Ministro Barroso, fascismo e lavajatismo vivem de ideias infelizes e criminosas
O ministro Luis Roberto Barroso definiu como apenas uma ideia infeliz a tentativa de Deltan Dallagnol de se apropriar de R$ 2,5 bilhões da Petrobras. A juíza Gabriela Hardt teria somente avalizado a infelicidade alheia.
Pois o mundo recua, tropeça e avança por causa de ideias infelizes, sempre dependendo do ponto de vista de quem examina as ideias dos outros, sendo ou não um juiz.
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Na noite de 3 de novembro de 2022, uma quinta-feira, um grupo teve a ideia infeliz de cercar o restaurante em que o ministro Barroso e a família jantavam com amigos em Porto Belo, um dos paraísos do litoral catarinense.
A ideia parecia ser apenas essa. Vaiar o ministro, o que é do jogo para toda figura pública, e esculhambar seu fim de semana. Mas o grupo foi ganhando o reforço de extremistas e Barroso teve de deixar o local. Refugiou-se numa casa. Mas a casa também foi cercada.
A ideia infeliz de gritar e vaiar evoluiu para ameaças. O ministro e a família abandonaram a casa às 4h da madrugada, porque outra ideia infeliz poderia prosperar.
Na Amazônia, mais ou menos na mesma época, grupos que haviam decidido explorar o garimpo na terra dos yanomamis foram ganhando o reforço de traficantes e bandidos de toda espécie.
Uma ideia infeliz, a de garimpar ouro ilegalmente, evoluiu para outras ideias, e os bandidos passaram a cercar e matar inimigos, indigenistas, os indígenas e quem chegasse perto. A tiros e de fome.
Os yanomamis não têm como escapar do cerco, mas o ministro Barroso fugiu para Brasília, onde conta, não se sabe em que dimensão e até quando, com a proteção institucional de autoridade da mais alta Corte do país.
Barroso sabe que o Brasil enfrenta os sobressaltos de ideias infelizes recentes, desde o golpe contra Dilma, passando pelo encarceramento de Lula, até o que aconteceu no 8 de janeiro.
Desde a ideia infeliz do golpe de 2016, levada adiante como ideia da grande imprensa em conluio com o Brasil arcaico e a leniência das instituições, direita e extrema direita evoluíram para a certeza de que era preciso consumar a ideia do encarceramento de Lula.
E chegaram assim à ideia infeliz de ajudar a eleger Bolsonaro e de apoiar outra ideia infeliz, a de transformar Sergio Moro em empregado de Bolsonaro, enquanto todo o governo teve a ideia de negar vacina aos brasileiros.
No ano passado, se o Supremo tivesse concordado com a tese de que a invasão de Brasília havia sido apenas uma ideia infeliz, todos os mais de mil presos do 8 de janeiro seriam tratados, como diz Bolsonaro, como uns coitados.
Porque não havia ali um líder entre eles. Eram pessoas comuns tomadas pelo transe de uma ideia coletiva infeliz. Os autores da ideia nunca assumiram que a ideia era deles, e os presos e condenados são apenas os que levaram a sério as ideias infelizes dos outros.
Alguém em algum lugar, nesse momento, está furtando um pacote de massa em algum supermercado. E em algum gabinete um juiz estará decidindo que o furto de um pacote de massa não pode ser tratado apenas como ideia infeliz, mas como furto mesmo.
O temor de pelo menos metade do Brasil é de que essa percepção do que é furto, no caso do pacote de massa, e do que possa ser uma ideia infeliz, no caso da apropriação de R$ 2,5 bilhões da Petrobras, se institucionalize ainda mais e vire acórdão e jurisprudência e inspiração de conduta, não para magistrados, mas para as almas coletivas.
Porque o que o lavajatismo e o fascismo esperam é que suas atitudes sejam percebidas assim mesmo, apenas como ideias infelizes à espera da fala e da decisão de um grande juiz capaz de legitimá-las.
O cerco que o ministro sofreu em Santa Catarina, sem notícia até agora de que tenha culpados, não foi, nem na origem, quando o primeiro grupo chegou ao restaurante, apenas uma ideia infeliz.
A turba extremista, no Estado mais extremista do país, estava cercando o Supremo, depois da eleição consumada. Para avisar que o fascismo cotidiano continuava ativo e que a ideia do golpe estava mantida.
Como ainda continua vivo, por ser mais do que ideia infeliz, o fascismo que se rearticula sob a proteção do poder econômico, o mesmo fascismo patrocinado que cercou o ministro do Supremo e o expulsou da cidade às 4h da madrugada.
O poder econômico, que continua organizando e mobilizando tios e tias, fora e dentro das redes sociais e do zap, está intocado, ministro Barroso. É o único núcleo do golpismo e do lavajatismo ainda intacto. O único que o Supremo não consegue alcançar.
Essa é a impunidade do poder do dinheiro, dos que lidam ou pretendem lidar com bilhões, em nome de uma grande causa ou apenas de uma ideia infeliz.
O dinheiro atenua os desvios éticos e morais dos que sabem manuseá-lo. O dinheiro torna os seus atos, por mais absurdos que pareçam, apenas ideias infelizes e às vezes até infelizmente razoáveis.
O Supremo continua cercado pelo poder do dinheiro, ministro Barroso, e o Brasil todo, e não só o STF, precisa de ideias melhores do que fugir sem olhar pra trás no meio da madrugada.
*Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre. É autor do livro de crônicas Todos querem ser Mujica (Editora Diadorim).
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