Redação Pragmatismo
Racismo não 14/Jun/2022 às 12:58 COMENTÁRIOS
Racismo não

Apresentadora da Globo reproduz racismo estrutural e é salva por colega de situação constrangedora

Publicado em 14 Jun, 2022 às 12h58

"Vai servir todo mundo". Durante transmissão ao vivo na Globo, apresentadora Thalita Morete foi salva pelo colega Manoel Soares, que deu aula de como lidar com o racismo estrutural

racismo na globo

A apresentadora Thalita Morete protagonizou uma situação constrangedora no programa ‘É de Casa’, na TV Globo, no último sábado (11/6). Thalita estava com uma bandeja de cocada nas mãos e fez a cozinheira Silene, negra, levantar-se e servir os demais convidados.

“Silene, a dona da cocada, vai fazer as honras da casa, vai servir todo mundo, Silene”, disse a apresentadora Thalita Morete. “Por favor, pode oferecer que tá todo mundo querendo sua cocada”, completou.

Silene estava sentada assim como os demais convidados e, constrangida, foi obrigada a se levantar pela exigência da apresentadora. A cozinheira é moradora da Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, e faz sucesso com suas cocadas.

Enquanto a cozinheira pegava a bandeja para começar a servir os outros convidados, Manoel Soares — único negro e também apresentador do programa — interveio. “Olha só, vamos fazer o seguinte, eu vou ser o seu garçom e você vai me orientar pra quem eu vou servir porque você não vai servir ninguém”, disse o apresentador.

Thalita não se dá conta da situação e segue dando ordens. Nas redes sociais, o momento repercutiu com diferentes olhares: “Aula de como lidar com o racismo estrutural. Parabéns, Manoel Soares”, disse Lázaro Rosa no Twitter.

Outra tuiteira comentou: “A Talita, literalmente, cruzou o cenário só pra fazer a Mulher servi-la… Estou em choque! O Manoel não conseguiu esboçar nenhuma reação porque acredito que nem ele estava acreditando no que estava acontecendo ali. Ainda bem que conseguiu se recompor e dar a lição.”

“Eu me sinto extremamente mal sendo servida por pessoas negras em qualquer situação mesmo sendo funcionários pois me remetem aos tempos de escravidão parece que estou vivendo aquela época”, disse outra.

“Quanta sensibilidade do Manoel, e pensamento rápido para administrar a situação, corrigir o erro que nem foi dele, sem ser agressivo com ninguém… Esses segundos me fizeram repensar muita coisa… Obrigado pela lição mestre!”, comentou mais um.

Igor Sacramento, pesquisador e professor da UFRJ, fez a seguinte observação sobre o caso: “O racismo também é estrutural quando práticas corriqueiras atribuem ao corpo negro o lugar da subalternidade escravocrata. Por que a jornalista branca não pôde servir? Por que a apresentadora não pôde fazer as honras da casa se ela é a apresentadora do programa, o que incluía servir pessoas negras? Por que a mulher negra, vencedora do concurso de melhor cocada do famigerado programa, foi interpelada, convocada e constrangia a servir? Por que as tais honras da casa (cozinhar, lavar, passar, servir, cuidar, sorrir) num país escravocrata como o nosso é tarefa das empregadas domésticas e não das donas e donos de casa? O apresentador negro tentou resolver, sem problematizar, sem questionar. Assumiu o lugar servil, docilizado, disciplinado. Silene é interpelada a servir porque é negra. Isso não é uma questão de educação apenas, mas do racismo que essa estrutura todas as relações, até fazer as honras da casa”.

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