Rio de Janeiro

Favelas repudiam intervenção no Rio de Janeiro decretada por Temer

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Federação de Favelas do Rio repudia intervenção federal decretada por Temer. Entidade indica necessidade de intervenção do Estado em políticas públicas que promovam cidadania e desenvolvimento econômico das comunidades, "que tragam a vida e não a morte"

RBA

A Federação das Associações de Favelas do Estado do Rio de Janeiro (Faferj) divulgou nota pública, neste sábado (17), em repúdio à intervenção militar na esfera da segurança pública, conforme decretado pelo governo de Michel Temer, na sexta-feira anterior. A entidade lembra que foi criada para proteger as populações vulneráveis dos morros fluminenses e cariocas ainda nos anos 1960, aponta as várias versões para intervenções truculentas do Estado nas comunidades, como as UPPs e reivindica “intervenção social“, em vez de militar, com políticas públicas voltadas para o desenvolvimento humano e econômico das favelas e seus moradores. “Precisamos de uma intervenção que nos traga a vida e não a morte“, diz a nota, reproduzida abaixo na íntegra.

A Faferj afirma que as Forças Armadas deveriam ser incluídas nas intervenções sociais junto às comunidades, em vez de desviadas de suas verdadeiras funções e passar a fazer o papel de polícia, sem ser treinada para este fim. Lembra que todas as intervenções militares já tentadas como solução para a segurança pública no Rio falharam e reafirma que, ao contrário do preconceituoso senso comum, as favelas são também formadas em absoluta maioria por gente de bem. “A favela nunca foi e nem jamais será uma área hostil. Somos compostos de homens e mulheres trabalhadoras que, com muita garra e dignidade, lutam pelo pão de cada dia. Somos a força de trabalho que move a cidade e o país.

Leia a nota:

Nota de esclarecimento a população sobre a intervenção militar em nosso Estado.

A Federação de Favelas do Rio (Faferj) é uma instituição sem fins lucrativos fundada em 1963 para lutar contra as remoções do governo Lacerda e a implantação da ditadura militar no Brasil, em 1964. Dessa forma, alertamos que essa nova intervenção militar não começou ontem (sexta (16)). Anteriormente tivemos as UPP’s (Unidade de Polícia Pacificadora), as operações respaldadas sob a GLO ( Garantia da Lei e da Ordem) e PLC 464/2016, que passa para a Justiça Militar a responsabilidade de julgar as violações cometidas pelos integrantes das Forças Armadas em suas intervenções.

Nesse processo, vale salientar que os investimentos em militarização superam os investimentos em políticas sociais. A ocupação da Maré custou 1,7 milhões de reais por dia perdurando por 14 meses envolvendo 2.500 militares, tanques de guerra, helicópteros, viaturas, sem apresentar resultados efetivos, tanto para as comunidades, quanto para o país. Em contrapartida, nos últimos 6 anos foram investidos apenas 300 milhões de reais em políticas públicas voltadas para o desenvolvimento social.

Apesar de todo esse aporte financeiro na intervenção militar na Maré, podemos observar que essa ação foi totalmente ineficaz, pois lá as facções criminosas ainda lutam pelo controle da região, oprimindo os trabalhadores e trabalhadoras que lá vivem.

O que a favela precisa na verdade é de uma intervenção social, que inclusive contaria com a participação das Forças Armadas. Precisamos de escolas e creches, hospitais, projetos de geração de emprego e renda e políticas voltadas principalmente para juventude. Precisamos de uma intervenção que nos traga a vida e não a morte. O Exército é uma tropa treinada para matar e atuar em tempos de guerra. As favelas nunca declararam guerra a ninguém.

A favela nunca foi e nem jamais será uma área hostil. Somos compostos de homens e mulheres trabalhadoras que, com muita garra e dignidade, lutam pelo pão de cada dia. Somos a força de trabalho que move a cidade e o país. A ocupação de uma parcela das comunidades por marginais ocorre justamente pela ausência do Estado em políticas públicas que possam garantir o desenvolvimento de nossas favelas.

Nos últimos 54 anos, a Faferj vem lutando por democracia nas favelas do Rio. Lá a ditadura ainda não acabou. Ainda vemos a polícia invadindo residências sem mandados, pessoas sendo presas arbitrariamente ou até mesmo desaparecimentos, como o caso Amarildo, que repercutiu mundialmente.

Para finalizar, gostaríamos de reafirmar que as intervenções militares são caras, longas, e ineficazes, até mesmo do ponto de vista da segurança pública. Sugerimos que essas tropas sejam movimentadas para patrulharem as fronteiras do Brasil, pois é de conhecimento notório que é de lá que chegam as armas e as drogas que alimentam o comércio varejista de entorpecentes nas comunidades cariocas. Sugerimos também que se faça uma grande intervenção social nas favelas do Rio de Janeiro.

Precisamos apenas de uma oportunidade para provar que somos a solução que o Brasil tanto precisa para se desenvolver e tornar-se um país mais justo para todos e todas.

Favela é potência! Favela é resistência!

Federação das Associações de Favelas do Estado do Rio de Janeiro.

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