Redação Pragmatismo
Barbárie 24/Mai/2018 às 22:04 COMENTÁRIOS
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Versão de pastor sobre a morte dos filhos é "fantasiosa", diz secretário

Publicado em 24 Mai, 2018 às 22h04

Investigação derruba versão de pastor para mortes de filho e enteado. Além de alterar cena do crime e inventar história mirabolante, George Alves chegou a raspar a cabeça para ocultar que os cabelos não foram queimados. Religioso realizou culto evangélico um dia depois de estuprar os meninos

Pastor George Alves
Imagem: Pastor George Alves antes e depois de raspar a cabeça

As justificativas de George Alves para as mortes do filho de 3 anos e do enteado de 6 não se sustentam quando confrontadas com as investigações e os laudos periciais.

Segundo os investigadores da Polícia Civil, o pastor evangélico estuprou os meninos antes de queimá-los vivos. O crime aconteceu em Linhares, na região Norte do Espírito Santo, no dia 21 de abril.

Antes de ser preso, George Alves afirmou, em depoimento à polícia e em entrevistas à imprensa, que estava dormindo em outro cômodo quando o fogo começou no quarto das crianças.

O pastor disse que percebeu o fogo através da babá eletrônica, que estava ligada, o que indica que o fogo teria começado de forma acidental: “Por volta de umas 2h da manhã, escutei a babá eletrônica, os gritos deles, vi o fogo muito grande através da babá eletrônica, corri desesperado, e a casa já não tinha energia”.

O secretário de Segurança Pública do Espírito Santo, Nylton Rodrigues, afirmou que a versão do pastor é “fantasiosa e mentirosa”.

“O pastor não tinha nenhuma queimadura, ele raspou a cabeça para ocultar que os cabelos não foram queimados, a barba não havia vestígios de queimaduras. Então, essas características somadas à versão fantasiosa dele, mentirosa, logo na primeira semana, acendeu um sinal de alerta em todos os policiais”, disse o secretário.

Contradições

Confira as contradições dos depoimentos do pastor George Alves apontadas pela investigação:

— De acordo com o Corpo de Bombeiros, se o fogo tivesse sido acidental, a partir do ar-condicionado, por exemplo, não haveria tanta destruição. Isso porque a janela e a porta estavam fechadas, ou seja, não havia ventilação suficiente para alimentar o fogo de maneira tão rápida.

— Não foram encontrados vestígios de curto-circuito nem nos equipamentos (ar condicionado, reator, babá eletrônica e esterelizador), nem nas fiações. Há, ainda, a prova de que um combustível acelerador do incêndio foi detectado nas amostras recolhidas pelos bombeiros.

— O pastor falou que colocou as mãos na cama que estava pegando fogo para tentar salvar os filhos. Segundo os investigadores, a declaração é mentirosa: “Se o fogo passou do ar-condicionado para a cama e a cama estava queimando, como ele colocou as mãos na cama? E a mão dele não tinha nenhuma queimadura. Ele já tinha raspado o cabelo, possivelmente para esconder que o cabelo não havia sido queimado. Mas ele não tinha nenhuma queimadura no rosto e a barba estava farta”.

— Os componentes da babá eletrônica ficaram bem preservados, incompatível para ser o foco inicial.

— Depois do crime, o pastor saiu de casa e ficou andando de um lado para o outro, sem pedir socorro.

— Testemunhas ouviram o choro e manifestações de socorro quando as crianças estavam sendo agredidas, minutos antes do incêndio.

— As testemunhas que chegaram primeiro ao local contaram à polícia que arrombaram o portão com as próprias mãos.

— As vítimas foram encontradas no foco inicial do incêndio, quando, normalmente, a vítima morre tentando fugir do foco das chamas.

— Os laudos da perícia concluíram que as crianças foram sexualmente abusadas.

— A polícia encontrou sangue na casa onde aconteceu incêndio, próximo a uma escrivaninha e ao box do banheiro.

Culto evangélico

O comportamento do pastor, que deu um culto e foi á uma lanchonete no dia seguinte ao incêndio, também chamou atenção da polícia. A atuação dele durante as investigações também causaram estranheza.

Segundo o tenente coronel Ferrari, George seria “poupado” de participar das perícias iniciais, quando as autoridades refazem a cena do incêndio para tentar identificar como tudo aconteceu. Mesmo assim, ele apareceu no local.

“Eu precisava remontar como era o cômodo antes de queimar e eu fui buscar amigos e parentes que pudessem me dizer o que tinha no quarto. Para minha surpresa, ele apareceu lá dois dias depois, voluntariamente, para dizer o que tinha no cômodo. Isso me estranhou”, falou Ferrari.

O pastor vai responder por duplo homicídio triplamente qualificado e duplo estupro de vulnerável. A soma máxima das penas é de 126 anos.

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