Redação Pragmatismo
Redes Sociais 18/Jun/2019 às 14:00 COMENTÁRIOS
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Perfil 'Pavão Misterioso' montou farsa contra Greenwald e depois sumiu

Publicado em 18 Jun, 2019 às 14h00

Perfil 'Pavão Misterioso' sumiu das redes sociais após ter acusação contra Glenn Greenwald desmascarada. Erros grosseiros nos "documentos" sobre o editor do The Intercept revelaram a farsa

Perfil Pavão Misterioso farsa contra Greenwald sumiu

Jornal GGN

Com o ex-juiz e atual ministro da Justiça, Sergio Moro, e o procurador Deltan Dallagnol sem condições de responder claramente às revelações do site The Intercept Brasil, apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PSL) recorreram a uma mentira grosseira para atacar o site e o jornalista Glenn Greenwald.

Um perfil recém-criado no Twitter chamado Pavão Misterioso publicou um “documento” como tendo sido extraído do computador de Greenwald, mostrando transações que teriam sido feitas em criptomoeda para pagar um hacker para obter os dados do celular de Dallagnol. O objetivo é desqualificar as revelações sobre o conluio entre Moro e Dallagnol para condenar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Operação Lava Jato.

Segundo o “documento”, que um hacker teria pego do computador de Glenn Greenwald, ele teria enviado 84 Bitcoins, equivalentes a US$ 310 mil, para o Panamá, que depois foi convertido e reenviado para a Rússia, onde novamente foi convertido, agora em rublos. Depois enviado novamente para a China, onde teria ido para a conta de Viktor Pollson, nome de um conhecido hacker russo. O “documento” foi fortemente compartilhado por apoiadores de Bolsonaro em uma tentativa de imputar um crime ao jornalista. Revelar informações não é crime, mas contratar um profissional para obtê-las, sim.

No entanto, uma série de erros grosseiros desmontam a história. No site BlockChain.com, que registra todas as transações em criptomoeda feitas no mundo, não há registros das transferências que teriam sido feitas por Glenn Greenwald. O site não registra a identificação de quem envia ou de quem recebeu, mas os dias, horários e valores. O documento falso informa que o jornalista teria transferido “84 criptomoedas no dia 13/02/2013 às 08:02:11”. Dados que não constam do BlockChain.com. Todas as transações nesse dia são de valores diferentes em horários anteriores ou posteriores.

O valor da transação expresso no documento está incorreto. Segundo o registro falso, a transação foi de criptomoedas valendo US$ 3.624,54 a unidade, equivalentes a US$ 308.085,90. Mas a conta está errada. Nesse valor, a transação devia ser de 85 criptomoedas e não 84 como diz o tal documento. Além disso, a escrita dos valores está incorreta. Em um documento em inglês, a posição de vírgula e ponto é trocada, com a primeira separando os milhares e o segundo separando os decimais. Mas o documento apresenta os valores na forma usada no Brasil, apesar de estar todo em língua inglesa.

Algumas palavras foram escritas erradas. O nome do dinheiro Russo foi escrito metade em inglês metade em português: “Russian Rublos”. O correto, para um documento em inglês, seria Russian Rubles. No início do documento também aparece a palavra transfered (transferido). Mas no final está escrito transferred. Ambos os erros são improváveis em um documento de transferência de valores.

De outro lado, os principais propagadores da denúncia contra Glenn Greenwald são conhecidos. O principal foi o youtuber Bernardo Kuster, recomendado por Bolsonaro como “fonte confiável” de informação. Ele passou os últimos dias dizendo que haveria uma grande revelação sobre Greenwald.

Outro propagador da história foi o candidato a deputado estadual pelo PSL Smith Hays, entre outros perfis influentes nas redes sociais. O vereador carioca Carlos Bolsonaro, filho do presidente, falou em pavão nas redes sociais alguns dias antes. A conta Pavão Misterioso já foi deletada.

Saiba mais: Carlos Bolsonaro teria coordenado ação de robôs contra Glenn Greenwald

As interações foram reveladas pelo especialista em Big Data Fábio Malini, que faz monitoramento de assuntos mais compartilhados nas redes sociais.

O filósofo e escritor Henry Bugalho publicou um vídeo em seu canal desmontando a farsa do documento, bem como o perfil Tesoureiros do Jair, que também demonstrou os erros da “revelação”.

O próprio Glenn Greenwald ironizou a denúncia. “Se a rede de Bolsonaraists/@MBLivre/@tercalivre for fabricar documentos falsificados em inglês para tentar espalhar falsas acusações contra mim, pelo menos tenha a cortesia de não ser tão preguiçoso a ponto de errar as palavras básicas”, escreveu.


No fim de semana, o site The Intercept Brasil trouxe novas revelações sobre as conversas entre Moro e Dallagnol. Horas depois do primeiro depoimento de Lula à Lava Jato, o ex-juiz orienta os procuradores a rebater as alegações da defesa do ex-presidente com uma nota e chama a atuação dos advogados de defesa de “showzinho”. Ele sugere que a força tarefa exponha contradições do depoimento para se proteger.

Veja o que o The Intercept já revelou até agora:

Parte 1
Parte 2
Parte 3
Parte 4
Parte 5
Parte 6

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