Delmar Bertuol
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Colunistas 28/Out/2025 às 07:59 COMENTÁRIOS
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A esquerda e os crimes.

Delmar Bertuol Delmar Bertuol
Publicado em 28 Out, 2025 às 07h59

<span style=”color: #808080;”>Delmar Bertuol*, <a style=”color: #808080;” href=”https://www.pragmatismopolitico.com.br/” target=”_blank” rel=”noopener noreferrer”>Pragmatismo Político</a></span>

A discussão sobre o combate à criminalidade, por parte da esquerda, me parece, precisa ser mais bem explicada e explicitada. Ela não consegue convencer parte considerável da população do óbvio: ela não defende bandido.

E sobre direitos humanos, depois dos presos do 8 de janeiro, parece agora que a direita está entendendo que ela nada tem a ver com impunidade ou regalias. Pelo contrário, é a proteção da pessoa para que ela possa justamente cumprir a pena lhe imputada. Já li texto de direitista preocupado com a criação dos filhos dos golpistas presos, num humanitarismo tardio.

É que eles perceberam que a Justiça existe também pra defender criminosos de eventuais injustiças e/ou excessos. E perceberam, mais ainda, que qualquer pessoa pode, num ato mal pensado, se tornar, por trânsito em julgado, um criminoso. A direita percebeu que não só “vagabundos” podem ser encarcerados. Trabalhadores públicos e privados, de nível superior ou médio, enfim, qualquer pessoa pode, num desatino, cometer crimes. Uma avó, que no dia anterior estava fritando bolinhos aos netos e fazendo tricô, no outro, estava invadindo o STF; ou a cabeleira do bairro, pessoa de confiança, maquiou a noiva no sábado. No domingo, pedia golpe de estado enquanto passava batom na estátua. E, pela enésima vez: o crime é tentativa de golpe de estado. A depredação é mero agravante.

<strong><a href=”//www.pragmatismopolitico.com.br/tag/delmar-bertuol”” target=””_blank”” rel=””noopener” noopener”>Leia aqui todos os textos de Delmar Bertuol</a></strong>

De esquerda, não defendo criminosos. E, me expulsem, colegas esquerdistas, da inexistente Associação de Esquerdistas do Brasil: em princípio, sou a favor da redução da maioridade penal para 16 anos. Digo em princípio, pois antes haveria de ser estabelecida uma discussão ampla e séria, sem ranços e vícios ideológicos de qualquer tipo. Haveria de se mensurar os prós e contras de maneira sóbria. Ter-se-ia que ter um compromisso com o governo do momento como dos futuros em investimento em presídios, torná-los capazes de realmente, se não ressocializar, que pelo menos garanta que o condenado cumpra seu tempo lá de forma digna, que ele deva satisfação ao estado e não a criminosos que comandam o cárcere.

maioridade penal negros pobres vítimas

Sobre isso, eu já lancei a ideia: a esquerda aceita debater a sério a redução da maioridade penal; em troca, a direita, sem participação da bancada evangélica, aceita discutir sobre o aborto.

Não sou hipócrita. Quando vejo o jornal noticiar que um bandido morreu em confronto, não consigo lastimar especificamente sua morte. Há pessoas que não só não fazem falta na sociedade, como a tendência é que prejudicassem alguém. O que me inconforma, contudo, é todo o contexto histórico-social até chegar no fatídico.

Não acho que os bandidos são vítimas da sociedade. Fosse assim, todos os que tiveram difícil infância tornar-se-iam criminosos de fato ou potenciais. Mas acredito mesmo que a sociedade deu plenas condições de ele tornar-se um, ao não dar plenas condições de ele não se tornar.

Lamento que um jovem tenha enveredado para o crime; lamento que há pais que não conseguem educar seus filhos para que eles sigam honesto trajeto; lamento que há pais que saem pra comprar cigarro e não voltam, isso que a maioria que faz isso sequer fuma; lamento o sucateamento da educação pública, colocando os estudantes dessas escolas em tese menos preparados que os de escola particular; lamento que ele tenha cometido um crime; lamento que ele não ouviu a ordem de rendição do policial (espera-se que ele tenha seguido o protocolo); e, abstratamente, lamento que um jovem tenha morrido em condições violentas, pondo em luto sua família.

Não concordo com pena de morte. Muito menos concordo em dar à polícia carta branca pra decidir quem deve ou não ser executado e quando. Mas não compro a cartilha da esquerda. Acho que ela precisa deixar mais claro seus posicionamentos, assim como refletir e talvez mudar alguns.

Certamente, perde muitos votos por conta disso.

 

<span style=”color: #808080;”>*Delmar Bertuol é professor de história da rede municipal e estadual, escritor, autor de “Transbordo, Reminiscências da tua gestação, filha”</span>

 

 

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