Eleições 2018

Jornal Nacional esconde denúncia de Caixa 2 contra Bolsonaro

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Denúncia que pautou todo o noticiário brasileiro nesta quinta-feira (18) e que ganhou repercussão até na imprensa internacional foi omitida no Jornal Nacional. Emissora ainda veiculou comercial da Havan no intervalo

William Bonner, apresentador e editor-chefe do Jornal Nacional

A denúncia que revelou um esquema de fraude eleitoral e de caixa 2 na campanha do candidato Jair Bolsonaro (PSL) pautou todo o noticiário brasileiro nesta quinta-feira (18), menos o Jornal Nacional.

Editado por William Bonner, o telejornal de maior audiência da tevê brasileira limitou-se a divulgar uma nota a respeito do episódio.

De maneira suspeita, a Globo ainda exibiu um comercial das Lojas Havan durante o intervalo do Jornal Nacional. Luciano Hang, proprietário da Havan, é um dos empresários apontados no esquema da manipulação da eleição através do WhatsApp em favor de Bolsonaro.

A Globo decidiu não fazer com Bolsonaro o que costumava fazer com Lula. Denúncias da Veja, da Folha e da IstoÉ contra o ex-presidente petista sempre mereceram destaque no Jornal Nacional, que já chegou a veicular reportagens de mais de 20 minutos onde esmiuçava as publicações dos veículos impressos.

O Jornal Nacional desta quinta ainda veiculou uma entrevista exclusiva com Bolsonaro em que o candidato falou sobre suas propostas e sequer tocou no assunto da denúncia.

A denúncia

Uma reportagem do jornal Folha de S.Paulo publicada na edição desta quinta-feira (18) revelou que empresários brasileiros estão investindo milhões, de maneira ilegal, para fazer disparos de mensagens em massa pelo Whatsapp contra o PT e o seu candidato a presidente Fernando Haddad.

Cada contrato de “pacote de mensagens” pode chegar a até R$ 12 milhões. A rede de lojas Havan, de Luciano Hang, está entre as empresas compradoras. A prática configura crime de caixa 2, pois o dinheiro não está sendo declarado.

Além disso, a prática também é ilícita por se tratar de doação empresarial de recursos, proibida pela atual legislação eleitoral.

A operação envolve o envio de centenas de milhares de mensagens pelo Whatsapp e estaria sendo arquitetada para a semana que antecede a votação do segundo turno das eleições, no próximo dia 28.

A Polícia Federal foi acionada, nesta quarta, para que investigue as denúncias de irregularidades associadas as fake news, doações não declaradas do exterior, propaganda eleitoral irregular e uso indevido do aplicativo WhatsApp.

As mensagens contra Haddad e a favor do candidato Jair Bolsonaro (PSL) são enviadas a partir de uma base de dados dos apoiadores do capitão reformado ou compradas de agências de marketing digital, o que também é considerado ilegal, pois a legislação proíbe a venda de dados de terceiros.

A reportagem revela que o preço de cada mensagem pode variar entre R$ 0,08 a R$ 0,12 quando utilizada a base de apoiadores de Bolsonaro e até R$ 0,40 quando utiliza a base das próprias prestadoras.

Estas listas de contatos também teriam sido adquiridas de maneira ilegal por meio de empresas de cobrança ou por funcionários de empresas de telefonia.

QuickmobileYacowsCroc Services e SMS Market estão entre as agências que estariam prestando o serviço ilegal. A Quickmobile nega envolvimento e a Yacows afirmou que não vai se manifestar. Já a SMS Market não respondeu aos questionamentos da reportagem. O empresário Luciano Hang, amigo pessoal de Bolsonaro, também nega participação.

Já o candidato Jair Bolsonaro pagou R$ 115 mil à agência AM4 Brasil Inteligência Digital, segundo prestação de contas fornecida ao Tribunal Superior Eleitoral.

A reportagem apurou que a AM4 Brasil utiliza ferramenta que fornece números de telefones de fora do país, utilizados como administradores para assim escaparem de filtros e limitações locais impostos pelo WhatsApp, assim podendo incluir grupos com o maior número de participantes, bem como o repasse automático de mensagens para mais grupos e pessoas.

A empresa ainda utilizaria algorítimos para diferenciar os usuários de cada grupo, classificando-os como apoiadores, neutros ou opositores, para personalizar o tipo de mensagem enviada.

Reações

O presidente do PDT, Carlos Lupi, anunciou que vai pedir a anulação da eleição presidencial por conta da denúncia feita hoje pelo jornal Folha de S. Paulo.

“O problema das fake news é muito grave, mas agora a compra do envio em massa de fake news contra o PT foi para um outro patamar. É crime. É abuso do poder econômico. Vamos pedir a nulidade das eleições, isso aí vai dar um oba-oba bom”, disse Lupi ao jornal O Globo.

Em entrevista concedida em agosto deste ano, o ex-presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Luiz Fux reafirmou que o Código Eleitoral brasileiro prevê a anulação de uma eleição caso seu resultado tenha sido influenciado pela disseminação de notícias falsas.

“Com relação à tutela do campo eleitoral em si, nós temos o direito de resposta, que tem muita eficiência, nós temos multas, temos a cassação de diplomas e nós temos uma previsão que está expressa no artigo 222 do Código Eleitoral”, afirmou o ministro.

O Artigo 222 do Código Eleitoral diz que “é também anulável a votação, quando viciada de falsidade, fraudes, coação, usa de meios de que trata o Art. 237 – interferência do poder econômico e o desvio ou abuso do poder –, ou emprego de processo de propaganda ou captação de sufrágios vedado por lei”.

“Uma fake news pode criar uma poluição informacional capaz de gerar no eleitor uma dúvida e colocá-lo em uma posição na qual ele não vai indicar aquele que pretendia fazê-lo no prévio eleitoral”, disse Fux.

Haddad

A coligação de Fernando Haddad entrou com uma ação de investigação judicial eleitoral no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por abuso de poder econômico contra a chapa de Bolsonaro e Luciano Hang, dono da rede de lojas Havan.

Caso seja comprovado o abuso de poder econômico por parte da campanha, o presidenciável pode se tornar inelegível por oito anos.

Segundo Haddad, uma possibilidade é inclusive a de prisões em flagrante, pois se trataria de um “crime continuado” — ou seja, que continua sendo cometido. O candidato falou também de pedidos de prisão preventiva para que haja “normalidade democrática” nesta reta final de segundo turno.

Haddad afirmou que há testemunhas de reuniões em que Bolsonaro teria pedido apoio de empresários para atuação no WhatsApp, mas não quis dar nomes. “Ele deixou rastro, e vamos atrás do rastro”, disse o candidato petista.

Poucas horas depois, Haddad voltou a tratar do tema em nova entrevista para jornalistas e em postagens no Twitter. Ele citou reportagem da revista “Piauí” feita em fevereiro que descreve uma reunião entre empresários paulistas e o então pré-candidato ao PSL.

“O deputado Jair Bolsonaro participou de um jantar em que pediu recursos para o WhatsApp. Todo mundo sabe disso e foi publicado na imprensa inclusive, pela revista Piauí.

“A verdade é que Bolsonaro tentou fraudar a eleição. Felizmente, não deu primeiro turno. Porque se desse primeiro turno, isso ia tudo para debaixo do tapete”, concluiu Haddad.

Veja aqui o que Jair Bolsonaro diz sobre as denúncias.

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