Redação Pragmatismo
Direita 02/Mai/2023 às 08:55 COMENTÁRIOS
Direita

Bolsonaristas usam informações falsas contra o PL das Fake News. E levam vantagem nas redes

Publicado em 02 Mai, 2023 às 08h55

Monitoramento revela o tamanho do problema: perfis, canais e políticos reconhecidos por espalhar mentiras têm dado as cartas no debate digital sobre o PL das Fake News. Cerca de 90% dos conteúdos visualizados sobre o tema falam em 'PL da Censura'. “Ficou bastante evidente que existe uma estratégia articulada, por conta da uniformização dessas mensagens”, diz pesquisadora, ao lembrar que o projeto brasileiro é bem mais brando do que o aprovado pela união europeia

Sylvio Costa, em seu blog

Na Câmara dos Deputados, você sabe, esquentou muito na semana passada o debate sobre o Projeto de Lei (PL) 2630/2020, mais conhecido como PL das Fake News. Na terça (25), foi aprovada a urgência para a votação da proposta, que está marcada para amanhã (2).

Mas a discussão ganhou ainda mais força nas redes sociais. Os números levantados pelo grupo Democracia em Xeque, formado por estudiosos de política e comunicação vinculados a diferentes instituições de ensino e pesquisa, ajudam a compreender como foi isso. O levantamento é de Letícia Capone, professora substituta da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pesquisadora do grupo de estudos sobre comunicação, internet e política da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).

Ela monitorou uma série de perfis relevantes de atores políticos e de veículos de informação no YouTube, no Instagram e no Facebook e verificou que em 22 e 23 de abril tais contas não fizeram nenhuma menção ao PL 2630/2020. No dia 24, foram 6.652 visualizações de vídeos e posts relacionados com o assunto. Nos dias seguintes, o tema simplesmente explodiu nas redes, como você pode ver nos dois gráficos abaixo, que mostram a evolução das visualizações e das interações (comentários, curtidas e compartilhamentos).

Os amiguinhos do Google também querem barrar o PL das Fake News

Bolsonaristas usam informações falsas contra PL Fake News levam vantagem redes sociais

O monitoramento aponta algo ainda mais importante: políticos e canais de extrema direita, vários deles frequentemente acusados de veicular fake news, têm dado as cartas no debate digital sobre a questão. Eles foram responsáveis por nada menos que 93% das 2.101.280 visualizações geradas por postagens que continham o termo “2630” entre 18 e 28 de abril.

As notícias do Pragmatismo são primeiramente publicadas no WhatsApp. Clique aqui para entrar no nosso grupo!

“Ficou bastante evidente que existe uma estratégia articulada, não apenas porque um conjunto grande de atores postou e compartilhou mensagens sobre o mesmo assunto ao mesmo tempo, mas também pela uniformização dessas mensagens”, observa a pesquisadora.

Uma marca dessas mensagens é a caracterização do texto apresentado pelo relator, deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), como “PL da Censura”. Os fatos não amparam tal afirmação. O projeto, que institui a “Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência”, é bem mais brando do que a legislação aprovada pela União Europeia nessa área. Entre outras coisas, a regulação em vigor na Europa obriga as redes sociais (como as acima citadas), os aplicativos de mensagens (WhatsApp, por exemplo) e as ferramentas de busca (Google e Bing, entre outras) a abrirem os seus algoritmos. Ou seja, a darem ampla publicidade aos critérios que utilizam para alavancar – ou não – os conteúdos que circulam em seu ambiente.

Apoiado pelas empresas jornalísticas e pela quase totalidade dos estudiosos de comunicação, o PL 2630 cria diversas regras para, como costuma defender o ministro do Supremo Alexandre de Moraes, garantir que “não seja feito no mundo virtual aquilo que é proibido no mundo real”. Exemplos: apologia da violência, incitação ao terrorismo, manifestações racistas ou LGBTfóbicas, crimes contra crianças e adolescentes e disseminação de informações falsas.

Diversas pesquisas indicam que a grande maioria da população – incluindo a maior parte dos eleitores bolsonaristas – é favorável a tais medidas disciplinadoras, sobretudo após o 8 de janeiro e a série de atentados ocorridos em escolas brasileiras. De modo competente, porém, a ofensiva contra o PL 2630 investe na pregação típica da extrema direita brasileira: a identificação dos adversários como inimigos da liberdade de expressão.

“Todos os perfis estão alinhados nesse discurso, usando fake news para compor a linha narrativa do campo conservador”, diz Letícia Capone. E o grande alcance obtido por tais publicações pode ter sido deliberadamente estimulado pelas plataformas digitais?

Saiba mais: Ataque das Big Techs ao PL das Fake News mostra que elas atuam como estado paralelo

“Grande parte do alcance é orgânico”, responde a pesquisadora, “e se deve a um trabalho que o campo conservador faz, de modo articulado, nas redes sociais já há algum tempo. E sabemos que as plataformas normalmente recomendam para os usuários aqueles conteúdos que mais viralizam. Se há algo além disso, não dá para dizer porque não há transparência sobre o funcionamento das recomendações de conteúdo feitas pelas plataformas”.

Coube ao deputado Deltan Dallagnol (Podemos-PR) criar a mais comentada fake news, atribuindo ao PL uma suposta censura a trechos da Bíblia. Apesar de a crítica ser inteiramente falsa, foi incorporada ao discurso de parte da bancada evangélica e levou Orlando Silva a incluir uma alteração no texto para evidenciar que seu texto assegura pleno respeito a crenças religiosas. Veja o post de Deltan no Twitter:

Bolsonaristas usam informações falsas contra PL Fake News levam vantagem redes sociais

Letícia Capone também chama atenção para a desarticulação dos atores governistas e daqueles que são favoráveis à aprovação do projeto: “No campo progressista, a narrativa de defesa do PL não aparece de forma coesa ou articulada, embora alguns temas relacionados apareçam com mais frequência. Não foram encontradas mensagens do presidente Lula sobre o assunto.”

Incrível é que a publicação mais compartilhada pelo campo democrático, ainda que para contestá-la, foi exatamente o post de Deltan no Twitter. Nesse campo político, não há mensagem-chave unificada. Veículos de imprensa favoráveis ao projeto tendem a enfatizar aspectos como a remuneração para produtores de jornalismo ou a discussão sobre o órgão regulador. Outros priorizam o debate sobre o próprio combate às fake news e ao discurso de ódio. A linha possivelmente de maior apelo popular, de proteção da infância e da adolescência, foi trilhada pelo Sleeping Giants, que defende a aprovação do que chama de “PL Salva-Vidas”.

Veja a seguir quais foram os canais que obtiveram, entre 18 e 28 de abril, maior alcance na discussão do PL das Fake News:

Bolsonaristas usam informações falsas contra PL Fake News levam vantagem redes sociais
Bolsonaristas usam informações falsas contra PL Fake News levam vantagem redes sociais

Acompanhe Pragmatismo Político no Instagram, Twitter e no Facebook

Recomendações

COMENTÁRIOS