Redação Pragmatismo
América Latina 22/Fev/2019 às 22:13 COMENTÁRIOS
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O Brasil erra ao se envolver nas provocações contra a Venezuela

Publicado em 22 Fev, 2019 às 22h13

Professor de Relações Internacionais da UFABC explica, em 6 pontos, os últimos acontecimentos na Venezuela e por que o Brasil erra ao aceitar ordens dos EUA

Brasil Venezuela Bolsonaro
O presidente Jair Bolsonaro (captura)

por Igor Fuser*

1. A Venezuela jamais representou qualquer tipo de ameaça ao Brasil. É um país amigo, de conduta irretocável nas relações bilaterais.

2. O fechamento da fronteira é uma atitude defensiva, de caráter preventivo, diante da instalação, em território brasileiro, de atores que ameaçam cruzar a fronteira, sem autorização da Venezuela, levando uma suposta ajuda humanitária – na realidade uma provocação voltada para deslegitimar e desestabilizar o governo venezuelano.

3. O governo de Bolsonaro age de forma irresponsável ao facilitar o envolvimento do Brasil na campanha dos EUA para a derrubada do governo Maduro. Já foi um grave erro romper relações com Caracas e reconhecer um usurpador que não tem legitimidade jurídica para exercer o cargo de presidente e que, na prática, não controle nem menos um único milímetro quadrado do território venezuelano. Mais grave ainda é colocar o Brasil numa posição de guerra iminente contra um país vizinho e pacífico, sem qualquer motivo para isso.

4. O envolvimento do Brasil nas provocações contra a Venezuela é algo que vai contra qualquer concepção do interesse nacional brasileiro. Não é interesse do Brasil uma guerra na nossa fronteira norte, tampouco é do nosso interesse a invasão da Venezuela por tropas dos EUA ou teleguiadas pelo governo estadunidense. Ao contrário: um confronto desse tipo só trará problemas e dificuldades ao Brasil, a começar pelo ingresso de multidões de refugiados.

5. O discurso dos EUA em favor da “ajuda humanitária” é uma grande palhaçada. Ajuda humanitária verdadeira, quem faz são organizações idôneas, qualificadas para essa tarefa, como a Cruz Vermelha Internacional, a Cáritas e os Médicos sem Fronteiras. Nenhuma das entidades tem qualquer relação com a ação provocativa dos EUA e inclusive a Cruz Vermelha já denunciou a manipulação política que está por trás dessa operação. Vale ressaltar, também, que os próprios EUA são os principais responsáveis pela falta de alimentos e de remédios na Venezuela, em consequência das sanções e do boicote econômicos implementados a partir de Washington. Se o governo Trump quisesse, de fato, ajudar os venezuelanos, bastaria suspender as medidas cruéis adotadas contra o povo da Venezuela.

6. Cabe a todos nós, brasileiros de bom senso, denunciar a conduta irresponsável das autoridades brasileiras perante a crise venezuelana e defender o direito à soberania do país vizinho, contra qualquer tipo de interferência externa.

Ator americano Danny Glover fala sobre o plano dos EUA:

*Igor Fuser, jornalista, é doutor em Relações Internacionais e professor da Universidade Federal do ABC

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