Redação Pragmatismo
Saúde 14/Jan/2021 às 14:43 COMENTÁRIOS
Saúde

Amazonas vive cenário de guerra e médicos transportam oxigênio nos próprios carros

Publicado em 14 Jan, 2021 às 14h43

"As pessoas estão morrendo sufocadas em casa", alerta epidemiologista. Com os hospitais sem oxigênio, leitos da Covid-19 viraram câmaras de asfixia no AM. Médicos se desdobram por conta própria e transportam cilindros em seus carros. Pacientes que sobreviverem devem ficar com sequelas cerebrais permanentes

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Manaus vive uma crise de abastecimento de oxigênio, com o aumento de internações por Covid-19 em hospitais da capital. A principal empresa que fornece o insumo informou, na semana passada, que está com dificuldades de produção. Segundo especialistas, médicos e familiares de pacientes, o cenário é de guerra.

O total de mortos em residências no Amazonas passou de 3.201 pessoas, em 2019, para 4.418 no ano passado. O local da morte é sinal da incapacidade do sistema hospitalar de internar, intubar e tratar os pacientes com Covid-19, de acordo com o pesquisador e epidemiologista Jesem Orellana, da Fiocruz/Amazônia. E o colapso já se repete em 2021.

Levantamento da rede pública de saúde citado pelo pesquisador mostra que nos dez primeiros dias de dezembro de 2020 morreram 64 pessoas em domicílios em Manaus. Nos dez primeiros dias de janeiro, porém, o número saltou para 137 – aumento de 114%.

“Há pessoas literalmente morrendo sufocadas em suas casas”, disse o especialista. “São centenas de pacientes em fila para internação em leito clínico e de UTI [Unidade de Terapia Intensiva]. Na terça-feira recebi dois chamados desesperados de conhecidos pedindo alguma dica para internar parentes deles em Manaus. É o colapso. Um parente meu, com 80% de saturação, estava praticamente sem respirar. E não tem a menor possibilidade de internar em leito. Estou revivendo o que assisti em abril de 2020. É simplesmente uma repetição, mas em uma escala maior”, disse Orellana.

De acordo com o pesquisador, estão lotados os 465 leitos de UTI para casos confirmados de Covid-19 e 80 leitos para casos suspeitos, enquanto há “centenas” de pessoas aguardando a internação. Na comparação com setembro do ano passado, a ocupação de leitos clínicos por pacientes com síndrome respiratória aguda grave por Covid-19 aumentou 636%.

Câmaras de asfixia

“Estão relatando efusivamente que o oxigênio acabou em instituições como o Hospital Universitário Getúlio Vargas e serviços de pronto atendimento, como o SPA José de Jesus Lins de Albuquerque”, afirma Orellana. “Há informações de que uma ala inteira de pacientes morreu sem ar”, completa.

A informação de que a situação é crítica foi confirmada pelo reitor Sylvio Puga, da UFAM (Universidade Federal do Amazonas), que administra o Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV). Segundo ele, doentes estão sendo transferidos para o Piauí.

“Acabou o oxigênio e os hospitais viraram câmaras de asfixia”, diz o pesquisador Jesem Orellana. “Os pacientes que conseguirem sobreviver, além de tudo, devem ficar com sequelas cerebrais permanentes.”

Médicos por conta própria

No Hospital Getúlio Vargas na manhã desta quinta-feira (14), uma reportagem da TV Globo presenciou cenas de tensão e desespero devido às dificuldades ocasionadas pelo colapso no sistema de saúde. Médicos transportando cilindros nos próprios carros para trazer ao hospital e familiares tentando comprar o insumo foram algumas das cenas registradas.

“Hoje nos foi comunicado que não tem oxigênio. A saturação da minha irmã está em quase 60%. E não é só ela. Vários pacientes estão na mesma situação. Isso é um descaso. Um descaso. Descaso. Dentro de um hospital federal como esse não ter oxigênio? Eu ter que comprar? Espero que as autoridades, o governo, alguém possa nos ajudar”, desabafou Solange, irmã de uma paciente.

Para tentar salvar a vida da irmã, Solange está em busca de um cilindro de oxigênio pela cidade. Ela teme que a peregrinação não tenha efeito e ela não consiga chegar a tempo.

“Estou tentando correr atrás, estou indo atrás de alguém que encha o cilindro. Mas não é só a minha irmã. Graças a Deus a gente ainda pode comprar, mandar encher. Mas e quem não pode? Como fica? Tem muita gente morrendo. Muita gente. E cadê o governo?”, questionou

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