Redação Pragmatismo
Eleições 2018 12/Abr/2018 às 14:15 COMENTÁRIOS
Eleições 2018

Bolsonaro gasta mais de meio milhão em passagens pagas com dinheiro público

Publicado em 12 Abr, 2018 às 14h15

Jair Bolsonaro gasta mais de meio milhão de Reais em viagens pagas com dinheiro público na pré-campanha. O presidenciável multiplicou por oito os gastos com viagens a estados fora da sua base. O contribuinte também paga diárias em hotéis para o filho de Bolsonaro e sua equipe

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Lúcio Vaz, Gazeta do Povo

Com passagens pagas pela Câmara dos Deputados, o pré-candidato a presidente da República Jair Bolsonaro (PSL-RJ) multiplicou por oito os gastos com viagens a estados fora da sua base eleitoral, em comparação com a legislatura anterior.

Em muitas das viagens, é acompanhado pelo filho deputado, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que costuma levar assessores da Câmara nos eventos. O contribuinte também paga diárias em hotéis para Eduardo e sua equipe. Juntos, pai e filho gastaram R$ 520 mil em passagens e hospedagens.

Os números extraídos dos arquivos da Câmara revelam que a pré-campanha de Bolsonaro começou em 2015. Naquele ano, foram 24 deslocamentos, ao custo total de R$ 45 mil em passagens aéreas.

Em 2016, ano do impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT), houve uma redução, com 15 viagens e gastos de R$ 37 mil. Mas, no ano passado, o número de viagens voltou a subir: 19 cidades em 26 deslocamentos, com despesas de R$ 46 mil.

No dia 29 junho de 2017, por exemplo, Jair Bolsonaro foi atração na 19ª Transposul (Congresso de Transporte e Logística), em Porto Alegre. Foi elogiado pelas lideranças empresariais gaúchas e recebeu promessas de voto.

“O Transporte de Rodoviário de Cargas estará apoiando você se for candidato à Presidência da República. Por favor, ganhe a presidência”, afirmou o presidente do Sindicato do Transporte do Mato Grosso do Sul, Cláudio Cavol.

“Minha especialidade é matar”

Durante coletiva de imprensa, mais uma frase polêmica. Questionado sobre o uso medicinal da fosfoetanolamina, a “pílula do câncer”, que contou com o seu apoio, Bolsonaro respondeu: “Se cura ou não cura, eu não sei. Sou capitão do Exército, minha especialidade é matar”.

O pré-candidato estava acompanhado por Eduardo Bolsonaro e pelo assessor Gildevânio Diniz, do gabinete do filho. As passagens dos três custaram R$ 9 mil aos cofres públicos.

Eduardo ainda esteve em Passo Fundo, no interior do Rio Grande do Sul. Gastou mais R$ 359 no hotel Deville, em Porto Alegre, e R$ 199 no hotel San Silvestre, em Passo Fundo.

A mesma equipe viajou para Ribeirão Preto (SP), em 17 de agosto, onde Bolsonaro levou uma ovada no peito de uma militante de esquerda numa cafeteria. Pai e filho gravaram um vídeo para relatar o fato, veiculado no Facebook de Eduardo. As passagens dos três custaram R$ 4,2 mil.

Na viagem a Campina Grande (PB) e João Pessoa (PB), em fevereiro, Bolsonaro foi acompanhado do assessor Wolmar Júnior, enquanto o filho levou o assessor Erico Costa. Todas as passagens saíram por R$ 6 mil.

Na visita a Vitória, em 1º de abril de 2016, Jair e Eduardo foram novamente acompanhados por Gildevânio. Mais R$ 7 mil de despesas com passagens. A sua palestra foi marcada por polêmicas. Uma jovem questionou a ausência de negros no evento. O pré-candidato respondeu que não havia nenhuma placa do lado de fora proibindo a entrada de negros.

Bolsonaro já estivera em Porto Alegre em 26 de janeiro de 2016, em evento ainda mais polêmico. Em audiência tumultuada na Assembleia Legislativa, militantes contra e a favor do deputado trocaram chutes e socos.

