Redação Pragmatismo
Mulheres violadas 24/Ago/2022 às 17:10 COMENTÁRIOS
Mulheres violadas

Advogada constrangida por desembargador após bebê chorar faz desabafo

Publicado em 24 Ago, 2022 às 17h10

"Me senti ofendida como mulher, mãe e advogada. Eu fiquei muito mal e chorei bastante depois. Eu me viro nos 30 para dar conta de tudo. Dar conta de bebê, casa, trabalho. Nós, mulheres, só queremos que nossa ética profissional não seja questionada por estarmos exercendo dupla/tripla jornada sem qualquer tipo de apoio [...]". OAB-SC também repudiou a fala do desembargador Elci Simões

advogada Malu Borges Nunes
Malu Borges Nunes (dir)

A advogada Malu Borges Nunes, de 29 anos, desabafou após ser ofendida pelo desembargador Elci Simões quando a filha começou a chorar em uma audiência virtual. O caso aconteceu na última segunda-feira (22).

A advogada pediu para ser ouvida primeiro durante a sessão, porque está amamentando a bebê. A solicitação foi negada e, quando a criança começou a chorar, o magistrado repreendeu Malu.

O vídeo que mostra a falta de empatia do desembargador percorreu as redes sociais rapidamente. Na terça-feira (23), a advogada agradeceu a atenção e o carinho que recebeu.

“Eu me senti primeiro ofendida como mulher, como mãe, como advogada também. Ele [desembargador] questionou a minha ética profissional em relação a eu estar, não sei, com ela no colo, ou amamentando, ou de estar no home-office e ela estar perto de mim. Eu fiquei muito mal, chorei bastante depois. Eu me viro aqui nos 30 para dar conta de tudo que eu tenho que fazer. Dar conta de bebê, casa, trabalho”, disse.

“Nós mulheres só queremos que nossa voz seja ouvida, que nos respeitem no nosso ambiente de trabalho e na sociedade. Que nossa ética profissional não seja questionada por estarmos exercendo dupla/tripla jornada sem qualquer tipo de apoio. A minha realidade é a de milhões de brasileiras — trabalhadora e mãe”, afirmou a advogada.

Malu afirmou, ainda, que não falhou com a ética profissional. “Minha ética poderia ser questionada somente se eu deixasse de cumprir prazos e realizar atos, o que não é o caso. Não sou antiética por trabalhar em home office com a minha filha no colo”.

A advogada também lembrou um caso parecido que aconteceu durante uma sessão do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Na ocasião, um advogado teve atendimento antecipado por estar com o filho de 1 ano, durante uma sessão por videoconferência.

Em nota, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Santa Catarina também se manifestou e destacou o “constrangimento enfrentado” pela profissional. “A OAB/SC manifesta solidariedade à advogada e mãe Malu Borges Nunes pelo constrangimento enfrentado quando do exercício da advocacia, que teve ainda a ética questionada diante do ocorrido.”

desembargador elci simões
Elci Simões (Foto: Raphael Alves/TJAM)

Na sessão, é possível ouvir que há resmungos da bebê ao fundo. A criança estava no colo da mãe. O desembargador Elci Simões paralisou a sessão por alguns segundos para repreender a advogada, afirmando que o barulho que a criança estava fazendo atrapalhava a concentração de todos.

“Eu queria pedir para Dra. Malu que… quebra o silêncio das sessões do tribunal, interferências outras na sala em que a senhora está. Isso prejudica os colegas. Não deixe que outras interferências, barulhos, venham atrapalhar nossa sessão porque é uma sessão no tribunal, não pode ter cachorro latindo, criança chorando. Se a senhora tiver uma criança, coloque no lugar adequado. São barulhos que tiram a nossa concentração. A senhora precisa ver a ética da advogada”, afirmou Simões.

A Ordem dos Advogados do Brasil do Amazonas (OAB-AM) apontou que a advogada, ao participar de uma sessão remota de julgamento no TJAM, dentro de sua residência e ao lado de sua filha, não cometeu qualquer infração disciplinar nem violou preceito do Código de Ética e Disciplina da OAB. A Ordem ainda ressaltou o papel da mãe no direito.

“A OAB-AM ressalta a importância da sustentação oral, direito de todo profissional da advocacia. O que ocorreu no referido julgamento é a realidade da mãe profissional autônoma que também não tem como controlar o choro de uma criança ou exigir dela o silêncio, fato que expõe a necessidade de conscientização sobre a maternidade e a vida profissional”.

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