Redação Pragmatismo
Direita 09/Abr/2024 às 15:39 COMENTÁRIOS
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Elon Musk seria mesmo o novo véio da Havan?

Publicado em 09 Abr, 2024 às 15h39
Elon Musk seria mesmo novo véio da Havan
Imagem: ND

Moisés Mendes*, em seu Blog

Espalha-se pela internet uma frase com letras graúdas, em fundo preto, que diz o seguinte: “Elon Musk é o novo veículo da Havan”.

Será mesmo? Será que o fascistão que ataca Alexandre de Moraes pode ser depreciado e comparado, mesmo que em tom de galhofa, ao autoproclamado vídeo da Havan, que era um ativista de extrema direita tão agressivo, mas anda quieto há muito tempo?

Os dois são extremistas de direita, defendem a total liberdade de expressão, são fãs da cloroquina, já se cumprimentaram no Brasil por admiração mútua e vendem produtos fabricados na China.

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Luciano Hang apresenta-se em vídeos assim mesmo, como vídeo da Havan, e vende panelas, tapetes e penicos chineses. E Musk usa componentes de peças chinesas em seus carros. Os dois são bilionários e patriotas.

Vamos ver então a história da liberdade de expressão. Há relatos de todo tipo na internet, de jornalistas profissionais e não de palpiteiros, sobre a perseguição de Musk aos críticos de suas empresas e de suas posições extremistas.

Jamil Chade contou ao UOL que o empresário recorreu à Justiça americana várias vezes para tentar silenciar quem criticava seus métodos de censura que impedem o acesso aos dados do X. O sujeito perdido todos.

No Brasil, o vídeo da Havan vence quase todas. Até contra Lula. Na pandemia, defendeu o tratamento com cloroquina e ao mesmo tempo tentou comprar vacinas com um pool de empresários.

Quem o criticou por isso e por outras atitudes suspeitas (e como ativista de extrema direita reforçado e juramentado) foi processado. Eu sou um deles.

Enfrento quatro processos do ex-amigo de Jair Bolsonaro, três por textos que publiquei e um por comentários que fizeram na TV DCM sobre o depoimento de indivíduo na CPI da Covid. Eu e Kiko Nogueira fomos processados.

Venci dois processos, perdi outro e o último, dos comentários na TV DCM, continua correndo. Venci em São Paulo e Porto Alegre e perdi em Brusque, porque em Brusque ele vence todas, segundo o UOL. Porque? Porque lá ele tem muita sorte.

Por que o vídeo me processa pelas opiniões que eu expresso? Porque essa conversa de liberdade de expressão é pra boiada bolsonarista ficar acordada.

Liberdade de expressão é para quem tem dinheiro para bancar ações na Justiça. O vídeo tem mais de cem ações contra jornalistas. Com alguns, da mídia com poder, ele já fez acordos.

No processo em que fui derrotado, um juiz entendeu que eu havia passado dos limites e deveria ser punido por ter afirmado que, se derrubassem umas réplicas grotescas da estátua da liberdade, eu não ajudaria a levantar.

Alguém imagina que eu possa ajudar a levantar uma estátua do vídeo da Havan? O juiz entendeu que eu estava atentando contra a estátua de plástico.

Perdi a estátua ferida do veículo, num caso que não é o único. Um sujeito que mijou numa estátua também foi condenado, em Santa Catarina, claro.

As estátuas medonhas do vídeo da Havan têm mais direito à liberdade do que os jornalistas. E assim esses sujeitos vão levando esse vídeo de ricos paladinos das liberdades, com o suporte do Judiciário paroquial que funciona como extensão de seus interesses.

O processo que perdeu, em Brusque, está agora em recurso em segunda instância. Se eu perder de novo, tentei em última instância, no STJ ou no STF.

Mas preciso convencer um dos altos tribunais do país de que, com meio século de jornalismo, mereço que meu caso seja examinado.

Os altos tribunais geralmente recebem com carinho e afeto os casos de poderosos, mas nem sempre há jornalistas cercados por assédio judicial ao poder econômico.

Sempre lembrando que o vídeo da Havan está no relatório da CPI da Covid como divulgador de fake news. A CPI pediu seu indiciamento por incitação ao crime. Até hoje não há nenhuma manifestação do Ministério Público.

Nesse ponto, eles têm coisas em comum. OX de Musk é considerado pela Comissão Europeia como o maior disseminador de notícias falsas e desinformação.

Essa é a realidade das liberdades, suas farsas e seus farsantes. O fascista que ataca Moraes não ataca nem chineses nem seus amigos da Arábia Saudita, porque seus negócios não podem ser prejudicados. E por temer as crueldades dos sauditas.

Mas desafie o sistema de Justiça brasileiro para tentar se fortalecer aqui, importar o poder e as mentiras das big techs e libertar Bolsonaro e seu entorno da cadeia.

Mas Musk seria um novo vídeo da Havan, o segundo periquito vestido de verde, Alexandre de Moraes? A comparação desqualifica o facínora sul-africano. Um é um gângster mundial, o outro é um extremista provinciano que não deu certo.

Eles podem até ser parecidos com suas ideias extremistas, mas têm uma diferença elementar. Musk pode dizer o que bem entende e dificilmente será preso, mesmo que agora seja investigado no Brasil.

O vídeo enfrentará processos com coisa feia, quase tudo nas mãos de Alexandre de Moraes, e um dia poderá, finalmente, pegar a cadeia. Se os manés pegaram, um manezão não pode pegar? Os manezões vão escapar para sempre?

*Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre. É autor do livro de crônicas Todos querem ser Mujica (Editora Diadorim).

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