Redação Pragmatismo
Tragédia 01/Nov/2017 às 14:13 COMENTÁRIOS
Tragédia

Psicoterapeuta diz que bullying não foi a causa do atentado em escola de Goiânia

Publicado em 01 Nov, 2017 às 14h13

Psicoterapeuta admite que o gatilho que deu o 'start' no plano do jovem de matar pode ter surgido da provocação dos colegas, mas explica que a motivação primária do crime está ligada a um conjunto de fatores

Psicoterapeuta diz que bullying não foi a causa do atentado escola Goiânia

Jordan Campos, Via facebook

Sim, um adolescente matou dois colegas de escola com uma arma de fogo. Sim, pessoas desinformadas e com a ajuda da mídia espalham que o bullying foi o motivo. Não, não foi esse o motivo. E vou aqui explicar um pouco sobre tudo isso.

Sou pai de quatro filhos, psicoterapeuta clínico de crianças, jovens e adultos e discordo completamente da “desculpa esfarrapada” desta pseudo-versão dos fatos.

Bullying é o resultado de um abuso persistente na forma de violência física ou psicológica a uma outra pessoa. Bullying não é a piada sem graça, a ofensa solta ou uma provocação por conta do odor resultante da falta de desodorante por quatro dias, que foi exatamente o “caso” do adolescente que matou seus colegas.

O motivo pelo qual o jovem assassinou seus colegas é um conjunto de fatores na formação de sua personalidade sob responsabilidade de seus pais.

O GATILHO que deu o start em seu plano de matar pode ter surgido da provocação de seus colegas, sim. Foi uma reação desmedida, autoritária, perversa e calculada a um conflito em que ele se viu inserido.

A falta de preparo emocional e educacional desse jovem para lidar com frustrações é o ponto alto deste simples quebra-cabeças. Quando somos colocados frente a um conflito, ou o enfrentamos, ou fugimos ou paralisamos.

As vítimas de bullying costumam paralisar e passam anos no gerúndio do próprio verbo que identifica este problema. Bullying é uma ressaca, um trauma no gerúndio, que vai minando as forças, destruindo a autoestima e a identidade frágil de suas vítimas.

No caso do adolescente em questão ele não teve tempo de ser vítima de bullying; ele simplesmente enfrentou a provocação de ser chamado de fedorento com base em sua formação de personalidade, filosofia de vida, exemplos e criação, reagindo.

Colegas de sala disseram que ele era adorador do nazismo, cultuava coisas satânicas e quando provocado dizia que seus pais, que são policiais, iriam matar os provocadores se ele pedisse! Bingo!

Não foi bullying

Por mais espantoso que possa ser, desculpem mídia e pseudo-sábios filósofos contemporâneos – o garoto matou porque tinha na sua formação de personalidade uma espécie de autorização para fazer. A identidade deste jovem de 14 anos estava formada em um alicerce que permitia isso. Ele provavelmente iria fazer isso logo logo… Na escola, com o vizinho, na briga de trânsito ou com a namorada que terminasse com ele, e isso nada tem a ver com bullying. A provocação foi apenas o motivo para “fazer o que já se era.”

Agora, falando do bullying, digo sem pestanejar que o maior culpado pela sedimentação do bullying e suas prováveis repercussões não são os coleguinhas “maldosos“, e sim a família de quem sofre este tipo de ação. Se quem sofresse bullying fosse um potencial assassino, a humanidade estava extinta. Mata-se muito por traições, brigas de trânsito, desavenças de trabalho, machismo, homofobia… Mas não por bullying. Do contrário – é muito mais provável um suicídio, depressão, implosão.

O que faz que alguém resista ou não a uma ação que pode virar bullying? Simples: a capacidade do jovem em lidar com frustrações e aprender a enfrentar seus problemas e conflitos. Esta é a maior prevenção ao bullying – aprender a vencer frustrações se submetendo a elas de forma sadia e com orientação. Aprender a respeitar os pais e a vida. Ter lições diárias de cidadania, direitos humanos – mas o mais importante – passar por frustrações e ter apoio dos pais, sem lamentar e encontrar culpados e sim crescer forte entendendo que neste mundo não podemos ter o controle das coisas.

Pais, ensinem seus filhos a respeitarem vocês e os outros. Sei que muitos de vocês estão cheios de carências, desesperados em relações funcionais fúteis, e projetando em seus filhos o amor que não tiveram de quem acham que deveriam ter. Negligenciam assim o respeito e querem ser amados – isso contribui para fazer jovens fracos, deprimidos, ansiosos, confusos e vítimas fáceis para o bullying.

Lembrem-se: só se ama e se valoriza o que se aprende a respeitar!

Observação 1: Este texto foi feito com base em informações disponíveis na imprensa e pela polícia até então. Não é um exame, avaliação ou diagnóstico psicoterapeutico, e sim considerações em tese, de cunho geral de muitos anos atendendo jovens como profissional do comportamento.

Observação 2: Alguns leigos ou de má fé quiseram apontar que eu minimizei o bullying. Não, bullying é algo sério, mas não neste caso! Vamos juntos!

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