Racismo não

Crispim Terral volta à CAIXA após ser humilhado e agredido

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De cabeça erguida, com lágrimas nos olhos e sob aplausos, Crispim Terral comparece a protesto popular realizado dentro da agência da Caixa onde foi humilhado e estrangulado

Crispim Terral (reprodução)

O empresário Crispim Terral, 34, compareceu nesta quarta-feira (27) a um protesto na agência da Caixa Econômica Federal onde foi humilhado por gerentes e estrangulado por policiais.

Crispim, que é proprietário de uma farmácia em Salinas da Margarida, no Recôncavo baiano, chegou ao local de cabeça erguida e foi recebido sob aplausos e aclamação. Ele estava visivelmente emocionado.

A manifestação foi organizada pelo movimento negro e ocorreu de maneira pacífica. Crispim estava acompanhado da esposa, Geni Pimentel Lima. A filha de 15 anos que presenciou e filmou toda a violência permanece abalada.

“Todo esse apoio que recebo fez eu me sentir abraçado. Me emocionei ao chegar aqui. Não tenho palavras para dizer no local onde fui excluído pela cor. Nunca senti isso. Ouvia só relatos sobre o racismo. Mas eu vivi esse momento e é muito doloroso”, disse Crispim.

Rafael Manga, um dos organizadores da manifestação, ressaltou a importância do protesto.“Muitas vezes dizem que o racismo é ‘mimimi’. Isso, que povo branco tenta colocar na nossa cabeça, está matando cada vez mais”, alertou.

“Tínhamos que fazer hoje. Essa é uma das agências mais populares da cidade que tem uma quantidade enorme de negros, nós somos a maioria. Não podemos aceitar esse racismo institucionalizado, viemos dizer à sociedade que Crispim não está sozinho. O racismo mata o nosso povo de várias formas”, completou Hamilton Oliveira, que também encabeçou a manifestação.

O professor e psicólogo Walter Takemoto, de 64 anos, afirmou que um gerente da Caixa, a princípio, pediu que os manifestantes não entrassem na agência. Mas, ao perceber que o grupo não cederia, liberou a entrada.

“Se tivessem impedido nossa entrada, a gente ia bloquear as entradas, seria pior. Então, o que fizemos foi entrar pacificamente e explicar aos clientes o porquê de estarmos ali, e que o que aconteceu com o Crispim foi, sim, racismo. Nosso objetivo foi mostrar o descaso com o qual administram a agência e a importância de discutir o racismo”, comentou Takemoto.

“Não tem nem 15 dias que vimos coisa parecida com Pedro Gonzaga, no Supermercado Extra. E eu penso que se Crispim fosse mais jovem, mais franzino, quem sabe não poderia ter acontecido coisa pior. O golpe foi o mesmo”, lembrou o professor.

O gerente e as algemas

Um dia depois das agressões contra Crispim Terral, a Caixa Econômica Federal anunciou o afastamento do gerente que humilhou que Crispim. No vídeo, o gerente diz frases como “não negocio com esse tipo de gente” e “eu só vou para a delegacia se ele [Crispim] for algemado”.

André Cruz, advogado de Crispim, falou à imprensa. “A gente vai buscar o enquadramento ou no crime de racismo ou de injúria racial. Precisamos responsabilizar os efetivos culpados pelos constrangimentos sofridos por Crispim”, disse.

Jerônimo Mesquita, presidente da Comissão dos Direitos Humanos da OAB-B, destacou o fato de que a exigência por algemas, por parte do gerente da Caixa, já indica um ato exagerado para a situação.

“Antes mesmo de chegar à violência, aquilo já é absurdo. Há uma súmula no Supremo Tribunal Federal (STF) que diz que o uso de algemas deve ser excepcional. A vítima apenas reivindica direitos, quer esclarecimentos”, ressaltou.

Jerônimo também comentou que o PM não poderia ter cedido ao pedido do gerente da loja, que exigiu a prisão do empresário. “Um servidor público tem o dever de se recusar a cumprir esse tipo de ordem, que chamamos de manifestamente ilegal, o policial tinha que ter se negado a cumprir. Crispim não oferecia risco à vida de ninguém ali”, concluiu.

Crispim Terral

Durante dois meses, Crispim Terral vem mantendo contato com a agência da Caixa para receber o comprovante de pagamento de dois cheques — um no valor de R$1 mil e outro no de R$1.056. Ambos foram devolvidos pela agência, em novembro do ano passado, sob alegação de que não havia saldo na conta para compensá-los.

Crispim relata que a confusão começou após um dos gerentes do banco o deixar por quase cinco horas à espera de atendimento no último dia 19 de fevereiro. Já era a oitava vez que ele ia ao banco e não recebia atendimento adequado.

Crispim, que é pai de 5 filhos, estava acompanhado da filha de 15 anos. Depois de se recusar a ser algemado como exigiu o gerente, o empresário acabou recebendo um estrangulamento de um dos PMs.

O empresário foi conduzido pelos policiais em uma viatura à Central de Flagrantes e autuado por desobediência e resistência. Em seguida, ele procurou uma unidade de saúde onde recebeu atendimento por sentir fortes dores no maxilar, cabeça, pescoço e ombro esquerdo.

Ele prestou uma queixa contra os PMs na Corregedoria da Polícia Militar na quarta-feira (20). Segundo o relato do empresário, registrado na Corregedoria e disponibilizado por ele em uma rede social, os soldados Roque da Silva e Rafaeal Valverde Nolesco iniciaram as agressões físicas contra ele.

A íntegra do relato de Crispim Terral pode ser vista AQUI.

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