Redação Pragmatismo
Racismo não 04/Jul/2018 às 15:00 COMENTÁRIOS
Racismo não

Patrocinadores de youtuber racista tinham a obrigação de conhecê-lo melhor

Publicado em 04 Jul, 2018 às 15h00

Histórico revela centenas de mensagens do youtuber atacando não só negros, como também mulheres, homossexuais, gordos e idosos. Grandes marcas contrataram o jovem sem checar direito quem ele era ou o que dizia

Patrocinadores Júlio Cocielo youtuber racista tinham a obrigação de conhecê-lo melhor

Habituados a usar estrelas da TV em suas campanhas, os grandes anunciantes e suas agências de propaganda foram pegos de surpresa com a súbita ascensão dos influenciadores digitais.

Quem são esses garotos que o meu filho adora, mas de quem eu nunca ouvi falar?”, perguntaram-se os publicitários. “Como foi que eles conseguiram tantos seguidores em tão pouco tempo? Como se escreve Whindersson e Kéfera?”.

Logo surgiram empresas especializadas em cuidar das carreiras desses novos fenômenos da internet. Youtubers e instagrammers passaram a ser oferecidos no mercado como capazes de vender qualquer coisa ao público jovem.

Preocupadas em não ficar para trás, as marcas aderiram em peso. Contrataram muitos desses influenciadores para anúncios e promoções, sem checar direito quem eram ou o que diziam.

E isso, numa época em que basta uma piada preconceituosa para destruir uma carreira. Que o digam William Waack ou Roseanne Barr.

Júlio Cocielo fez muito mais do que uma única gracinha racista. O infame tuíte que o influenciador postou no sábado (30) —“mbappé conseguiria fazer uns arrastão top hein (sic)”, em referência ao jogador francês Kylian Mbappé, que é negro— está longe de ser um caso isolado.

Patrocinadores Júlio Cocielo youtuber racista tinham a obrigação de conhecê-lo melhor

Saiba mais:
Marcas rompem com youtuber brasileiro que sugeriu “exterminar negros”
Esposa de youtuber acusado de racismo já se fantasiou de escrava

Havia milhares de outros em seu perfil no Twitter, que foram apagados depois que o escândalo estourou. Cerca de 50 mil, segundo algumas fontes, atacando não só negros, como também mulheres, homossexuais, gordos e idosos.

Tarde demais. Muitos desses tuítes foram salvos por internautas, e são mesmo de virar o estômago. Coisas como “Porque o Kinder ovo é Preto por fora e Branco por dentro?… porque se ele fosse Preto por dentro o brinquedinho seria roubado, KKK (sic)”. Ou “nada contra os negros, tirando a melanina…”.

Patrocinadores Júlio Cocielo youtuber racista tinham a obrigação de conhecê-lo melhor
Patrocinadores Júlio Cocielo youtuber racista tinham a obrigação de conhecê-lo melhor

Cocielo postou um textão pedindo desculpas, e muitos de seus amigos e fãs saíram em sua defesa. Mas os milhares de tuítes descartados provam que o rapaz não cometeu um mero passo em falso. Além do mais, ele tem 25 anos: não se trata de um adolescente irresponsável.

Há muito tempo que Cocielo vinha falando barbaridades, sem nenhum prejuízo para sua carreira. Mas agora a conta chegou. Os patrocinadores do youtuber, atuais e passados – uma lista que inclui Coca-Cola, McDonald’s, Itaú, Adidas e Submarino – repudiaram sua atitude. Alguns chegaram a tirar comerciais do ar. Todos juraram ser contra qualquer tipo de discriminação.

É pouco. Por que nenhum deles se deu ao trabalho de conhecer melhor quem escolheram para representá-los?

A publicidade ainda não se deu conta de que os tempos mudaram. As sensibilidades estão mais aguçadas, para o bem e para o mal. O que era engraçado uma década atrás, agora é pecado mortal. E não são só os consumidores que estão respondendo na lata: são os cidadãos.

O caso Júlio Cocielo vai servir de parâmetro e divisor de águas. Os anunciantes ficarão mais cautelosos – e, tomara, os influenciadores também.

Tony Goes, FolhaPress

Acompanhe Pragmatismo Político no Twitter e no Facebook

Recomendações

COMENTÁRIOS