Redação Pragmatismo
Direita 25/Nov/2021 às 15:05 COMENTÁRIOS
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Músico antifascista é espancado por 10 homens em SP

Publicado em 25 Nov, 2021 às 15h05

Supremacistas estrangeiros estão em São Paulo fazendo integração com células locais. Local onde ocorreu o ataque foi pichado dias antes com suásticas

Gil Luiz Mendes, Ponte

O final de semana em São Paulo foi marcado por episódios protagonizados por supremacistas de ultra direita. Um homem foi agredido por um grupo de pelo menos 10 homens na frente de um bar no bairro de Pinheiros, zona oeste da cidade. Na região central, foi relatada a presença de neonazistas de fora do Brasil que estariam no país fazendo integração com células locais.

No sábado (20), o músico Dennis Sinned, de 38 anos, iria se apresentar no Bomber Pub. Antes do show, ele estava junto com um amigo em frente ao estabelecimento quando cerca de dez pessoas foram em direção à dupla e os atacaram com socos, pontapés e garrafadas.

Levei chutes na cabeça e no tórax. Ouvi eles dizendo pra chutar na cabeça. Meu amigo recebeu garrafadas, mas conseguiu entrar rapidamente dentro do bar. Eu fiquei na calçada apanhando”, lembra Dennis.

Músico antifascista espancado homens SP
Dennis Sinned (Imagem: reprodução)

O músico, que teve seu telefone celular quebrado e vários ferimentos pelo corpo, relatou o ocorrido nas redes sociais. Ele revela que prestou queixa no 14º DP (Pinheiros), mas tem medo de dar mais detalhes sobre o episódio.

Ainda estou resolvendo essa parte das medidas legais e estou um pouco assustado. Recebi ameaças”, conta.

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Músico antifascista espancado homens SP
Publicação de Denis no Facebook

Vítima dos ataques, Dennis acredita que o ataque tenha sido premeditado, já que o evento era público, sua banda é abertamente antifascista e dias antes o local do show tinha sido pichado com suásticas.

Infelizmente tem crescido essa onda neonazista no país. O discurso e a ideologia do presidente dão força pra esse tipo de ataque. Estamos vivendo um momento muito triste na nossa história. Regredimos muito”, lamenta o músico.

Músico antifascista espancado homens SP
Bomber Pub recebe vários públicos durante a semana (Imagem: Celso Tavares | g1)

Dennis foi socorrido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e encaminhado ao Hospital da Lapa, onde recebeu assistência médica e foi liberado depois de levar 6 pontos na cabeça.

O caso foi registrado como lesão corporal no 14° Distrito Policial (DP) em Pinheiros. A Polícia Civil é a encarregada por investigar e localizar os autores do crime.

Fique por dentro: Polícia Civil de SP investiga grupo por apologia ao nazismo

Após a publicação deste texto, um dos responsáveis pelo Bomber Pub pediu a alteração do título da reportagem onde o estabelecimento foi identificado como um bar antifascista. Antes disso, três frequentadores haviam identificado o espaço como antifascista, incluindo Dennis. Segundo foi informada a reportagem, no local funcionam vários estúdios de música e com um público diverso, não sendo restrito a punks e antifascistas.

Durante a apuração desta matéria o Bomber Pub foi procurado e informou: “No momento estamos tomando as medidas para preservar as pessoas agredidas e relatar às autoridades policiais. Por enquanto preferimos não nos manifestar a respeito”. Procurada, a Secretaria de Segurança Pública que o caso está sendo investigado pelo 14º DP (Pinheiros).

O crescimento da onda neonazista no Brasil é comprovado em números. Segundo dados da ONG Safernet, em 2019 foram contabilizadas 1.071 denúncias anônimas de neonazismo na internet brasileira, envolvendo 544 páginas. Um ano depois, esse número subiu para 9.004 denúncias anônimas e 3.884 páginas, destas, 1.659 foram removidas.

Combatidos na Alemanha, motoqueiros supremacista estão no Brasil

O Gremium Motorcycle Club é um grupo surgido na Alemanha no início dos anos 1970 e desde 1988 está proibido de manter atividades pelo pelo ministério do interior de Baden-Württemberg sob acusação, dentre outras coisas, de tráfico humano, narcotráfico e prostituição ilegal.

O grupo é caracterizado por usar as cores preta e branca, os termos “black seven” e o número “7667”, coletes com o nome do país em que seus integrantes fazem parte, a imagem de um punho subindo por entre as nuvens, além da cruz de ferro, conhecido símbolo nazista.

Músico antifascista espancado homens SP extrema direita
Colete com símbolos do grupo divulgado nas redes (Imagem: reprodução)

Uma célula desse grupo existe no Brasil. Mais especificamente na Vila Matilde, bairro da zona leste de São Paulo, o grupo denominado GP/MC São Paulo Brasil costuma se encontrar em um estúdio de tatuagem e em uma barbearia, como mostram as fotos que o grupo publica em suas redes sociais. Cerca de 15 integrantes estrangeiros do Gremium estão em São Paulo hospedados em um hotel na Rua Augusta, depois de terem passado pela Colômbia e pelo México.

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Membros do Gremium são recebidos em São Paulo (Imagem: reprodução)

Eu fiquei assustada com a quantidade de células que esse grupo tem espalhado pelo mundo e quantidade de pessoas que participam desses grupos. Eles têm membros desde a Tailândia até o Brasil”, explica a jornalista Letícia Oliveira, que monitora grupos supremacistas e neonazistas no Brasil.

Outros grupos de motociclistas estariam fazendo a recepção e segurança desses estrangeiros em São Paulo. Há relatos de que o grupo teria tentado agredir pessoas na região da Praça Roosevelt, local próximo do hotel onde estão hospedados.

Dennis afirma que os seus agressores não eram estrangeiros, pois escutou pessoas falarem em português enquanto batiam nele. “Tinham uns homens armados esperando no carro que não entraram na briga”, relembra.

Especificamente, esse tipo de grupo não se apega tanto ao discurso de raça pura como havia no nazismo pregado por Adolf Hitler durante a primeira metade do século XX, mas a pauta do supremacismo, por isso tem maior adesão em países periféricos fora da Europa.

O Brasil tem uma tradição de fascismo. O maior movimento fascista fora do continente europeu foi o integralismo brasileiro. O projeto de Bolsonaro é supremacista e eles vêm isso com bons olhos. Mesmo não sendo, essas pessoas que entram nesses grupos consideram que fazem parte de uma elite branca”, explica Letícia Oliveira.

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