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Eleições 2018 24/Out/2018 às 15:57 COMENTÁRIOS
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Perícia diz que jovem marcada com suástica pode ter mentido; defesa contesta

Publicado em 24 Out, 2018 às 15h57

Perícia do Rio Grande do Sul afirma que jovem de 19 anos fez os riscos por conta própria ou alguém fez com o consentimento dela. A garota, por sua vez, diz que ficou paralisada em ataque de pânico enquanto era atacada. Defesa se manifesta: "A sociedade sempre relativiza a palavra de uma mulher que se diz vítima"

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A investigação policial sobre a suástica marcada no corpo de uma garota de 19 anos em Porto Alegre contradisse – com base em uma perícia oficial, análise de câmeras e duas dezenas de testemunhas – a versão informada à polícia pela jovem.

A suposta vítima, de identidade não revelada, afirmou ter sido atacada por três homens que a teriam agredido e marcado o símbolo em seu corpo. Ela foi acusada formalmente de comunicação falsa de crime. O inquérito deve ser encaminhado à Justiça. O Ministério Público ainda não se manifestou. Para a defesa, que reafirma o relato de ataque à jovem, a conclusão é precipitada e criminaliza a vítima.

A acusação da polícia se baseia principalmente no laudo do Instituto Geral de Perícias do Rio Grande do Sul, divulgado nesta quarta-feira (24). O documento indica que as lesões não podem ser consideradas cortes, mas arranhões superficiais, uniformes e contínuos com padrões “que demandariam cuidado na sua produção“.

A perícia afirma que não há marcas de lesões no rosto dela e indica três hipóteses para os ferimentos em forma de suástica: foram auto-infligidas, feitas com o consentimento dela ou, no mínimo, sem que ela tenha esboçado reação.

Não há lesão em nenhum dos 20 traços na pele. São arranhões, e não cortes. A perícia indica que foi usado um objeto contundente, como um brinco ou um clipe, mas não cortante como um canivete. Mesmo quando a vítima está imobilizada os cortes não são tão uniformes ou superficiais assim“, afirmou à BBC o delegado responsável pelo caso, Paulo Jardim, da 1ª Delegacia de Porto Alegre.

Em depoimento à polícia, a garota afirmou que foi atacada na rua logo após sair de um ônibus porque usava uma camiseta com os dizeres “#EleNão”, em referência à campanha de setores da esquerda contra o candidato presidencial Jair Bolsonaro (PSL). A jovem disse ter ficado paralisada num ataque de pânico enquanto sofria socos e cortes. Segundo ela, dois a seguraram enquanto um terceiro a feriu com um canivete.

Imagens e depoimentos

O delegado afirmou não ter encontrado imagens ou testemunhas que confirmem a versão da garota. Foram analisadas, segundo ele, as imagens de 12 câmeras que cobrem a área apontada pela jovem à polícia, mas não há nada nos registros relacionado ao caso. Mais de 20 pessoas, entre moradores, comerciantes e guardadores de carro da região, também foram ouvidos.

Até pedimos em um site da região, que tem mais de 300 mil seguidores, para que testemunhas trouxessem informações sobre o caso, mas ninguém apareceu“, disse Jardim.

Para a defesa, a hipótese de vítima paralisada reafirma, e não refuta como diz a polícia, o depoimento da garota.

A sociedade sempre relativiza a palavra de uma mulher que se diz vítima. O delegado já estava predisposto a essa conclusão ao falar que era um símbolo budista na barriga dela, e não nazista. Ela disse não ter reagido porque teve uma crise de pânico ao ser cercada e agredida“, afirmou a advogada Gabriela Souza, que representa a garota.

Ainda segundo Souza, o laudo não representa o fim das investigações e “qualquer conclusão antes de esgotada a avaliação de todos os elementos possíveis é precipitada e pode não representar a realidade dos fatos“.

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Matheus Magenta, BBC

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