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Violência 16/Abr/2019 às 15:00 COMENTÁRIOS
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A desculpa tardia de José Padilha por ter venerado Sergio Moro

Publicado em 16 Abr, 2019 às 15h00

Um dos responsáveis por vestir em Sergio Moro o manto da ética e da insuspeição, diretor José Padilha admite, tardiamente, que errou e foi enganado pelo ministro. Padilha é o criador da série ‘O Mecanismo’

desculpa José Padilha por ter venerado Sergio Moro
José Padilha e Sérgio Moro (Imagens: Daryan Dornelles | Secom)

Jornal GGN

José Padilha é cineasta, criador e diretor da série de televisão brasileira ‘O Mecanismo’, que enaltece os feitos de Sergio Moro e da equipe da Lava Jato, bem como apertou mais um parafuso em torno da demonização do PT.

Padilha agora assina artigo intitulado ‘O ministro antiFalcone’, na Folha, afirmando que o pacote anticrime de Moro vai fortalecer milícias e que ele se enganou com o personagem.

Padilha enumera fatos que Sergio Moro sabe, tem que saber. Coloca o que são as milícias, organizações criminosas controladas por policiais civis e militares corruptos e violentos. Que esses policiais utilizam o aparato do Estado para expulsar o tráfico e dominar as favelas. Que cobram por proteção e dominam atividades econômicas importantes nas áreas que controlam. Que decidem quem é eleito e para isso decidem quem entra e financiam campanhas. ​E que milicianos e políticos ligados a eles foram eleitos para cargos legislativos e executivos em todas as esferas, inclusive a federal.

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E aponta que Moro, mesmo sabendo tudo isso, declarou que as milícias representam a mesma coisa que facções criminosas dentro das prisões, como se fossem do varejo do tráfico de drogas.

E diz que sempre apoiou a Lava Jato e, inclusive, chamou Moro de ‘samurai ronin’, em alusão à ‘independência política’ que ele acreditava ter o juiz. E, agora, quer reconhecer o erro que cometeu.

E considera erro por não ver outra explicação possível, já que Moro finge não saber o que é milícia pois perdeu sua independência e hoje trabalha para a família Bolsonaro. E aponta o fato de que Flávio Bolsonaro não foi o senador mais votado em 74 das 76 seções eleitorais de Rio das Pedras por acaso.

Acredita Padilha que o pacote anticrime de Moro, enviado ao Congresso, é razoável no quesito combate à corrupção corporativa e política, mas é um absurdo no que se refere à luta contra as milícias. Vai mais longe, dizendo que o pacote é pró-milícia, posto que facilita a violência policial.

Saiba mais: Sergio Moro fica descomposto após ouvir frase de Marcelo Freixo sobre as milícias

Daí enumera fatos que Moro saberia se tivesse estudado os autos de resistência no Brasil. Primeiro que, só no Rio, policiais em serviço matam alguém a cada seis horas. Que a versão apresentada por tais policiais costumam ser a única fonte de informações nos inquéritos porventura instaurados. Que, já que o policial tem fé pública, a sua versão ‘embasa a excludente de ilicitude’, evitando prisão em flagrante. Que a Polícia Civil raramente escuta testemunhas ou realiza perícias, e tem mania de desfazer as cenas do crime para prestar socorro às vítimas, apesar de a maioria morrer instantaneamente em decorrência de tiros no tórax. Que desde 1969, quando a ditadura editou a ordem de serviço 803, que impede a prisão de policiais em ‘auto de resistência’, apenas 2% dos casos são denunciados e menos ainda chegam ao Tribunal do Júri.

Caso o pacote de Moro seja aprovado, esse número vai para o zero, já que prevê, para justificar a legítima defesa, que o policial diga que estava sob ‘medo, surpresa ou violenta emoção’, ou então que era ‘ação para prevenir injusta e iminente agressão’.

Padilha continua dizendo que o hábito dos policiais milicianos de plantar armas e drogas nos corpos das vítimas para justificar execuções é tão comum que deu origem ao jargão: todo bom miliciano carrega consigo um ‘kit bandido’. E, caso aprovado o pacote de Moro, nem de ‘kit bandido’ os milicianos precisarão a partir daí.

O cineasta diz que Moro nunca sofreu atentados ou lidou com a Máfia, mas que o juiz Giovanni Falcone, em quem o atual ministro diz se inspirar, foi morto aos 53 anos de idade por bomba colocada pela máfia em seu caminho. Além dele morreram sua mulher e seguranças. E discorre sobre a operação ‘Maxiprocesso’ que prendeu mafiosos na década de 1980 e deu origem à operação ‘Mãos Limpas’.

E finaliza: “Ora, no contexto brasileiro, é obvio que o pacote anticrime de Moro vai estimular a violência policial, o crescimento das milícias e sua influência política. Sergio Moro foi de “samurai ronin” a “antiFalcone”. Seu pacote anticorrupção é, também, um pacote pró-máfia”.

Leia o artigo na íntegra aqui.

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