Homem é assassinado após reclamar do preço da carne no RS
Após reclamar do preço da carne, homem foi espancado até a morte pelo gerente do estabelecimento com socos e chutes. Vítima deixa esposa e três filhas. Funcionários limparam sangue e comércio voltou a funcionar após assassinato
com Jennifer Gularte, GZH
O vendedor ambulante Wagner de Oliveira Lovato, 40 anos, havia encerrado o sábado (2) de trabalho na Avenida Presidente Getúlio Vargas, em Alvorada (RS), Região Metropolitana de Porto Alegre, após conseguir vender todos os salgados.
Com uma bolsa térmica e o valor que havia ganho no dia guardado no bolso, entrou no Shopping das Carnes por volta das 20h. Reclamou do preço da carne e ao sair foi agredido por dois homens, um deles gerente do estabelecimento. Tombou no primeiro soco. Acabou desfalecendo na rua em que sempre trabalhou e era conhecido.
A Polícia Civil apura o motivo das agressões e como a discussão começou. Dois homens estão presos. Wagner foi dono de uma agropecuária por seis anos. O empreendimento faliu durante a pandemia, ele chegou a trabalhar em outro estabelecimento do mesmo ramo e foi taxista. Por não ter o próprio carro, largou as corridas e passou a vender salgados e pães feitos pela esposa. Dois primos de Wagner o descrevem como alegre, muito bem humorado, alto astral e trabalhador.
“Ele era conhecido por essas características. Fazia brincadeiras, mas era alguém que cumpria com suas responsabilidades, estava sempre junto da família. Não é alguém que chegaria e puxaria uma briga. Estamos desolados, é difícil de acreditar no que aconteceu. Passamos por uma pandemia sem perder ninguém da família e agora perdemos dessa forma desumana um ente tão querido”, diz o assistente de ensino e pesquisa Everton Lovato.
A técnica de enfermagem e socorrista Taimanda Lovato estava chegando com o pai no Shopping das Carnes no começo da noite de sábado quando viu o Samu socorrendo o primo. Não entendeu o que estava acontecendo, olhou para o chão e identificou que era Wagner: “Queria entender se ele tinha caído no chão, se havia sido um acidente. As pessoas que estavam lá nos disseram que ele entrou para comprar carne e fez alguma reclamação do valor, algum questionamento. Não sabemos ao certo”.
De acordo com a polícia, as reclamações do vendedor teriam causado uma confusão na frente do açougue. “A motivação seria a discussão entre a vítima e os suspeitos em função do atendimento. O que os agressores disseram é que perguntaram o motivo de a vítima sair sem comprar nada e que ela reclamou do preço da carne e qualidade dos produtos”, disse o delegado Edimar Souza, da DHPP (Delegacia de Investigação de Homicídios e Pessoas Desaparecidas) de Alvorada.
Testemunhas relataram à polícia que as agressões continuaram mesmo depois que a vítima caiu na calçada, já sem sentidos. Os agressores não tiveram as identidades reveladas pela polícia e aguardam audiência de custódia.
“Ele não conseguiu se defender. No primeiro soco já caiu inconsciente no chão. Só pararam porque testemunhas se debruçaram por cima do meu primo no chão”, conta Taimanda.
Uma tomografia detectou pressão intracraniana e sangramentos fortes, o que impossibilitou a realização de cirurgia. “Todos os demais órgãos estavam estáveis, morreu de morte cerebral pela pancada na cabeça. É uma brutalidade gigantesca. Como outro ser humano pode fazer isso sem motivo nenhum? Porque se é só reclamação de preço, é sem motivo. Quando estávamos saindo do açougue na ambulância, eles já estavam limpando o sangue com balde de água e continuaram trabalhando normalmente. Abriram normalmente no domingo. Todos nós moramos perto, não tem como não passar na frente”, desabafa a prima.
Wagner morava a cinco minutos a pé do local em que foi agredido. Vivia com a esposa e dois filhos, um de quatro anos e outro recém nascido, de dois meses. Também tinha uma filha de 21 anos e era avô.
A esposa de Wagner publicou um desabafo no Facebook: “Após terminar de vender seus salgados, entrou no estabelecimento para comprar carne e reclamou dos valores. O segurança em um ato desumano retirou ele a força e em frente ao estabelecimento começou a agressão. Wagner logo caiu desacordado, mas mesmo assim as agressões continuaram por parte do segurança e gerente. Nenhuma família deve sentir o que estamos passando agora”.
Shopping das Carnes
Em nota, o Shopping das Carnes disse que colabora com as investigações: “Nós, do Shopping das Carnes, lamentamos profundamente a morte de Wagner de Oliveira Lovatoo. Estamos adotando todas as medidas possíveis para auxiliar as autoridades na apuração das responsabilidades neste ato criminoso em frente ao estabelecimento em Alvorada. O funcionário envolvido neste episódio inaceitável foi afastado pela empresa e está sob custódia da polícia. O Shopping das Carnes abriu as portas há apenas três meses e emprega 32 funcionários instruídos a atender com respeito e atenção ao cliente. Estamos profundamente consternados com este episódio inexplicável. Não toleramos, nem admitimos, nenhum tipo de violência”.