Redação Pragmatismo
Corrupção 23/Jun/2021 às 15:34 COMENTÁRIOS
Corrupção

Deputado que revelou esquema de corrupção na Covaxin terá segurança reforçada

Publicado em 23 Jun, 2021 às 15h34

Mensagens mostram deputado alertando Bolsonaro sobre 'esquema de corrupção pesado' na compra da Covaxin. O parlamentar acabou boicotado pelo presidente e pagou um preço alto por tocar no assunto, o que indica que Bolsonaro já sabia de tudo

luis miranda bolsonaro
Luís Miranda e Bolsonaro

O presidente da República, Jair Bolsonaro, foi avisado com bastante antecedência sobre o esquema de corrupção que envolvia a compra das doses da vacina indiana Covaxin. As informações são dos irmãos Miranda.

Luis Ricardo Fernandes Miranda é chefe da divisão de importação do Ministério da Saúde. O irmão dele, Luís Miranda (DEM-DF), é deputado federal. O parlamentar divulgou para a imprensa nesta quarta-feira (23) as mensagens de alerta ao presidente Jair Bolsonaro.

Inicialmente, áudios e mensagens foram enviados por WhatsApp a um assessor pessoal de Jair Bolsonaro antes de o Ministério Público Federal passar a investigar as irregularidades.

“Avise o PR [presidente da República] que está rolando um esquema de corrupção pesado na aquisição das vacinas dentro do Ministério da Saúde. Tenho provas e as testemunhas. Sacanagem da porra… A pressão toda sobre o presidente e esses ‘FDPs’ roubando”, escreveu o parlamentar às 12h55 do dia 20 de março. Como resposta, o auxiliar de Bolsonaro respondeu com uma Bandeira Nacional.

Uma hora depois, Miranda insistiu: “Não esquece de avisar o presidente. Depois, não quero ninguém dizendo que eu implodi a República. Já tem PF [Polícia Federal] e o caralho no caso. Ele precisa saber e se antecipar”. Da mesma forma, a resposta foi com o símbolo nacional.

Em seguida, o parlamentar afirmou ao auxiliar do presidente que estaria “a caminho”, dando a entender que faria uma visita a Bolsonaro no Planalto.

Naquele mesmo 20 de março, após enviar as mensagens, Luis Miranda e o irmão Luis Ricardo estiveram no Palácio do Planalto. Tanto o deputado federal quanto o irmão devem ser ouvidos pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 na próxima sexta-feira (25/6).

No dia 22 de março, Luís Miranda encaminhou documentos para o mesmo auxiliar do presidente Bolsonaro. “Meu irmão quer saber do presidente da República como agir”, insistiu.

Boicote

Ao invés de enaltecido, Luís Miranda afirmou que pagou um preço alto por informar a Bolsonaro sobre a corrupção no Ministério da Saúde — o que indica que o esquema já era de conhecimento do presidente.

Em entrevista à CNN, Miranda informou que passou a ser boicotado pelo governo desde aquele dia. “A única emenda parlamentar que eu tinha foi vetada pelo próprio presidente”, disse. “Denunciar a corrupção não é coisa fácil”, acrescentou.

Luís Miranda também disse que considera que o ex-ministro da Saúde, general Pazuello, teve medo quando soube do esquema. “Ele tem amor a vida dele”, disse. Ele afirmou também que, no fim da história, vai sair muita “gente presa do ministério da Saúde”.

Após balançar as estruturas do governo com a denúncia, o parlamentar pediu proteção policial. Nesta quarta-feira, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) informou que a CPI concederá segurança ao parlamentar, seu irmão e familiares.

“A CPI da Covid estará requisitando segurança para o Deputado Luís Miranda, ao irmão e aos familiares. As informações que o Deputado está declinando à imprensa e que trará a esta CPI, são de extremo interesse público. Sua vida e de sua família precisam estar resguardadas.”, escreveu Randolfe nas redes sociais.

Entenda o caso

O Ministério Público Federal investiga o contrato assinado pelo governo brasileiro, em fevereiro de 2021, para a aquisição de 20 milhões de doses da Covaxin. O governo Bolsonaro pagou US$ 15,00 por cada uma das doses — o maior valor por unidade entre todas as vacinas compradas pelo governo.

O valor da compra é 1000% superior ao que foi indicado em telegramas sigilosos entre o Itamaraty e a embaixada indiana, meses antes. Em 2020, a diplomacia estimava que o valor seria de US$ 1,34 por dose, cerca de 100 rúpias.

Também chama atenção o fato de que, diferentemente das outras vacinas adquiridas pelo Ministério da Saúde, o contrato foi articulado com a Precisa Medicamentos, representante da Bharat Biotech no Brasil, e não com o próprio laboratório.

Em depoimento ao Ministério Público Federal, Luís Ricardo Fernandes disse que o governo fez “pressão anormal” para a compra da vacina indiana e para favorecer a Precisa Medicamentos, empresa que intermediou a compra. Ao jornal O Estado de S. Paulo, Luís Miranda, o deputado, disse que seu irmão chegou a ser demitido.

Miranda procurou o então ministro Eduardo Pazuello para reverter a demissão do irmão. “Fui despachar com o Pazuello e falei que ele (Luís Ricardo) estava sendo exonerado porque estava denunciando um esquema de corrupção. Vou explodir na mídia se fizerem isso com o garoto”, ameaçou o deputado, contando a conversa que teve com o general.

Pazuello teria respondido o seguinte: “Luís, eu não estou sabendo do caso, mas, se de fato não tiverem nada, o chefe dele não tiver nada que comprove alguma coisa contra ele, vou dar sem efeito a exoneração”.

Em novembro de 2020, Bolsonaro disse que não pagaria qualquer preço pela Coronavac, vacina chinesa que já salvou milhares de vidas brasileiras. A dose da Coronavac custou ao país R$ 58, enquanto a Covaxin, que ainda sequer foi aplicada no Brasil, saiu por R$ 80.

Luis Ricardo Miranda e Bolsonaro, em encontro no dia 20 de março de 2021

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