Redação Pragmatismo
Racismo não 31/Jan/2022 às 14:14 COMENTÁRIOS
Racismo não

Imigrante teve pés e mãos amarrados e foi torturado até a morte na Barra da Tijuca

Publicado em 31 Jan, 2022 às 14h14

Jovem negro e pobre foi torturado até a morte por empregador após cobrar salário atrasado na Barra da Tijuca, bairro nobre do Rio. Imigrante deixou a África para fugir da guerra e da fome e acabou sendo vítima de um crime bárbaro no Brasil. Família diz que seus órgãos foram retirados sem consentimento

Moïse Kabamgabe
Moïse Kabamgabe

Um imigrante africano que trabalhava em um quiosque na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, foi torturado até a morte após cobrar pagamentos atrasados de seu empregador.

A família fez um protesto neste sábado (29) pedindo informações e denuncia que os órgãos da vítima foram retirados sem consentimento no Instituto Médico-Legal (IML).

O protesto na praia da Barra da Tijuca rompeu o silêncio de um crime cometido há cinco dias. Moïse Kabamgabe nasceu no Congo, na África, e trabalhava por diárias em um quiosque perto do Posto 8.

A família disse que o responsável pelo quiosque estava devendo dois dias de pagamento para Moïse e que, quando ele foi cobrar, foi espancado até a morte. “Corda, amarram ele junto com as pernas e mãos. A polícia veio depois de 20 ou 40 minutos”, disse o irmão da vítima, Djodjo Baraka Kabagambe.

A família deixou a África em 2014 para fugir da guerra e da fome. A mãe está inconformada e disse que a violência foi motivada por racismo. “Quatro pessoas, cinco pessoas pra matar ele”, disse a mãe, Ivana Lay.

“Meu filho cresceu aqui, estudou aqui. Todos os amigos dele são brasileiros. Mas hoje é vergonha. Morreu no Brasil. Quero justiça”, afirmou Ivana Lay.

As agressões duraram pelo menos 15 minutos e foram gravadas pelas câmeras de segurança do quiosque. Moïse apanhou de 5 homens que, segundo testemunhas, usaram pedaços de madeira e um taco de beisebol. Ele foi encontrado em uma escada, amarrado e já sem vida.

Os parentes só souberam da morte na manhã de terça-feira (25), quase 12 horas após o crime. E ficaram ainda mais revoltados durante o reconhecimento do corpo no IML.

“Quando a notícia chegou até nós, fomos no IML na terça de manhã e a gente já encontrou ele sem órgão nenhum, sem autorização da mãe, nem autorização dele de ser doador de órgão. Onde estão os órgãos? Nós não sabemos. Em menos de 72h ele foi dado como indigente. Infelizmente, a gente vive aqui, mas estamos na insegurança”, diz a prima Faida Safi.

“Uma pessoa de outro país que veio no seu país para ser acolhido. E vocês vão matá-lo porque ele pediu o salário dele? Porque ele disse: ‘Estão me devendo’?”, questionou Chadrac Kembilu, primo de Moïse.

Dia de trabalho continuou após a morte

“O início da gravação que eu vi é ele reclamando com o gerente do quiosque. Alguns minutos seguintes, o gerente pegou um pedaço de madeira para ameaçar ele. Até então, ele estava só recuando. E o cara foi atrás dele. Como ele estava reivindicando alguma coisa, ele pegou uma cadeira e dobrou para se defender. Ele não chegou a atacar ninguém. O gerente chamou uma galera que estava na frente do quiosque. Até então tinha só um sentado”, contou Yannick Kamanda, primo da vítima.

“Veio uma galera que o arremessou no chão, tentando dar um golpe de mata-leão nele. Vieram mais algumas pessoas bater nele com madeira, veio outro com uma corda, amarrou as mãos e as pernas para trás, passou a corda pelo pescoço. Ficou amarrado no mata-leão, apanhando. Tomando soco e taco de beisebol nas costelas. Até ele desmaiar”, disse o primo.

De acordo com o relato do primo que viu as imagens, o dia de trabalho continuou, mesmo com a morte de Moïse. “Eles foram embora e ficou só o gerente do quiosque. E ele deitado no chão, como se nada estivesse acontecendo. Trabalhando, atendendo cliente. E o corpo lá”, afirmou Yannick.

Um representante da Embaixada do Congo no Brasil se manifestou sobre o crime bárbaro: “O Brasil é um país receptor dos refugiados, ratificou a convenção de Genebra, junto com todos os protocolos adicionais. Uma das bases é a proteção da vida humana dos refugiados que são recebidos”, afirmou Placide Ikuba.

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