Delmar Bertuol
Colunista
Colunistas 26/Nov/2025 às 11:28 COMENTÁRIOS
Colunistas

BOLSONARO. RESILIÊNCIA.

Delmar Bertuol Delmar Bertuol
Publicado em 26 Nov, 2025 às 11h28

<span style=”color: #808080;”>Delmar Bertuol*, <a style=”color: #808080;” href=”https://www.pragmatismopolitico.com.br/” target=”_blank” rel=”noopener noreferrer”>Pragmatismo Político</a></span>

Não vou comentar (de novo) sobre a prisão de Bolsonaro. Pelo menos não sob o prisma da comemoração (já estourei até espumante). Quero é fazer uma análise comportamental. Uma reflexão para a vida a partir das atitudes dele, que o Bolsonaro foi vítima das próprias escolhas. Alexandre de Morais, no meu leigo-jurídico entender, foi antes benevolente, procrastinando decisões, do que rigoroso.

Acho que podemos aprender muito com Bolsonaro. Não só com seus acertos (ele deve os ter), mas principalmente com seus erros. De minha parte, acho que a sua falta de resiliência é o principal exemplo do que não deve ser feito. E quando falo em resiliência, não é acomodação. Ao contrário: é nunca se acomodar, mas compreender que isso não deve ser feito à margem das leis, das convenções de boa convivência. Não confundir resiliência com resignação.

Bolsonaro era Oficial do Exército quando foi preso por escrever um artigo criticando os supostos baixos soldos dos militares. Eis aqui, na minha opinião, uma qualidade. Foi preso por isso. A discutir se justa ou injustamente. Ocorre que ele não parou por aí. Planejou um atendado à bomba.

Expulso do Exército aos 33 anos, garantiu o salário de Capitão. Em outras palavras, aposentou-se muito jovem ganhado o equivalente hoje a mais de dez mil reais.

Mas suas ideias e ideologias o inquietavam. Queria ser mais ativo. Levar o que pensava a mais pessoas. Candidatou-se a vereador do Rio de Janeiro. Legítimo. Foi eleito já na primeira vez que concorreu. Um feito.

Apesar de discreta participação, no meio do mandado, concorreu a deputado federal e de novo foi eleito de primeira. De causar inveja à maioria dos políticos, que começam concorrendo a vereança e mal conseguem os votos da família e dos compadres, numa campanha custeada a empréstimos bancários.

Foi eleito seis vezes consecutivas para o cargo. E, ao que se sabe, sem gastar fortunas em campanhas. Num país em que o fundo partidário está na casa do bilhões, certamente, um caminho louvável.

Nesse ínterim, lançou três filhos na Política. Um a vereador, outro a deputado federal e um a Senador. Por último, o mais novo ganhou para a vereança da chamada Dubai Brasileira, Balneário Camboriú, aquela cujas praias são sombreadas por gigantescos prédios. Salvo engano, todos eleitos de primeira, também. A única derrota da família foi do “zero-um”. Flávio Bolsonaro concorreu à Prefeitura do Rio de Janeiro em 2016, mas fez apenas 14% dos votos. No entanto, era deputado federal. Ou seja, não ficou sem mandato.

Não estou maldizendo a família. Embora eles todos critiquem o que chamam de inchaço do estado e os programas sociais de transferência de renda, ao mesmo tempo em que há mais de quarenta anos são sustentados pelos cofres públicos, todos foram eleitos pelo povo. Seus cargos (e salários) são, portanto, legítimos.

<strong><a href=”//www.pragmatismopolitico.com.br/tag/delmar-bertuol”” target=””_blank”” rel=””noopener” noopener”>Leia aqui todos os textos de Delmar Bertuol</a></strong>

Em 2018, conquistando votos duma parcela conservadora da sociedade que encontrou nele o espelhamento de seus pensamentos; dos antipetistas, que sempre somaram um bom número; e até daqueles que não tinham uma ideologia bem definida, mas clamavam por mudanças; Bolsonaro é eleito. De novo logo na primeira vez que se candidatou. E a partir daí começam seus erros.

A mesma urna eletrônica que tantas vezes guardou os votos das várias eleições dele próprio e dos seus filhos, agora, foi motivo de críticas. Segundo ele, ele teria vencido Haddad no primeiro turno. Mas as urnas foram alteradas. Isso mesmo, para ele, alguém fraudou as urnas. Mas só para postergar em um turno o resultado, não para propriamente mudá-lo em seu desfavor.

Empossado, parece não ter descido do palanque. Ao invés de fortalecer as instituições, criou atritos desnecessários com os outros dois poderes, sobretudo, com o STF.

Passado um ano, veio a Pandemia. Embora o lamento mundial, analisando friamente, era uma oportunidade dos governantes se mostrarem aquilo que se espera que sejam: líderes prontos para enfrentar as crises. Apesar da complexidade do problema, Bolsonaro não estava sozinho. As universidades, a Medicina, a Ciência, os demais políticos, a ONU (OMS) estavam unidos contra o inimigo minúsculo, mas gigante, o vírus. De início, era só ele, como líder, mandar as pessoas lavarem as mãos. Depois, que ficassem em casa. E depois, que usassem máscara. Não fez nada disso. Desdenhou o lockdown, aparecia sem máscara e até tirando o acessório de crianças. E, a julgar pelos modos que comia, acho que nem lavava as mãos.

Não só não se esforçou para comprar vacina como debochou dos que sucumbiam ser ar, pois infectadas.

