Redação Pragmatismo
Rio de Janeiro 05/Mar/2018 às 15:58 COMENTÁRIOS
Rio de Janeiro

Bailes na 1ª intervenção já mostravam a hipocrisia em lidar com a violência no Rio

Publicado em 05 Mar, 2018 às 15h58

Bailes na 1ª intervenção militar já mostravam a hipocrisia em lidar com a violência no Rio. Nada é mais cristalino para explicar como o problema da violência é tratado com irresponsabilidade e demagogia

bailes funk intervenção hipocrisia violência no Rio

Augusto Diniz, Jornal GGN

Foi em meados de 1994 que Rômulo Costa arrendou no canal CNT, no Rio, um espaço para apresentar o programa “O melhor do Furacão 2000”. Ali, o funk deu o salto definitivo para conquistar o asfalto.

Numa sociedade altamente conectada pela televisão, o DJ teve faro para fazer o gênero tomar conta de vez da cidade e ganhar público por meio de um eficiente meio de divulgação. A audiência do programa cresceu rapidamente.

Rômulo não era amador nos veículos de comunicação. Muito antes já tinha levado sua equipe de som ao rádio. Mas a TV deu impulso final para que o funk conquistasse as ruas (antes, o ritmo ainda se concentrava no subúrbio do Rio e nos morros das zonas Norte e Oeste da capital), com o envolvimento em definitivo da indústria fonográfica e da mídia.

Isso foi o passo para que bailes na Zona Sul do Rio fossem criados para atender uma leva de jovens de classes média e alta interessados em conhecer a batida do funk. As festas no Morro Chapéu Mangueira, no Leme, foram uma das mais conhecidas – entronizadas no filme “Tropa de Elite”.

A primeira intervenção militar oficial no Rio desde a redemocratização ocorreu em novembro de 1994, quando o segundo turno das eleições ocorreu sob armas na cidade. A chamada “Operação Rio”, marcada pelo fracasso, teve uma de suas primeiras ações justamente no morro Chapéu Mangueira.

Relatos da época apontam uma incursão rápida, mas estratégica do ponto de vista de marketing, já que além de ficar na parte nobre da cidade, era ponto forte de venda de drogas.

No livro “Operação Rio – relatos de uma guerra brasileira” (editora Scritta, 1995), da jornalista que cobriu de perto a intervenção militar pelo jornal O Estado de S. Paulo, Juliana Resende, nada é mais cristalino para explicar como o problema da violência é tratado com hipocrisia.

Na obra, ela narra a frequência com que o asfalto participava dos bailes e compravam e consumiam drogas deliberadamente e meio ao som alto. O trânsito no morro Chapéu Mangueira continuou no ano seguinte, com suas festas, mesmo depois do fim da operação militar.

Não à toa o filme Tropa de Elite reproduziu esse ambiente, que foi muito conhecido no Rio na segunda metade da década de 1990 – e que é menção quase obrigatória de como o asfalto interage com o morro (o funk foi apenas uma motivação e envolvido inadvertidamente), de como as dissimulações e fingimentos acontecem entre classes e da enorme dificuldade dos agentes públicos em lidar com o problema de frente, gênese que explica boa parte da violência no Rio.

Leia também:
Favelas repudiam intervenção no Rio de Janeiro decretada por Temer
Nas favelas, intervenção militar espalha medo de violações e direitos
As diferenças entre o PCC e o CV e a ofensiva dos paulistas no Rio de Janeiro
Como a ditadura militar agia nas favelas do Rio de Janeiro

Acompanhe Pragmatismo Político no Twitter e no Facebook

Recomendações

COMENTÁRIOS