Redação Pragmatismo
Notícias 01/Jul/2025 às 21:15 COMENTÁRIOS
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"Amigão, meu amor, aluno exemplar". Pai morto por filho homenageava o menino nas redes

Publicado em 01 Jul, 2025 às 21h15

Pai assassinado por adolescente de 14 anos costumava fazer declarações de amor ao filho: "Aluno exemplar, irmão cuidadoso, pura ternura, anjo de Deus"

pai filho 14 anos

Por Felipe Borges
Pragmatismo Político

Em uma publicação de 2022, o pai faz uma declaração comovente: “Filho amado, você é mais do que um filho, é um companheirinho, um amigão. És o meu amor”. Dois anos depois, esse mesmo menino, agora com 14, confessaria à polícia um crime triplo. Com frieza, relatou ter assassinado o pai que tanto o amava, a mãe e o irmão caçula de apenas três anos. Executou os três enquanto dormiam, arrastou os corpos até a cisterna da casa e tentou apagar os vestígios com produtos de limpeza.

Um lar desfeito a sangue frio

O crime ocorreu na noite de sábado, 21 de junho, em Itaperuna, no noroeste fluminense. Segundo a investigação conduzida pela 143ª Delegacia de Polícia, o adolescente aguardou que todos dormissem e então pegou a arma do pai, que possuía registro de CAC (colecionador, atirador desportivo e caçador), escondida sob o colchão do casal.

A mãe foi a primeira a ser alvejada. Depois, o pai, o mesmo que o chamava de “anjo de Deus” nos aniversários anteriores. Por último, o irmão mais novo, de apenas três anos.

Após os assassinatos, o garoto usou produtos de limpeza no chão para arrastar os corpos até a cisterna da residência. Durante os dias seguintes, permaneceu na casa como se nada tivesse acontecido. Dormia, se alimentava e usava o celular enquanto os corpos da família jaziam ocultos no quintal.

O estopim: um namoro virtual e um ultimato

A tragédia, segundo o delegado Carlos Augusto Guimarães, foi motivada por um namoro virtual. O adolescente se relacionava há anos com uma garota de 15 anos residente no estado do Mato Grosso. Eles se conheceram online em 2019, durante uma partida de videogame. Desde então, mantinham contato constante.

O namoro, porém, era proibido pelos pais do menino. De acordo com o delegado, a jovem teria pressionado o adolescente para que viajasse imediatamente até ela, sob ameaça de rompimento. Como a viagem foi vetada pela família, o garoto decidiu matá-los.

“A motivação do crime gira em torno de um relacionamento que ele sustentava virtualmente com essa menina. Ele sentia-se pressionado a provar algo para ela. O comportamento que apresentou nas oitivas foi marcado pela frieza, ausência de remorso e autovalorização masculina. Há traços claros de um perfil psicopático ou, no mínimo, de uma inteligência emocional distorcida e perigosamente reprimida”, afirmou o delegado.

O alarme da avó e a confissão sem arrependimento

O caso só chegou à polícia na terça-feira (25), quando a avó paterna do adolescente, sem conseguir contato com a família desde o fim de semana, decidiu procurá-los. Levou o neto consigo à delegacia e relatou o desaparecimento. A atitude do garoto durante o depoimento levantou suspeitas imediatas.

Confrontado pelos investigadores, ele confessou tudo com naturalidade. Disse que dormia no quarto dos pais, por causa do ar-condicionado, e ingeriu um suplemento pré-treino para se manter acordado. Reconstituiu a cena do crime com precisão e sem hesitar.

“Perguntamos se ele se arrependia. Ele respondeu que não. Disse que faria tudo de novo. Era direto, objetivo e constantemente se afirmava como homem. É um garoto frio. Se não premeditou, é muito inteligente”, relatou o delegado.

O contraste entre o afeto e a brutalidade

O caso escancarou um abismo entre a imagem pública construída pelo pai nas redes sociais e a brutalidade do desfecho. Anos antes, o mesmo pai enchia o filho de elogios. Chamava-o de aluno exemplar, irmão cuidadoso, bênção, alegria, pura ternura. As declarações amorosas, repetidas em aniversários sucessivos, compõem agora um retrato trágico da dissonância entre expectativa e realidade.

O adolescente segue apreendido e responderá por ato infracional análogo ao crime de triplo homicídio qualificado e ocultação de cadáver. A namorada virtual, ouvida no Mato Grosso, afirmou à polícia que estava em ligação com o garoto no momento dos assassinatos. O depoimento está sob sigilo e, caso fique comprovada alguma forma de incentivo ou influência, ela poderá ser responsabilizada.

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