Do crime à denúncia de venda de sentenças

A morte de Zampieri levou os investigadores a descobrir algo ainda mais perturbador: indícios de venda de sentenças no Tribunal de Justiça de Mato Grosso e no Superior Tribunal de Justiça (STJ). A PF agora aprofunda a apuração dessas ligações, que envolvem o uso do aparato jurídico por interesses privados violentos.

A atuação do Comando C4 evidencia como interesses econômicos, ideologia extremista e estrutura militar se entrelaçam em um Brasil onde a violência política não é mais apenas retórica. É projeto.

A execução de Zampieri

O advogado foi morto com dez tiros à queima-roupa dentro de seu carro, estacionado em frente ao escritório. O assassino, de boné e aparentemente à espera da vítima, fugiu logo após os disparos. Zampieri, que usava carro blindado há anos, não teve chance de defesa. A frieza da execução, captada por câmeras de segurança, escancarou a atuação profissional do grupo.

A descoberta deste grupo armado, que combinava milícia, paramilitarismo e instrumentalização política da violência, lança luz sobre os riscos que a democracia brasileira enfrenta. Como o Pragmatismo tem mostrado, não se trata de casos isolados, mas de uma escalada articulada por setores que pretendem redesenhar o Estado pela força e pela corrupção dos tribunais.

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