Redação Pragmatismo
Justiça 23/Mai/2017 às 15:35 COMENTÁRIOS
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Os detalhes de como a Lava Jato protegeu Aécio Neves

Publicado em 23 Mai, 2017 às 15h35

Jornalista revela detalhes de como o senador Aécio Neves (PSDB-MG) estava sendo protegido pela Força Tarefa da Lava Jato diante de tantas acusações ao longo dos últimos anos. Mesmo delegados da Polícia Federal não escondiam seu apoio ao tucano nas redes sociais

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Aécio Neves (reprodução)

Marcelo Auler

Em 18 de outubro de 2014, no Facebook, acima de diversas fotos do candidato à presidência da República pelo PSDB, Aécio Neves, rodeado de vistosas mulheres, o delegado de Polícia Federal, Igor Romário de Paulo, chefe da Delegacia Regional do Combate ao Crime Organizado (DRCOR) no Paraná, apontado pelo agente Dalmey Fernando Werlang como autor da ordem para instalar um grampo ilegal na cela que receberia o doleiro Alberto Yousseff, postou em um grupo fechado:

Este é o cara!”.

Leia também: Delegado da Lava Jato que apoiou Aécio Neves quer censurar a internet

Dias depois, às vésperas do segundo turno que reelegeu Dilma Rousseff, do PT, o delegado federal encarregado das investigações da Operação Lava Jato, Márcio Anselmo Adriano, comentou a notícia na qual Luiz Inácio Lula da Silva dizia que Aécio não era “homem sério e de respeito”. Márcio Anselmo escreveu:

O que é ser homem sério e de respeito? Depende da concepção de cada um. Para Lula realmente Aécio não deve ser”.

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Não demorou muito e o delegado Mauricio Moscardi Grillo, que em sindicância concluiu que o grampo na cela de Alberto Yousseff era inoperante, apesar de ele ter registrado 263 horas e 41 minutos de conversas – leia em Armação Federal II: “indisciplinas” do DPF Moscardi -, também deixou sua digital na campanha de Aécio. Abaixo do comentário de Márcio Anselmo, postou uma propaganda eleitoral do tucano segundo a qual Lula e Dilma sabiam de toda a corrupção do esquema da Petrobras, acrescentando:

Acorda!”.

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As postagens vieram a público em 13 de novembro daquele ano, já com a eleição definida. Foram reveladas na reportagem de Júlia Duailibi, em O Estado de S. Paulo: Delegados da Lava Jato exaltam Aécio e atacam PT na rede.

Elas, mais do que possíveis transgressões disciplinares previstas na Lei 4878-65 (regime jurídico dos funcionários policiais civis da União e do Distrito Federal), demonstraram que os responsáveis pela Operação Lava Jato tinham um lado político definido. Não apenas torciam por um candidato. Faziam propaganda do mesmo.

Muito provavelmente, por conta desta falta de isenção a Força Tarefa da Lava Jato em Curitiba jamais descobriu os pedidos de dinheiro, via caixa dois, feitos a empresários por Aécio Neves e/ou pela sua irmã, Andréa Cunha Neves, atualmente presa.

Não foram apenas os delegados que se denunciaram a simpatia pelo senador tucano. O próprio juiz do caso, Sérgio Moro, como registraram os fotógrafos, não se furtou em demonstrar intimidades ao cochichar com Aécio, no evento festivo em que a revista Isto É – que faz questão de se intitular Independente -, premiou o presidente golpista como “Brasileiro do Ano”, em dezembro de 2016, no Citibank Hall, na Zona Sul de São Paulo.

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Sérgio Moro em companhia de Aécio Neves e Michel Temer (Imagem: Pragmatismo Político)

A foto, queiram ou não os retratados, não revela um simples diálogo protocolar de um juiz com um senador no exercício de seu mandato. Deixa transparecer algo parecido com uma conversa entre amigos. Ou prováveis mexericos que outrora se dizia serem da “Candinha”.

Da mesma forma como não pareceu mero cumprimento protocolar o aperto de mão com largo sorriso no rosto com que Moro cumprimentou o presidente golpista Temer.

