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Mulheres violadas 23/Nov/2018 às 15:53 COMENTÁRIOS
Mulheres violadas

As peças que faltam na história do empresário que espancava mulheres

Publicado em 23 Nov, 2018 às 15h53

Faltam muitas peças na história do empresário Sérgio Thompson Flores. Não se trata de episódio banal. Thompson Flores controla uma das empresas-chave do processo de eleição eletrônica no Brasil e do sistema de apuração de passagens de ônibus no Rio de Janeiro

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Sérgio Thompson Flores (reprodução)

Luis Nassif, Jornal GGN

Faltam muitas peças na história do empresário Sérgio Thompson Flores que agredia a esposa Cristiane Machado, atriz da Globo. Na edição de hoje de O Globo, há informações de que o comportamento de Thompson Flores era recorrente .

Não se trata de episódio banal. Thompson Flores controla uma das empresas-chave do processo de eleição eletrônica no Brasil e do sistema de apuação de passagens de ônibus no Rio de Janeiro, alvo da Operação .

Muitos anos atrás, aliou-se ao empresário Nelson Tanure, que se associou à combalida Gazeta Mercantil. Depois, tentou uma tacada, de ficar com o controle da empresa. Foi uma briga empresarial pesada, em que ocorreram até denúncias de invasões de domicílios. Thompson Flores acabou derrotado pela maior tarimba de Tanure, e partiu para outras aventuras.

No auge da bolha do etanol, montou um fundo na Bolsa de Londres, o Infinity Bio-Energy, fundo destinado a adquirir usinas de açúcar no Brasil e a montar parcerias de negócio. Uma dessas parcerias ocorreu com o então fundador da Brenco – Brazil Renewable Energy Company, Henri Phillipe Reichstul, ex-presidente da Petrobras do governo Fernando Henrique Cardoso. Entre 2006 e 2007 adquiriu oito usinas inviáveis, devido à distância dos oleodutos e dos centros de consumo. O fundo quebrou.

Thompson Flores some por algum tempo do universo empresarial, e ressurge adquirindo a Modulo Security Solutions S/A, empresa responsável pela segurança das urnas eletrônicas, beneficiada por um histórico de favorecimento nas licitações das urnas de 2000 a 2013.

Sempre houve mistério sobre os interesses despertados pela Módulo. Antes de Thompson Flores, ela foi adquirida por Wilson Brumel, ex-presidente da Usiminas, ex-Secretário no governo Aécio Neves e integrante do grupo de apoio a Aécio e Antonio Anastasia em Minas Gerais.

Além da Módulo, outra empresa, a Probank S/A, foi sucessivamente beneficiada por prorrogações nos contratos com o TSE. Em 2013, quando entrou em processo de liquidação, a Probank era de propriedade do mesmo Brumer, que vendeu a Módulo para Thompson Flores.

O nome da Módulo aparece em outro episódio polêmico, o esquema da Fetranspor, bancada por empresários de ônibus, e delatado em depoimentos de doleiros à Lava Jato, na Operação Ponto Final.

O esquema funcionava assim:

1. Havia um processamento eletrônico das passagens dos ônibus do Rio de Janeiro.

2. Em cima desse levantamento, era calculado o valor do subsídio bancado pela Prefeitura do Rio de Janeiro. Quanto mais passagens processadas, maior o valor do subsídio.

3. Havia duas maneiras de montar um esquema de corrupção: ou superfaturar o valor da passagem; e/ou superfaturar a quantidade de passagens utilizadas. E quem calculava a quantidade de passagens emitidas era justamente a Módulo Solutions, de Thompson Flores.

A Operação Ponto Final, autorizada pelo juiz Marcelo Bretas, expediu nove mandados de prisão preventiva e três de prisão temporárias. Foram detidos o presidente da Federação das Empresas de Transportes do Estado (Fetranspor), Lélis Teixeira, o ex-presidente do Departamento de Transportes Rodoviários, que fiscaliza o setor, Rogério Onofre, e Marcelo Traça Gonçalves, presidente do Sindicato de Empresas de Transporte Rodoviário do Rio de Janeiro (Setrerj).

Nos desdobramentos da operação, foram presos deputados estaduais, conselheiros do Tribunal de Contas do Estado, secretários do governo Sérgio Cabral.

O nome da Módulo desaparece da cobertura e sequer aparece nos autos públicos da operação.

Apesar da boa reportagem de O Globo garantir que ‘Lava Jato abre a caixinha preta da Fetranspor’, não abriu. O processamento das passagens dos ônibus não teve desdobramentos. Nem na Lava Jato, nem na mídia. E a reportagem informo que ‘a “caixinha da Fetranspor”, uma das suspeitas mais longevas do submundo da política fluminense’.

Há duas hipóteses para a falta de ação da Lava Jato contra Thompson Flores:

1. Ter constatado que não havia irregularidades no cômputo das passagens. A hipótese é frágil. Para ter certeza sobre isso, no mínimo deveria ocorrer a investigação e o inquérito. Mas aparentemente nada foi feito.

2. O parentesco com o principal avalista da Lava Jato no Paraná – seu primo Carlos Eduardo Thompson Flores, presidente do TRF 4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região). A assessoria do TRF4 esclarece que não tem parentesco direto e o desembargador não conhece Sergio Thompson Flores.

Com muito menos indícios de irregularidade, a Lava Jato no Rio de Janeiro ordenou a condução coercitiva de 40 funcionários do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social).

Links para consulta

Atriz instalou câmeras escondidas para provar perigo de ser morta pelo marido

Xadrez do fator urna eletrônica nas próximas eleições, por Luis Nassif

Como se montam as fraudes eleitorais

Sobre os Thompson Flores

Segundo a Wikipedia, Carlos Thompson-Flores (1911-2011) foi Ministro do Supremo Tribunal Federal no governo Costa e Silva. É avô de Carlos Thompson-Flores, atual presidente do TRF4.

Segundo O Globo, Sérgio Schiler Thompson-Flores – da Módulo – é filho do diplomata Sérgio Thompson Flores. O pai é primo de Francisco Thompson-Flores. E ambos são netos de Carlos Thompson Flores (clique aqui).

Segundo a pagina do TRF4, Carlos Thompson Flores Lenz, presidente do TRF4, é neto de Carlos Thompson Flores, o Ministro do STF (clique aqui).

No Livro Genealogias Políticas do Judiciário (clique aqui), na relação de parantes de Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz (o presidente do TRF4) é mencionado o embaixador Francisco Thompson Flores, o parente de Sérgio Schiler Thompson Flores, citado pelo Globo.

Ou seja, são parentes, sim. Mas não há informações mais precisas sobre ligação pessoal entre ambos.

Quanto à Módulo Security Solutions, há documentação mostrando a participação de Sérgio na sociedade (clique aqui)

Não há nenhuma explicação sobre o fato da Módulo não ser investigada. Mesmo com as discrepâncias na apresentação de contas pelas empresas de ônibus (clique aqui).

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