Redação Pragmatismo
Educação 29/Jun/2020 às 16:16 COMENTÁRIOS
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Posse de Decotelli é adiada após revelação de novas mentiras

Publicado em 29 Jun, 2020 às 16h16

Governo Bosonaro adia posse de novo ministro da Educação após revelação de novas mentiras. Militares que indicaram Carlos Decotelli estão constrangidos e Ministério Público abre investigação

Decotelli doutorado
Weintraub, Bolsonaro e Decotelli (Imagem: Nathalia Bignon/Socialismo Criativo)

Ao anunciar o nome do novo ministro da Educação na última quinta-feira (18), o presidente Jair Bolsonaro foi às redes sociais para destacar o currículo do escolhido, Carlos Alberto Decotelli da Silva.

“Informo a nomeação do Professor Carlos Alberto Decotelli da Silva para o cargo de ministro da Educação. Ele é Doutor pela Universidade de Rosário, Argentina e Pós-Doutor pela Universidade de Wuppertal, na Alemanha”, escreveu Bolsonaro, orgulhoso.

O que se seguiu, a partir do tuíte do presidente, foi o desmonte de uma farsa. O reitor da Universidade de Rosário veio à público e disse que Decotelli não tem doutorado pela instituição.

O doutorado falso, revelado pelo reitor da universidade, foi apenas a primeira mentira descoberta. O ministro se manifestou e afirmou que concluiu todo o curso, completou todos os créditos e só não fez a defesa de tese. Segundo ele, porque não tinha mais interesse em continuar na Argentina.

O reitor não apenas rebateu mais essa mentira, como revelou outra: Decotelli teve sua tese de doutorado reprovada pela banca. “A tese dele não foi aprovada e não recebeu um parecer favorável da banca. Portanto, ele não pôde concluir o doutorado que estava realizando na Universidade Nacional de Rosário. E, como consequência, não obteve o título de doutor.”

Como não tem doutorado, a revelação da farsa do ‘pós-doutorado’ seria uma questão de tempo. E foi o que aconteceu nesta segunda-feira (29).

A Universidade de Wuppertal, da Alemanha, se manifestou hoje através de nota. “Carlos Decotelli veio para a cadeira da profa. Dra Brigitte Wolf para uma pesquisa de três meses em 2 de janeiro de 2016. Até 2017 ela era professora de teoria do design, com foco em metodologia, planejamento e estratégia na Universidade de Wuppertal e agora é emérita. Ele não adquiriu nenhum título em nossa universidade”, afirmou a instituição.

Na plataforma Lattes do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Carlos Alberto Decotelli modificou seu currículo no final de semana e apagou a referência ao doutorado. Hoje, o ministro voltou a editar o currículo após a manifestação da universidade alemã. O pós-doutorado já não consta mais no arquivo.

Plágio no mestrado

No sábado, 27, a dissertação de mestrado do ministro também foi colocada sob suspeita após o economista Thomas Conti apontar, no Twitter, possíveis indícios de cópia no trabalho, de 2008.

Ele citou trechos na dissertação idênticos a um relatório do Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul) para a Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A FGV informou que vai investigar a suspeita de plágio.

Posse adiada e constrangimento

A posse de Decotelli foi adiada pelo governo de Jair Bolsonaro depois de reveladas as mentiras em seu currículo. A cerimônia estava marcada para amanhã, às 16 horas, mas segundo o jornal O Estado de S. Paulo apurou, o Planalto já avisou que ela não ocorrerá nesta data.

O próprio grupo militar que indicou o ex-professor está constrangido porque foi surpreendido pelos problemas acadêmicos e está avaliando a repercussão do caso. Ele também perdeu o apoio que tinha entre professores da Fundação Getulio Vargas (FGV). Enquanto isso, a ala ideológica ligada a Olavo de Cervalho e aos filhos do presidente estão tentando derrubá-lo antes mesmo de tomar posse.

Investigação

O Ministério Público junto ao TCU (Tribunal de Contas da União) entrou com uma representação para que o órgão adote medidas para apurar possíveis prejuízos ao erário decorrentes da nomeação do novo ministro da Educação.

O MP cita a teoria dos motivos determinantes que orientaram a escolha do seu nome pelo presidente da República e que uma eventual invalidade do ato de nomeação do novo ministro da Educação resultaria na necessidade de ressarcimento aos cofres públicos de despesas incorridas.

O MP usa como exemplo o pagamento de subsídios a Decotelli nos dias em que exerceu (ou exercerá) o comando da pasta ministerial e possível indenização por mudança de domicílio.

O órgão também pede que seja investigado se os cursos inconclusos foram custeados com recursos públicos federais, mediante alguma bolsa de estudo patrocinada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) ou pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), com diligências a esses órgãos.

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