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Mulheres violadas 17/Dez/2021 às 16:43 COMENTÁRIOS
Mulheres violadas

Delegado diz que roupas de mãe e filha mortas na Bahia “obviamente chamaram atenção” do suspeito

Publicado em 17 Dez, 2021 às 16h43

Delegado é afastado após dizer que roupas de mãe e filha assassinadas na Bahia “obviamente chamaram a atenção” do suspeito: “Ele não tinha a intenção de praticar o estupro. Foi uma questão de coincidência”

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Rhudson Barcelos

Responsável pela investigação dos assassinatos de uma mãe e sua filha na cidade de Guanambi, no interior da Bahia, o delegado Rhudson Barcelos foi afastado do caso pela 22ª Coordenadoria de Polícia do Interior (22ª Coorpin) após fazer comentários considerados machistas e inapropriados sobre as roupas utilizadas pelas vítimas.

Segundo a Polícia Civil, a mudança ocorreu por conta de uma decisão administrativa, “que ocorre sempre que julgado pertinente”. Rhudson era o delegado plantonista no dia do crime e a investigação passa a ser comandada pelo titular da Delegacia Territorial de Guanambi, Giancarlo Giovane Soares.

O delegado que deixa o caso esteve à frente da investigação desde o primeiro momento, inclusive participou da operação que prendeu o acusado pelo crime e das oitivas realizadas até agora.

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De acordo com informações do Portal Metrópoles, a repercussão de uma entrevista de Rhudson à imprensa local causou o afastamento. Nela, o delegado afirmou que as vestimentas “obviamente chamaram a atenção” do suspeito.

Pelo que ficou subentendido, e a gente apurou até o momento, não houve premeditação. Ele não tinha a intenção de praticar o estupro específico com as vítimas. Foi uma questão de coincidência, quando ele saiu do trabalho, (…) se deparou com as duas, com aquelas roupas de malhação, de caminhada, obviamente chamando atenção. Ele disse que daí começou a ter desejo sexual e as seguiu. Passou por elas, estacionou e ficou esperando”, declarou.

Na entrevista coletiva, Barcelos fez uma atribuição da culpa às mulheres por serem vítimas de tentativa de estupro ou estupro. Entre as justificativas para possível linha de investigação, o delegado Rhudson Barcelos afirmou que era, “entre aspas, plausível, um feminicídio diante de uma briga entre marido e mulher”.

Rhudson disse que o crime foi cometido após uma discussão da mãe com seu marido, em outra declaração que causou polêmica e foi bastante criticada nas redes sociais.

Nesse dia, a vítima tinha tido discussão com marido no sítio da família. Saíram 11h15 de casa do sogro, e a sogra pediu para que ela não levasse a filha adolescente, mas a mãe não viu problema.”

Além de muitas críticas nas redes sociais, as falas do delegado foram alvo de um protesto em frente à delegacia na noite desta terça-feira (14). Um novo protesto, com presença de amigos e familiares das vítimas, foi realizado no início da noite desta quarta-feira (15). Eles pedem o aprofundamento das investigações.

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No próximo sábado (18) será realizada uma passeata por ruas da cidade com as presenças de familiares e amigos das vítimas. O ato sai às 8h do Marco Zero, em frente ao Memorial Casa de Dona Dedé.

OAB repudia delegado

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Subseção Guanambi, também emitiu uma nota nesta quarta-feira (15). “A Diretoria da Subseção da OAB-BA de Guanambi, repudia, com veemência, os silogismos dantes postos, incompatíveis com o comportamento que se exige de agente publico”, diz um trecho da nota

Veja nota da OAB na íntegra

A Diretoria Executiva da Ordem dos Advogados do Brasil Subseção de Guanambi-Ba, que alberga volição sobre a categoria aderida na sua circunscrição territorial, cientificada da entrevista, no termo de tempo de 14/12/2021, da Autoridade Policial condutora, a época, do Inquérito Policial para se apurar a autoria do crime que impactou todo a microrregião de Guanambi, quando pesamos que já se viu de tudo, mas uma jabuticaba brota .

Prima facie, na faceta da soberba e no tom jocoso, em passagens das locuções, que não se amoldam na rigorosa impessoalidade, serenidade, discrição, que se exige dos agentes públicos, sobretudo, diante do impacto concentrado em toda comunidade pela brutalidade do crime .

Acalentar, relembrando, não cabe a agente público, que alberga meramente a imposição nas cinéticas de suas funções investigar, colhendo provas, fatos e circunstancias, opinando na materialização de quem acredita ser o sujeito de ter cometido o delito, indicando a adequação do factum a previsão abstrata legiferante do tipo penal, exercer juízo de futurologia acerca de eventual tese de defesa, que seria “furada”, pois o “titio sabe presidir um inquérito” .

A defesa técnica advém de juízo de racionalidade do advogado na preservação das faculdades de seu constituinte, menoscabo a esta, sobretudo por agente publico, no exercício de suas atribuições, rompe com o conjunto de atividades do cargos, no mínimo fraturando a urbanidade, centrada na cooperação, respeito, entre os diversos atores jurídicos que aderem o complexo da práxis da ordem jurídica Pátria. Em nível mediato, desrespeita toda a coletividade, pois a salvaguarda desta, do arbítrio estatal é a Advocacia.

Ainda, incursionar sobre vestes do gênero feminino, insinuando que o eventual libido, que teria motivado o delito, deriva do antecedente, é remanescer com a superestrutura do patriarcado, em que a mulher era tida como objeto, e, não sujeito, mas, “o que veste um estupro é a ignorância herdada de séculos” (Inde Stefania Girardi Rossato) .

Assim, a Diretoria da Subseção da OAB-BA de Guanambi, repudia, com veemência, os silogismos dantes postos, incompatíveis com o comportamento que se exige de agente publico .

GBI-BA, 15/12/2021

EDVARD DE CASTRO COSTA JUNIOR

Entenda o caso

Os corpos de Alcione Malheiros Teixeira Ribeiro, de 42 anos, e sua filha, a estudante Ana Julia Teixeira Fernandes, de 16, foram encontrados no último domingo (12) em um riacho às margens da BR-030.

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Alcione e sua filha Ana Julia (Imagem: reprodução)

Marco Aurélio da Silva, 36, foi preso após ser identificado como proprietário de uma moto que fora abandonada na região. Após negar de início, ele confessou o crime e explicou que executou as vítimas com um tijolo.

Na época, o delegado Rhudson Barcelos explicou que as roupas que as mulheres vestiam foram arrancadas por Marco Aurélio, mas elas não foram estupradas.

Assista ao vídeo da Entrevista Coletiva

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