Redação Pragmatismo
EUA 21/Jun/2018 às 19:13 COMENTÁRIOS
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"Já vi muitas coisas, mas desta vez foi mais difícil"

Publicado em 21 Jun, 2018 às 19h13

Experiente fotógrafo que registrou a imagem da criança que virou símbolo da separação de famílias migrantes nos EUA conta a história por trás da foto

foto John Moore migrantes nos EUA
Imagem feita por John Moore virou símbolo

Era para ser só mais um caso policial na fronteira: outra família migrante sem documentos capturada na região de McAllen, no Texas, um dos pontos mais movimentados na divisa com o México.

Mas o fotojornalista John Moore, da Getty Images, estava lá – e apontou suas lentes para uma menina que chorava desesperadamente enquanto via sua mãe ser detida pelos agentes de segurança.

A imagem resultante se tornou um símbolo da dolorosa situação que crianças migrantes – e seus pais – enfrentam no processo de separação.

Em pouco tempo, a imagem viralizou – reforçando as críticas à política do governo Donald Trump de separar famílias migrantes na fronteira.

O fotógrafo contou à BBC: “Gostaria de ter passado mais tempo com elas, mas não pude. A mãe disse que vinham de Honduras, que estava viajando havia um mês com sua filha de dois anos.”

“A mulher deve ter 30 anos de idade e estava carregando a filha no colo”, diz Moore.

“O agente de fronteira pediu a ela que deixasse a criança no chão para que pudesse fazer sua identificação e uma revista corporal”, diz o fotógrafo. Mas assim que ela acatou o pedido, “a criança começou a chorar”.

Moore diz que a cena o impactou, embora trabalhe na região da fronteira com o México há mais de dez anos e já tenha atuado também em locais como o Paquistão e o Oriente Médio.

“Tive de parar para tomar um pouco de ar”, diz Moore. “Sou um jornalista, mas também um pai. Tenho filhos jovens. Sei como crianças dessa idade sofrem com ansiedade de separação.”

O fotógrafo achou difícil assistir à cena, porque sabia que a menina seria separada da mãe de acordo com a nova política migratória dos EUA.

“É algo que já vi muitas vezes”, ele disse, “mas desta vez foi mais díficil”.

‘Já vi muitas coisas’

As fotos foram feitas ao fim de um longo dia de trabalho, no qual Moore acompanhou agentes de fronteira americanos.

“Tirei essas fotos perto da meia-noite”, disse. “Mas, antes disso, vi migrantes serem perseguidos por (policiais usando apoio de) cães e helicópteros. Já vi muitas coisas.”

Ele também viu um grupo de pessoas tentando atravessar o rio Bravo – que delimita boa parte da fronteira entre o México e o EUA – em quatro botes.

Eles haviam partido da cidade mexicana de Reinosa – e, após cruzar o rio, seguiram adiante.

Moore acredita que essas pessoas tenham se reunido num local próximo a McAllen conhecido como ‘El Rincón’.

“Tornou-se um ponto de encontro para famílias migrantes que planejam pedir refúgio nos EUA”, ele diz.

“Essas pessoas estavam muito assustadas”, relata o fotógrafo. “Eles eram em sua maioria mulheres e crianças da América Central. A maioria deles estava exausta, sonolenta e ansiosa.”

Eles haviam viajado separadamente, mas se uniram para continuar a jornada dentro dos EUA.

Foi numa trilha de terra que a mãe e sua filha foram barradas pela patrulha que Moore acompanhava.

Os agentes “foram profissionais e não maltrataram os migrantes”, diz Moore.

Depois de identificados, foram levados a centros de detenção.

Moore não viu mais a menina após tirar a foto.

Guillermo D. Olmo, BBC News

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