Nós, da esquerda, tivemos que elogiar o João Dória, então Governador de São Paulo, pela sua postura. O João Dória, aquele que, Prefeito da cidade São Paulo, propôs transformar comida vencida em ração. Mas não para cachorro. Ração para servir de lanche nas escolas, paulistanas. Pois é, ele é que era a voz combatente e sensata ao Governo Federal. Até de comunista ele, que é grande empresário, foi acusado.

Depois de 700 mil mortes, passamos a pandemia.

qunado bolsonaro vai ser preso

Em 2022, concorreu a reeleição e perdeu. Foi sua primeira derrota eleitoral, por assim dizer. Mas ele não aceitou. Novamente acusa fraude nas urnas eletrônicas. E, embora seu partido tenha elegido governadores, senadores e deputados, ele insiste em que o sistema eleitoral brasileiro é fraudulento. É que, segundo ele, a fraude ocorreu só nas eleições presidenciais. Nas demais searas, sobretudo onde o PL venceu, as urnas são incontestáveis.

O Lula triunfou pela terceira vez, tornando-se o candidato que mais venceu eleições para o cargo. Só que, para vencer três vezes, precisou antes ter o mesmo número de derrotas. Certamente refletiu e aprendeu com elas. Lembrando que ele perdeu até pro Collor. E, depois, amargou um insucesso logo no primeiro turno, contra o Fernando Henrique Cardoso. Em todas as vezes, admitiu a derrota. Na última, juntou seus erros, contrapôs aos acertos, fez a barba, colocou gravata, abrandou o discurso e foi eleito quatro anos depois.

Bolsonaro, por seu turno, não teve a hombridade de uma ligação parabenizando seu rival. Antes de terminar o ano, fugiu para os Estados Unidos e não teve o republicanismo de passar a faixa, desejando um bom governo e, por que não, falando ao pé do ouvido do empossado que, dali a quatro anos, iria pegar a faixa de volta. Lula responderia que seria difícil, mas que tentasse. Ambos ririam e, sete dias depois, não haveria o 8 de Janeiro.

Isso seria o ideal, no entanto, o que ele fez meses antes foi uma articulação para uma tentativa de golpe de estado que envolvia até assassinatos de autoridades, inconformado que estava com a sua derrota. A primeira, repito.

Condenado, mas ainda livre, negou-se à resiliência. Mandou (ou permitiu que) o filho aos Estados Unidos para tentar apoio daquele governo para a sua absolvição. Uma tentativa de chantagem barata, violando a soberania do País que governou por quatro anos. Traição à Pátria, logo ele, tão patriota se diz. A isso, foi condenado a usar tornozeleira eletrônica.

De tornozeleira, mas ainda livre, não resiliu. Foi ao Congresso e a expôs, posando de vítima e querendo se fazer de mártir. A isso, foi condenado à prisão domiciliar.

Preso, mas no conforto do lar, ainda assim não aceitou. Tentou burlar a tornozeleira e permitiu que o filho programasse uma “vigília” perto da sua casa (prisão). A isso, foi recolhido a um quarto na Polícia Federal (com ar-condicionado, tevê e lençol limpo. Além de assistência médica intermitente).

Qual será seu próximo ato resultante da inconformidade?

Eu nem vou falar de quando o Lula foi preso injustamente e negou-se a qualquer recurso como tornozeleira ou prisão em casa. Com mais de setenta e depois de um câncer, só aceitava um destino, se o condenassem: a prisão. Mas, como disse, eu não vou citar o Lula. Só fiz breve referência porque não posso deixar de elogiá-lo sempre que posso.

E não se pode exigir de todos a coragem e disposição do Lula. Eu mesmo tenho limitado meu heroísmo. Ele termina no limite da minha zona de conforto. Condenado, justa ou injustamente, aceitaria de pronto a prisão domiciliar e/ou uma tornozeleira. E juro que me comportaria. Não tentaria romper o acessório e nem aceitaria qualquer aglomeração a meu favor sob pretexto de orarem por mim. Fizessem rezas nas igrejas, que são os locais oficiais de interlocução entre os pecadores e Ele.

Bolsonaro, que pousou de imbrochável com histórico de atleta, que faz arminha como símbolo de virilidade, na verdade parece ser mais um menino tardio mimado que, à primeira derrota, faz birra e não aceita. Mas, quando se vê acuado e sem meios legais de reversão a seu favor, não hesita em evocar sua saúde física debilitada e até mesmo a uma suposta alucinação mental, num oportunismo execrável.

Se ele não tivesse articulado uma tentativa de golpe, não tivesse fugido para os Estados Unidos ao final do governo e passada a faixa (ainda que, segundo temeu, levasse a maior vaia da história – não sei se isso aconteceria mesmo ou a multidão teria reconhecido a grandiosidade democrática do seu gesto e o aplaudido), hoje ele estaria livre e se preparando para as eleições do ano que vem, em que seria, infelizmente, um dos favoritos.

Saber perder. Aprender com os erros e melhorar. Resiliência. Fica o aprendizado.

 

span style=”color: #808080;”>*Delmar Bertuol é professor de história da rede municipal e estadual, escritor, autor de “Transbordo, Reminiscências da tua gestação, filha”</span>

 

<strong>Acompanhe <em>Pragmatismo Político</em> no <span style=”text-decoration: underline;”><a href=”https://www.instagram.com/pragmatismopolitico/” target=”_blank” rel=”noopener”>Instagram</a>, <a href=”https://twitter.com/pragmatismo_” target=”_blank” rel=”noopener noreferrer”>Twitter</a></span> e no <span style=”text-decoration: underline;”><a href=”https://www.facebook.com/PragmatismoPolitico?ref=hl” target=”_blank” rel=”noopener noreferrer”>Facebook</a></span></strong>

Recomendações

COMENTÁRIOS