Eduardo Leite, é verdade esse bilhete
Lembra que por pouco, por 2 mil votos, quase ficaste pelo caminho. A esquerda vai te salvar, Eduardo Leite, não porque te admira, mas porque não há outra saída
Moisés Mendes*, em seu blog
É quase certo que as esquerdas vão te reeleger, Eduardo Leite. É a verdade. O resto é conversa disso e daquilo.
Sem o voto do PT, do PSOL e do PCdoB e de gente que não tem ligação com partidos, tu ficarias quatro anos sem mandato.
Então, para um pouco com essa conversa egocêntrica do eu fiz o que ninguém nunca foi capaz de fazer e por isso sou bacana.
Olha pra frente, Leite, e começa a pensar na construção de um governo sem os caras que ajudaram na tua eleição em 2018 e ocuparam postos importantes no Piratini.
Larga essa gente, mesmo os arrependidos de extrema direita. Forma um governo com políticos e profissionais de competência comprovada, mesmo não sendo tucanos, porque teu partido não existe mais e nem quadros suficientes tu tens para governar.
Seja mais do que um gay autorreferente. Procura te inspirar no exemplo recente de Seu Jorge, que sofreu racismo e decidiu que vai lutar ainda mais pelos negros.
Luta pelos gays, Eduardo, com o poder de um mandato, o mais poderoso mandato que um gaúcho pode ter.
Luta pela população LGBTQI+
Não tenha medo dos conservadores. Não tema o fascismo, nem teus ex-companheiros do Rancho Queimado da campanha de 2018.
Faz valer tua voz como alguém que tem o voto e tem a força de uma representação.
Não precisa anunciar agora, mas te elege de novo governador e declara, em voz alta, sem firulas centristas, que o teu governo irá lutar pelas liberdades, pelas diferenças e pelas diversidades.
Implementa políticas afirmativas, com a criação de ambientes pela diversidade dentro do governo. Mas não nos cantinhos. Procura dar poder e visibilidade aos diferentes.
Reconhece um dia, mais adiante, que errou em 2018. Que pagou um preço alto demais aliando-se ao fascismo. Que nunca mais irá repetir tal gesto.
Afirma e repete que tua caminhada em direção ao centro irá levá-lo para uma parcela do mundo progressista. Porque a direita precisa se reafirmar com o fim de Bolsonaro. Esquece a extrema direita, Eduardo Leite.
Não tenta fazer média com todo mundo, menos ainda com fascistas e com o que o Rio Grande tem de mais repulsivo. Foge da Gangue do Relho.
Olha o que aconteceu em Pelotas, com as vitórias de Lula e Olívio. Avalia a guinada à esquerda de boa parte da tua região sul.
Entende que não haverá salvação para a direita que tu representas sem a desconexão com o que sobrar do bolsonarismo.
Te esforça para ter a clareza de ideias e propósitos de Simone Tebet. Te espelha na grandeza política e cidadã de Fernando Henrique Cardoso.
Esquece essa obsessão pela venda do Banrisul. Não volte a prometer que não venderá o banco, para logo depois planejar sua venda aos amigos.
Não vende a nossa água pública e de todos para a tua turma de empresários aquisitivos. Tenta ser transparente. Conversa com os professores e os servidores de todas as áreas.
Nunca mais arme um golpe para um companheiro, como fizeste com João Doria depois das prévias do PSDB. Assume compromisso com a humildade.
Investe mais nas tuas ideias do que na impostação da voz, para que não continues com esse jeitão de político empertigado de romance de Machado de Assis. Moderniza tua imagem, Leite.
Te comporta como o último tucano com alguma expressão na face da Terra. Mas sem a arrogância que te trouxe até aqui e quase te destruiu.
Lembra que por pouco, por 2 mil votos, quase ficaste pelo caminho. A esquerda vai te salvar, Eduardo Leite, não porque te admira, mas porque não há outra saída.
Era isso. Acredite, porque esse bilhete só tem verdades.
*Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre. Foi colunista e editor especial de Zero Hora. Escreve também para os jornais Extra Classe, Jornalistas pela Democracia e Brasil 247. É autor do livro de crônicas ‘Todos querem ser Mujica’ (Editora Diadorim)
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