Redação Pragmatismo
Violência 15/Abr/2022 às 19:56 COMENTÁRIOS
Violência

Atacado a facadas, jornalista da Globo denunciou clube de tiro há quatro dias

Publicado em 15 Abr, 2022 às 19h56

Novas imagens mostram agressores de jornalista esfaqueado. Testemunhas relatam que Gabriel estava consciente logo após o ataque: "Me ajuda, eles querem me matar". O repórter da Globo fez uma matéria na última segunda-feira denunciando o desespero de moradores com o funcionamento perigoso de um clube de tiro

O repórter Gabriel Luiz, da TV Globo de Brasília, fez uma matéria na última segunda-feira (11) denunciando o funcionamento perigoso de um clube de tiro em Brazlândia, região administrativa do Distrito Federal. Ou seja quatro dias antes de sofrer ataque por dois homens no fim da noite de quinta-feira (14) e levar cerca de 10 facadas. A Polícia Civil do DF investiga várias linhas como motivação para o crime.

Inaugurado recentemente, o estande de tiro fica às margens da BR-251 e tem deixado moradores da vizinhança desesperados. As balas saem do que deveria ser um perímetro de segurança, atingindo lotes residenciais e rurais nos arredores. A população local mostrou dezenas de projéteis de revólveres, pistolas e fuzis, assim como os furos em paredes e árvores dos imóveis.

Um homem que vive num lote vizinho diz na reportagem dirigida por Gabriel que “não vai perder sua vida porque esse pessoal fica aí”. Outro contou a estratégia que usa quando os projéteis cruzam as cabeças de trabalhadores de uma roça instalada atrás do clube. “A gente vê as balas zuando aí e aí só abaixa”, disse o agricultor na matéria.

Gabriel mostra ainda que o fundo do lugar onde ficam os alvos está protegido apenas por um barranco baixo e uma camada de pneus na parte superior. Desse modo, pode não ser o suficiente para evitar que as balas atinjam os vizinhos.

Num determinado trecho da reportagem, funcionários do clube de tiro aparecem para discutir com os moradores que davam depoimento à equipe da TV Globo, e Gabriel está presente. Um dos habitantes dos sítios vizinhos chega a perguntar para um dos atiradores “se ele está o ameaçando”.

Imagens dos agressores de Gabriel

Novas imagens mostram os agressores que esfaquearam o jornalista Gabriel Luiz. Câmeras de segurança de uma rua registraram os suspeitos do ataque andando juntos. A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) não informou se as imagens são de momentos antes ou depois do crime.

Outras imagens de câmeras de segurança mostram a aproximação dos criminosos do profissional por volta das 23h30. A filmagem mostra, primeiro, o jornalista passando pelo local e em seguida um dos suspeitos, o outro vem logo atrás. Mais à frente, os dois homens agridem Gabriel e depois saem correndo sem levar nada.

Homens que atacaram o jornalista da Globo
Homens que atacaram o jornalista da Globo

“Querem me matar”

“Ele chegou correndo, com a mão no peito e no pescoço, gritando ‘socorro, querem me matar’. Dizia que ia morrer, que mataram ele”, revelou o porteiro do prédio que prestou os primeiros socorros a Gabriel.

“Eu não sei o que aconteceu de fato. Só vi a hora que ele (Gabriel) chegou na portaria, depois que um dos moradores gritou, na hora da agressão. Eu pensei que fosse um morador de rua, mas aí percebi que era o Gabriel”, recorda o porteiro.

O jornalista, que estava perdendo muito sangue, pediu, ainda, que o funcionário ligasse para o pai e passou o número. “Eu pedi pra ele ficar calmo, falei que ia socorrer. Não sabia o que fazer, tinha muito sangue”, diz. Moradores do prédio, que viram o momento do crime, desceram para ajudar o porteiro. “Um deles é socorrista do Samu. Foi quando pressionamos as perfurações, para estancar um pouco do sangue. Enquanto faziam isso, eu liguei para os bombeiros e depois para a polícia. O socorro chegou bem rápido”, explica.

O porteiro chegou a questionar Gabriel se teria sido um assalto. Mas, segundo a testemunha, o jornalista não respondeu. “Ele não conseguia responder, só falava que ia morrer, que queria ajuda”, recorda.

Para o porteiro, o momento foi uma verdadeira cena de terror. “Eu nunca tinha visto uma coisa dessas na minha vida. É algo que vai demorar para sair da minha mente. Eu torço a Deus para que o Gabriel consiga se recuperar, porque ele é uma pessoa muito boa, um cara bem humilde”, diz. “Ele (Gabriel) perdeu muito sangue, foi uma quantidade imensurável. Acho que isso vai ficar na minha mente pra sempre, não consigo esquecer. Passei a noite em claro, não preguei o olho, ainda não consegui descansar. Deitei, mas não consigo dormir. Eu estou um pouco traumatizado com tudo isso”, diz.

Pela violência envolvida, as principais entidades que representam os jornalistas questionam se há algum vínculo entre o ataque e o exercício profissional do repórter, que tem histórico de reportagens investigativas. Três das principais entidades divulgaram notas em que cobram da polícia um esclarecimento sobre as causas do ataque

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