Movimentos sociais realizaram um “Beijaço LGBT”, criticaram o machismo e a homofobia e chamaram Bolsonaro de fascista. “Bolsonaro, guerreiro; orgulho brasileiro”, responderam seus seguidores.

O filho Eduardo contava com a assessoria de Gildevânio no evento, enquanto Bolsonaro tinha o apoio do assessor Ney de Oliveira Muller. Mais R$ 8 mil em despesas com passagens, sem contar os R$ 480 da diária no Hotel Accor, apresentada por Gildevânio.

Despesas com passagens aumentam

As viagens pelo país fizeram crescer proporcionalmente as despesas de Bolsonaro com passagens. Na legislatura de 2007 a 2011, incluindo as viagens para sua base eleitoral, o Rio de Janeiro, foram apenas R$ 49 mil com passagens – cerca de 10% do que gastou com a cota para exercício da atividade parlamentar.

De 2011 a 2015, esse gasto subiu para R$ 248 mil – 19% do total da cota. Na atual legislatura, já são R$ 365 mil – 38% da cota. Só no ano passado, consumiu R$ 120 mil com passagens – 54% dos gastos do gabinete.

Eduardo Bolsonaro tem atividade ainda mais intensa. Ele percorre o país divulgando o projeto político do pai. Na atual legislatura, ele gastou R$ 381 mil em passagens com viagens para estados fora da sua base eleitoral.
O estado mais visitado foi o Rio de Janeiro, com gastos de R$ 180 mil.

Em seguida, Porto Alegre, com R$ 62 mil. Nesses valores, estão incluídos os deslocamentos dos seus assessores. Somadas as viagens feitas ao estado de São Paulo, o gasto chega a R$ 580 mil na atual legislatura.

Na sua prestação de contas, há 19 diárias de hotéis, com um gasto de R$ 5,8 mil. A diária mais cara foi de R$ 510, no total Plaza de Blumenau, paga pelo assessor Eduardo Guimarães. Ele também pagou diária de R$ 178 no Hotel Gale, na Praia do Futuro, em Fortaleza.

Na viagem a Manaus, em dezembro de 2015, foram apresentadas duas notas de diárias no mesmo valor – R$ 448 – uma de Guimarães e outra de Floriano Amorim.

“Nós subiremos a rampa”

Nos eventos pelo país, Bolsonaro toma cuidado para não dizer que está em campanha ou que é candidato. Mas, às vezes, ele deixa escapar o seu projeto. Em fevereiro deste ano, em Dourados (MS), avisou:

“Não queremos apoio de políticos que derrubam o país. Podem me chamar de tudo, só não me chame de corrupto”. Em seguida, fez quase uma promessa: “Temos uma chance viva de mudar o comandante desta nação. No dia 1º de janeiro, nós subiremos a rampa de Brasília”.

Em visita a Londrina (PR), em maio, avançou um pouco no seu discurso de pré-candidato: “Gente com o meu perfil pode estar à frente do Brasil em 2018″. Mas logo fez um recuo tático: “Só serei candidato se vocês desejarem”.

Em junho de 2015, ele já falava em ser presidente. Numa audiência pública em Blumenau (SC), afirmou: “O Brasil terá um presidente de direita em 2019”. Após o compromisso oficial, foi tomar café na Pastelaria Chinesa, local visitado por candidatos em campanha. “Dizem que quem toma café aqui vira presidente. Tomei dois para ser reeleito”, brincou o deputado.

A caravana da família também divulga o programa do pré-candidato. Em dezembro do ano passado, em Manaus, falando sobre segurança pública, disparou: “Se alguém diz que quero dar carta branca para policial militar matar, eu respondo: quero sim. O policial que não atira em ninguém e atiram nele, não é policial”.

Em Belém, no mês de outubro, ele já havia tocado no tema: “No que depender de mim, com a ajuda de vocês, todos terão porte de arma de fogo”. Ele também criticou a performance do Museu de Arte Moderna de São Paulo em que um homem aparece nu. “Essa história de criança passar a mão em homem nu não vai ter não”.

(Imagens: Gazeta do Povo)

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