Anderson Pires
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Governo 01/Abr/2021 às 08:09 COMENTÁRIOS
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Temos que conter o genocídio

Anderson Pires Anderson Pires
Publicado em 01 Abr, 2021 às 08h09

Chega de negacionismo. Chega de charlatanismo com prescrição de cloroquina, ivermectina e tratamento precoce. Basta de fundamentalismo na condução de um país.

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(Imagem: Paulo | Fotos Públicas)

Anderson Pires*

A situação da pandemia chegou em nível acima das piores previsões. Os hospitais estão lotados, faltam leitos de UTI, risco de desabastecimento de oxigênio e kit para intubação. Por mais leitos que se abra, o vírus se espalha bem mais rápido e os infectados e mortos avançam.

As mortes praticamente triplicaram durante março. Sem uma medida drástica, que restrinja a circulação efetivamente, podemos ter números ainda piores. Nesse caso, não estamos contabilizando produtos, dinheiro ou qualquer mercadoria, estamos falando de vidas.

É verdade que muitos trabalhadores e empresários estão literalmente com a corda no pescoço. As perdas acumuladas em 2020 foram absurdas e, mesmo diante de um cenário de colapso no sistema de saúde, apelam para que as atividades continuem abertas, na esperança de que possam faturar qualquer valor.

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Existe um mix de desespero e negacionismo que alimenta o quadro de desastre em que se encontra todo Brasil. Aliado a isso, o Governo Federal não aponta perspectivas que sirvam de alento para quem está em busca de uma luz, por menor que seja, para sair desse buraco no qual estamos metidos.

Falta ação governamental em âmbito federal. Não adianta buscar arremedos por parte de Estados e Municípios. A estes só cabem medidas de contenção da pandemia, muito pouco podem fazer para socorrer empresas e trabalhadores. Quem tem condições de promover ações que produzam resultados que amparem quem está à beira do precipício e possibilite uma retomada da economia é a União. Só ela pode produzir déficit e dinheiro para que todos saiam do caos em que nos encontramos.

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Ou se joga dinheiro na economia, com garantia de renda e crédito, ou teremos os piores efeitos econômicos para o país. Essa medida nada tem de progressista ou inovadora. Em todos os momentos de crise que o mundo capitalista viveu, a receita de Keynes foi aplicada como forma de salvamento de empregos e empresas. A maior economia do mundo já aprovou seu plano com base nessa premissa e vai injetar dois trilhões de dólares, que serão distribuídos como renda para a população, créditos para empresas e combate à pandemia. Isso tudo às custas de déficit fiscal.

Não estamos falando aqui em fazer dívida para pagar salários do funcionalismo ou gastos com a máquina estatal. É dinheiro para salvar vidas. Só assim teremos como justificar medidas restritivas para quem está agonizando e promover uma mobilização nacional que acabe com a dicotomia entre saúde e economia.

Alguns dos mais renomados economistas e grupos financeiros já se manifestaram. Viram que a conta pode ser muito maior se essas medidas não forem tomadas. Indiretamente, também avisam que se o presidente do Brasil não tem condições de gerir a crise atual, os demais segmentos políticos, empresariais e jurídicos terão que tomar as rédeas e colocar o país num rumo que aponte para uma saída equilibrada.

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Em escala menor temos os governos locais, que precisam aumentar as restrições para que o sistema de saúde consiga respirar. Caso contrário, continuaremos a escutar histórias de pessoas morrendo por falta de ar, ou em decorrência de condições inapropriadas de atendimento. É impossível uma estrutura física de equipamentos, de insumos, e, principalmente, de pessoal, suportar uma demanda quatro vezes maior do que se verificava em 2020, quando a situação já era caótica.

A única alternativa é parar, antes que tenhamos que empilhar corpos pelas calçadas, como já verificamos pelo mundo. Chega de negacionismo. Chega de charlatanismo com prescrição de cloroquina, ivermectina e tratamento precoce. Basta de fundamentalismo na condução de um país. O Brasil vive um genocídio, são mais de três mil mortes por dia, isso não tem como negar.

*Anderson Pires é formado em comunicação social – jornalismo pela UFPB, publicitário e cozinheiro.

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