Redação Pragmatismo
Armas de Fogo 03/Ago/2020 às 20:52 COMENTÁRIOS
Armas de Fogo

Caso de adolescente que morreu vítima de "disparo acidental" tem reviravolta

Publicado em 03 Ago, 2020 às 20h52

Perícia, imagens de circuito interno e depoimentos revelam que morte de adolescente de 14 anos em condomínio de luxo pode não ter sido decorrente de disparo acidental

isabele guimarães disparo acidental
Menina que atirou em Isabele é praticante de tiro (reprodução)

Isabele Guimarães Ramos, de 14 anos, pode não ter sido vítima de uma disparo de arma de fogo acidental. A adolescente morreu no último dia 12 de julho em um condomínio de luxo na cidade de Cuiabá (MT).

A conclusão de uma perícia técnica revelou suspeitas sobre a versão oficial de disparo acidental como a causa da morte da menina. “As pessoas envolvidas nesse homicídio, elas têm que pagar pelo que elas fizeram”, desabafou a mãe da vítima, Patrícia Hellen Guimarães Barros.

As novidades do caso foram reveladas em reportagem do programa Fantástico, da TV Globo, que mostrou várias contradições entre a versão apresentada, as conclusões da perícia e os depoimentos e circunstâncias envolvendo o fato.

Segundo a versão da adolescente autora do disparo, o tiro foi acidental. Ela segurava numa mão a arma e com a outra abaixou-se em direção ao chão para pegar um tênis, momento em que ocorreu o tiro, que acertou a cabeça da adolescente.

“Como ela disparou no rosto da minha filha, a uma curta distância, em linha reta, com todo esse discurso no depoimento dela de que ela teria se desequilibrado?”, questiona a mãe de Isabele.

Duas chamadas para o SAMU

Outro fato que chama a atenção é que houve duas chamadas para o Samu feitas por pessoas ligadas a autora do tiro, que também tem 14 anos, uma do pai e outra da irmã mais velha dela.

O pai disse que Isabele havia caído num dos banheiros da casa e havia perdido muito sangue. A irmã mais velha disse que havia ocorrido um disparo acidental. “Como uma pessoa com tal gabarito não consegue ouvir e distinguir que foi tiro ou não?”, questiona a mãe de Isabele.

O pai e a mãe da jovem autora do disparo têm autorização para ter armas em casa pois são CAC´s, sigla para colecionadores, atiradores e caçadores. O namorado da autora do disparo, de 16 anos, foi quem levou a arma para a casa da adolescente. Ele disse que não havia projétil no tambor da pistola usada no incidente.

Esse depoimento é questionado pelo advogado da família de Isabele, Hélio Nishiyama. “Se ele não alimentou a arma, a única que pode ter feito isso é a jovem que efetuou o disparo”, disse.

Troca de roupa

Outro fato que chamou a atenção da mãe de Isabele foi o fato de que a autora do disparo trocou de roupa após o disparo. “Como duas adolescentes tiveram ideia de tomar banho e trocar de roupa? Eu cheguei na casa dela de roupão. Eu estava chocada. Aquilo pareceu um teatro, uma encenação”, disse.

Em depoimento, a autora do disparo diz que não lembra o que fez logo após o tiro e nega ter tido qualquer discussão com a vítima.

Também chama a atenção o depoimento do enfermeiro do Samu que viu a mãe da autora do disparo mexendo em uma arma na mesa da sala e a alertou para que não fizesse aquilo, pois ali fazia parte da cena do crime. “Houve grave falha no isolamento do local do crime”, diz o advogado da família de Isabele.

Segundo a reportagem, mais de 20 pessoas já prestaram depoimento à polícia. Os celulares da autora do disparo e do namorado estão sendo periciados.

Praticante de tiro

A adolescente que atirou em Isabele é praticante de tiro esportivo na modalidade Hangdung-Light. De acordo com vídeos publicado no perfil ‘Team Molina’, dedicado a praticantes do esporte, as imagens exibiam a adolescente durante um treinamento em um campo de tiros, no dia 23 de junho.

Nas imagens, é possível ver a habilidade da jovem, que atira e em seguida troca o cartucho da arma. Após a sequência de tiros, o treinador mostra o alvo, onde ela acertou principalmente no centro e no campo superior. Ele elogia o resultado depois.

Fiança

Nesta segunda-feira (3), o juiz João Bosco Soares da Silva, da Décima Vara Criminal, subiu de R$ 10 mil para R$ 52,2 mil o valor da fiança para o pai da adolescente que matou Isabele.

A princípio, o empresário havia sido preso em flagrante por posse ilegal de arma e foi solto após pagar fiança de R$ 1 mil. Depois, a Justiça havia imposto, a pedido da família da vítima, o valor de R$ 209 mil, que acabou derrubada alguns dias depois pelo desembargador do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT), Rondon Bassil Dower Filho.

Na recente decisão, o juiz aceitou o argumento da defesa do empresário a respeito da situação financeira dele. “O investigado é empresário e está passando por severa dificuldade de liquidez financeira em período de pandemia, o que está afetando a todos. Como comprova a documentação anexa, a empresa do investigado no ano de 2020 faturou menos de um terço do que havia faturado até julho do ano passado, sendo que no corrente ano acumula prejuízo de R$ 636 mil”, consta trecho da decisão.

A defesa também declarou que o empresário contraiu dois empréstimos bancários no valor total de R$ 500 mil. “Continuo a sustentar, também, que o valor da fiança fixado pela autoridade policial, no importe de R$ 1 mil, é irrisório, incompatível com a realidade financeira do averiguado que, em sua manifestação reconheceu, ser empresário, residente em condomínio de alto padrão, proprietário de automóveis, incluindo carro esporte importado, e também de aeronave, que alega estar fora de uso, em razão de avarias”, lembrou o juiz.

O magistrado também salientou que o conjunto de armas encontrado na casa onde o crime ocorreu já evidencia a ‘capacidade econômica e financeira’ dele. Havia sete armas na casa no momento do crime.

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