Foi em 19 de abril passado, na solenidade no Quartel General do Exército, em Brasília, ao receber uma condecoração militar. Ao que parece, o juiz, há muito apontado como símbolo da moralidade e honestidade no país, pouco se importou com o fato de exatamente uma semana antes, em 11 de abril, Temer ter aparecido em dois pedidos de inquérito encaminhados pela Procuradoria-Geral da República ao Supremo Tribunal Federal (STF). Foram gerados a partir das delações dos executivos da Odebrecht.

É certo que, na época, não houve pedido de investigação contra o presidente por conta da imunidade que o cargo lhe reserva para possíveis crimes cometidos antes do exercício do mandato. Mas, desde que as delações dos executivos da Odebrecht começaram a circular, todos ficaram sabendo que o presidente golpista aparecia em episódios cujas conversas giravam em torno de Caixa 2 ou pedidos de propina, puro e simplesmente.

O presidente que Moro cumprimentou com largo sorriso no rosto é ainda o mesmo que levou ao cargo de ministro – portanto, garantiu o foro especial que o juiz condena -, oito políticos envolvidos em possíveis casos de corrupção, como demonstram investigações e/ou processos em curso no STF e também na Vara Federal de Curitiba presidida por Moro.

Apesar de todas estas evidências, a Força Tarefa da Lava Jato, que durante os últimos três anos fez e desfez, não se importou com estes casos. Esteve mais preocupada em criar teses mirabolantes, baseadas não em provas, mas em convicções, através das quais acusam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de “estruturar, orientar e comandar esquema ilícito de pagamento de propina em benefício de partidos políticos, políticos e funcionários públicos com a nomeação, enquanto presidente da República, de diretores da Petrobras orientados para a prática de crimes em benefício das empreiteiras Odebrecht e OAS”.

Provas? Não foram encontradas, mas está ai um apartamento que um dia a família pode ter pensado em comprar. Na prática, jamais houve registro de mudança na escritura, tampouco foi usado por Lula e seus familiares. Isto, porém, não importa.

Restou ainda o sítio em Atibaia, pertencente à família de Jacó Bittar, velho companheiro de sindicalismo do ex-presidente,. Este sim, frequentado pela família Lula da Silva. Ali, a corrupção que tentam impor ao ex-presidente consiste “em obras e benfeitorias (…) custeadas ocultamente pelas empresas Schahin, Odebrecht e OAS”. Ou seja, as empreiteiras que se beneficiaram de contratos na gestão de Lula, retribuíram-lhe os favores com reformas no sítio.

Obras estas, lembre-se, que foram realizadas após a saída de Lula do cargo de presidente e que, como diz a denúncia apresentada na segunda-feira (22/05) pelo Ministério Público Federal do Paraná, foram avaliadas, ao final, em R$ 1.020.500,00, incluindo os gastos das duas construtoras e do amigo de Lula, José Carlos Bumlai. Nestes benefícios estão, é claro, os pedalinhos…

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Ao contrário do que se tem visto com outros políticos, incluindo Aécio e Temer, não há dinheiro em conta, não há político recebendo mala com notas de R$ 50,00, como ocorreu com o deputado Rodrigo Loures (PMDB-PR), tampouco algum primo de Lula levando dinheiro para a empresa de algum suplente de senador que ficou conhecido por conta de um helicóptero apreendido com cocaína.

O que há são convicções.

Certamente alegarão que nos casos de Aécio e Temer os envolvidos têm direito a foro especial, junto aos ministros do STF. É uma escapatória, mas foi a um deles que os delegados da Lava Jato deram apoio na disputa pela presidência da República. Sem falar no cumprimento, aparentemente efusivo, do juiz, bastião da moralidade. Isto, talvez, eles queiram esquecer.

Afinal, como justificar o apoio a um candidato e os cochichos com um senador que, hoje, é acusado pelos seus próprios parentes de falta de caráter, como a postagem no Facebook atribuída – e até o momento não desmentida – pelo desembargador aposentado de Minas, Lauro Pacheco de Menezes Filho? Trata-se do pai de Frederico Pacheco de Menezes, o primo de Aécio preso após intermediar o dinheiro que a JBS deu ao senador, levando-o para o assessor do suplente de senador Zezé Perella.

Basta ler o texto que reproduzimos ao lado após recebê-lo de um juiz federal, para se verificar a quem os delegados apoiaram e quem foi o interlocutor dos cochichos do juiz, apontado por muitos como símbolo da moralidade.

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