Redação Pragmatismo
América Latina 10/Out/2025 às 08:33 COMENTÁRIOS
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Congresso do Peru destitui Dina Boluarte e empossa José Jerí em meio a crise de violência e instabilidade política

Publicado em 10 Out, 2025 às 08h33
Congresso Peru destitui Dina Boluarte empossa José Jerí meio crise violência instabilidade política
Imagem: Sputnik

O Congresso do Peru aprovou, por unanimidade, a destituição da presidente Dina Boluarte na madrugada desta sexta-feira (10). A chefe de Estado foi afastada sob a acusação de “incapacidade moral permanente” diante da escalada da criminalidade no país e de denúncias de corrupção que vinham fragilizando seu governo. O chefe do Legislativo, José Jerí, assumiu a presidência por sucessão constitucional e prometeu uma ofensiva dura contra o crime organizado.

Boluarte havia sido convocada a comparecer ao plenário para apresentar sua defesa, mas recusou-se a fazê-lo. Segundo seus advogados, o processo era “inconstitucional” e violava o devido procedimento. Após 20 minutos de espera e sem a presença da presidente, os parlamentares decidiram seguir com a votação. O resultado foi categórico: 118 votos a favor da vacância, nenhum contra e nenhuma abstenção.

“É simplesmente uma violação de qualquer procedimento. Não vamos validá-lo!”, afirmou Juan Carlos Portugal, advogado de Boluarte, pouco antes da sessão.

Violência como pano de fundo

A decisão ocorreu em meio a uma onda de violência e extorsões atribuídas a quadrilhas criminosas que se multiplicaram nos últimos anos. A crise se agravou após o ataque armado contra o grupo musical Agua Marina, durante um show em Lima, na quarta-feira (8). Quatro integrantes da banda foram baleados e outras pessoas ficaram feridas, gerando comoção nacional.

A Polícia Nacional do Peru investiga o atentado como possível represália de organizações de extorsão, prática que se tornou comum no país e que atinge desde pequenos comerciantes até artistas de renome.

José Jerí assume e promete “guerra ao crime”

Minutos após a votação, o presidente do Congresso, José Jerí, de 38 anos, assumiu a faixa presidencial e discursou em tom de enfrentamento à criminalidade.

“O principal inimigo está nas ruas: as gangues criminosas. Precisamos declarar guerra ao crime”, afirmou. Jerí, filiado ao partido conservador Somos Perú, conduzirá o país até as eleições de abril de 2026, com posse do novo mandatário prevista para 28 de julho do mesmo ano.

Ele também defendeu a formação de um “governo de reconciliação”, mas fez questão de sinalizar que sua prioridade será a segurança pública.

Um governo cada vez mais isolado

Boluarte, que assumiu em dezembro de 2022 após a destituição e prisão de Pedro Castillo, já enfrentava forte desgaste político. Com aprovação entre 2% e 4% nas pesquisas, sua gestão foi marcada por denúncias de enriquecimento ilícito, protestos violentamente reprimidos e pelo escândalo conhecido como Rolexgate, sobre a origem de sua coleção de relógios de luxo.

Mesmo partidos que a apoiaram no início, como o fujimorista Força Popular e o Renovação Popular, aderiram às moções de vacância, evidenciando o isolamento político da presidente. “A extorsão e a criminalidade cresceram, mas ela continua vivendo em uma fantasia. Essa presidente merece ser destituída”, declarou a deputada conservadora Norma Yarrow durante o debate.

Diante da votação, Boluarte fez um pronunciamento no Palácio Presidencial. “O mesmo Congresso que me empossou agora decide pela minha destituição, com todas as implicações para a estabilidade da democracia em nosso país. Em todos os momentos pedi união”, disse, em tom de despedida.

Instabilidade crônica

A queda de Boluarte reforça o ciclo de instabilidade que atinge o Peru há anos. Desde 2018, o país teve seis presidentes, todos afastados ou renunciantes. Atualmente, três ex-chefes de Estado cumprem pena por corrupção ou abuso de poder.

Nas ruas de Lima, o clima foi de polarização após a votação. Enquanto parte da população comemorava a saída de Boluarte, com bandeiras e música em frente ao Congresso, aliados da ex-presidente denunciaram o processo como um golpe parlamentar.

Com José Jerí, o Peru terá seu sétimo presidente em menos de uma década — um retrato da fragilidade institucional e da contínua disputa de poder que marcam a política da nação andina.

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