Delmar Bertuol
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Governo 15/Jul/2020 às 21:20 COMENTÁRIOS
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As forças armadas e o governo

Delmar Bertuol Delmar Bertuol
Publicado em 15 Jul, 2020 às 21h20
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(Imagem: Adriano Machado | Reuters)

Delmar Bertuol*, Pragmatismo Político

Causou alvoroço a fala do Ministro do STF Gilmar Mendes de que o Exército contribui para um genocídio ao ter um General da Ativa, não especialista em saúde, como Ministro Interino da Saúde, num momento em que o Brasil está com mais de setenta mil mortes por coronavírus.

Não sei se o Ministro exagerou no mérito da questão. Que os números são por definição do termo um genocídio eu concordo. Se as mortes ocorrem com a ajuda do Exército ou apesar da ajuda dele é discutível. Se caberia ao Ministro fazer essa fala, ao que consta, gratuita, é ainda mais polêmico.

Na essência do seu pensamento, contudo, acho que Gilmar Mendes e eu estamos acordados.

Há centenas de civis aptos a ocuparem postos-chaves no Governo(?) Bolsonaro. São pessoas que aliam o chamado perfil técnico com meandros políticos. Sim, pois os mais altos cargos do governo são políticos. E não há problema nenhum nisso, a princípio.

O que quero dizer é que Bolsonaro não precisa das Forças Armadas na composição do seu governo(?). Há outras formas de demonstrar apreço pelo “braço armado do estado”, já que ele faz questão disso. Muito mais pruma em tese proteção do que por real admiração.

As Forças Armadas, por sua vez, fazem pior. Dão um tiro de fuzil no pé. Coturno não segura.

Passados mais de trinta anos de duas décadas de Ditadura Militar (sim, foi ditadura), as forças armadas estavam se fortalecendo enquanto instituição que devia, e somente isto, ser uma instituição de estado, a serviço do governo no limite da legalidade e vigiada pela premissa democrática.

De 1985 pra cá, tivemos oito eleições diretas, dois impeachments, um governo neoliberal e um governo esquerdista. Fomos governados por uma mulher torturada nos porões do regime da citada Ditadura. Depois, ela sofreu um golpe. Em nenhum desses governos e momentos ou militares interferiram.

Estavam timidamente ganhando o respeito até do movimento esquerdista do País, já que historicamente no Brasil o militarismo é relacionado a forças direitistas.

Pois isso se modificou nas eleições de 2018, em que grande parte dos militares, sobretudo oficiais da reserva, declararam apoio a Jair Bolsonaro. Uma vez vencida a eleição, com a ajuda da disseminação de notícias falsas, ao que tudo indica, Bolsonaro cada vez mais se aproxima das Forças Armadas, obrigatoriamente relacionando suas trapalhadas e irresponsabilidades a elas. Expondo os oficiais às suas fraquezas e deslizes. Sim, pois militares não são seres super-humanos imunes a erros, enganos e mesmo má-fé. Sim, houve corrupção na Ditadura Militar. A censura não nos permitia saber.

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Erra o Exército e as outras forças ao se alinharem a alguém que ele próprio expulsou por mau comportamento, o Tenente Bolsonaro, que ganhou o título de Capitão como uma bonificação de aposentadoria. Aos 34 anos.

Se as Forças Armadas não quiserem cair mais em descrédito, urge se afastar deste governo(?), mal visto por grande parcela da população, da mídia (que, agora, o Presidente(?) pateticamente acusa de comunista) e da comunidade internacional. Exército, Marinha e Aeronáutica são estatais, não governamentais. Sofrendo ou não um impeachment, o que parece ser iminente, este governo(?) vai sair. As instituições, Forças Armadas inclusive, ficarão. Resta saber, com que credibilidade?

*Delmar Bertuol é professor de história da rede municipal e estadual, escritor, autor de “Transbordo, Reminiscências da tua gestação, filha”

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