Redação Pragmatismo
Rio de Janeiro 12/Mar/2019 às 23:25 COMENTÁRIOS
Rio de Janeiro

Ronnie Lessa sabia que seria preso, diz Ministério Público

Publicado em 12 Mar, 2019 às 23h25

Promotora revela que Ronnie Lessa sabia que seria preso e operação para detê-lo precisou ser antecipada em 24 horas para evitar fuga. MP diz que vai apurar vazamento

Ronnie Lessa PM bolsonaro

O policial reformado Ronnie Lessa, suspeito de ter sido o autor dos disparos que mataram Marielle Franco (PSOL) e Anderson Gomes, afirmou, no momento em que foi preso, ter sido avisado sobre a Operação Lume. As informações são da coordenadora do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) do MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro), Simone Sibílio.

Simone disse que o vazamento da operação — considerada a 1ª fase das investigações do caso Marielle — será apurado. De acordo com a promotora, a operação seria realizada amanhã, mas, em razão de possível vazamento, ela foi antecipada para a manhã de hoje.

“Esta operação seria feita amanhã (quarta-feira), mas devido a um vazamento, nós antecipamos esta operação para hoje (esta terça-feira), o que acabou sendo totalmente estratégico e importante: ambos os alvos foram presos saindo da residência. Ronnie Lessa às 4h30 da manhã foi preso com três celulares no modo avião, que mostra o modus operandi deles, que causa tanta dificuldade para que façamos o rastreamento deles”, disse.

Na mesma operação, a Polícia Civil realizou a maior apreensão de fuzis da história do Rio de Janeiro. Saiba mais aqui.

Élcio Vieira de Queiroz e Ronnie Lessa foram denunciados pelo Ministério Público por homicídio duplamente qualificado (motivo torpe e emboscada) e pela tentativa de homicídio de Fernanda Chaves, assessora da parlamentar que sobreviveu ao crime. Segundo a coordenadora do Gaeco, o crime contra Marielle teve “motivação torpe e abjeta”, praticado “mediante emboscada”, com características típicas de “execução sumária”.

Ao menos 14 disparos atingiram o veículo onde estavam Marielle e Anderson –a vereadora foi baleada com quatro tiros na cabeça e Anderson, com três nas costas. O assassinato aconteceu na noite de 14 de março do ano passado no bairro do Estácio, região central do Rio.

Tecnologia

De acordo com Elisa Fraga, coordenadora do CSI (Coordenadoria de Segurança e Inteligência) do MP-RJ, a investigação que chegou a Ronnie Lessa foi meticulosa e trabalhou em três frentes.

“A primeira delas com a divisão de inteligência, diligências em campo, com agentes que trabalham no Gaeco. A segunda, com interceptação telemática, com a divisão de inteligência cibernética. Depois, a compleição física do atirador, com um estudo biométrico para saber qual era o tipo físico do atirador”, disse.

“Recebemos uma imagem feita na Casa das Pretas [local onde Marielle se encontrava antes do assassinato], gerada por uma câmera de infravermelho. Depois, fizemos um estudo biométrico para saber qual era o tipo físico do atirador. Assim começamos a traçar um perfil da compleição física dele e chegamos a um homem de estatura entre 1,79 m e 1,82 m”, disse Elisa Fraga.

“Imagem que foi obtida havia o braço direito do atirador. Nós fizemos a análise e, com a comparação do hoje denunciado Ronnie Lessa, nós pudemos verificar compatibilidade”, completou.

Quem mandou matar?

Marcelo Freixo, que trabalhava com Marielle, diz que as investigações precisam continuar. “O desmembramento da investigação preocupa, mas a polícia e o Ministério Público têm obrigação de chegar aos mandantes. Queremos respostas. Quem está por trás desse crime, que é um crime político. É preciso mostrar quem é o grupo político interessado na morte de Marielle”.

“A Polícia Civil precisa explicar porque essa investigação teve tantos contratempos, testemunhas frágeis e inventadas ao longo de quase um ano. Está claro que essa operação atende a interesses políticos de dar alguma resposta antes de o caso completar um ano, mas não vamos ficar calados enquanto a polícia não apresentar a motivação e, principalmente, o mandante ou mandantes desse crime”, disse o deputado.

Freixo diz não ter dúvidas de que é falsa a testemunha-chave levada à Delegacia de Homicídios (DH) por delegados da Polícia Federal (PF), em maio passado.

“O surgimento dessa pessoa serviu apenas para atrapalhar as investigações e gerar desentendimentos entre policiais e promotores. Está claro que o objetivo era obstruir a apuração do crime, mas a Procuradoria-Geral da República e a PF estão atentas à manobra”, acredita o parlamentar.

As suspeitas em torno do envolvimento de policiais e políticos em um plano para prejudicar as investigações do caso Marielle levaram a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, a determinar a abertura de uma investigação paralela pela PF.

Para Freixo, a operação realizada pela PF, no dia 21 de fevereiro de 2019, reforça a suspeita de que a testemunha foi plantada com objetivo de obstruir as investigações.

Na ação, agentes e procuradores cumpriram mandados de busca e apreensão em escritórios e nas casas de oito pessoas, dentre elas a do ex-deputado estadual e conselheiro afastado do Tribunal de Contas do Estado, Domingos Brazão, e do delegado da PF Hélio Kristian de Almeida — um dos responsáveis pela apresentação da suposta testemunha — e do ex-agente Gilberto Ribeiro da Costa. Os dois mantinham ligações com Brazão.

A suposta testemunha-chave, que é um ex-PM ligado a grupos paramilitares, afirmou que a execução de Marielle foi tramada por Orlando Araújo, o Orlando de Curicica (miliciano que está preso numa penitenciária de segurança máxima no Rio Grande do Norte), a mando do vereador Siciliano. A polícia descartou essa versão.

Lessa e Queiroz

Apesar de receber um salário líquido de cerca de 7 mil reais por mês, Ronnie Lessa morava no condomínio Vivendas da Barra, tinha uma casa de veraneio no luxuoso Condomínio Portobelo, de Angra dos Reis, e dirigia um automóvel importado de mais de R$ 100 mil — de novo, de acordo com o diário Extra. Ele era sargento reformado da Polícia Militar.

Já Élcio Queiroz, que postou uma foto com Jair Bolsonaro em sua página do Facebook, havia sido expulso da Polícia Militar do Rio em 2016, por envolvimento com contraventores.

Em 2011, ele foi um dos presos na Operação Guilhotina, da Polícia Federal, que apurou o envolvimento de policiais cariocas com bicheiros e milicianos.

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