Redação Pragmatismo
Cinema 07/Fev/2018 às 23:34 COMENTÁRIOS
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Uma Thurman quebra silêncio sobre Tarantino e Harvey Weinstein

Publicado em 07 Fev, 2018 às 23h34

Ao jornal "The New York Times", atriz Uma Thurman fala do assédio do produtor Harvey Weinstein e como foi vítima de grave acidente de 'Kill Bill' (vídeo revelado), ao filmar cena perigosa sem dublê

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Uma Thurman em Kill Bill (reprodução)

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É por isso que Uma Thurman está zangada“.

Uma Thurman foi estuprada. Ela foi assediada sexualmente. Ela foi traida por pessoas que ela conhecia e iludida por aqueles em quem ela confiava. Ela foi pressionada e levada a um evento que deixou sequelas físicas até hoje. Embora isso lembre o enredo de KILL BILL, filme de Quentin Tarantino estrelado por ela e produzido por Harvey Weinstein, estamos falando da história real de Uma. E os dois homens citados têm tudo a ver com esse sofrimento.

Em outubro de 2017, em meio a várias denúncias contra Harvey Weinstein, Uma Thurman declarou que não falaria nada naquele momento porque ela queria ficar “menos zangada” antes de falar qualquer coisa. Hoje, ela falou. “Eu disse ‘zangada’, mas a verdade é que eu tinha medo de chorar enquanto te conto a verdade.”

Uma foi lançada ao estrelato por PULP FICTION, filme que a indicou ao Oscar e tornou Harvey Weinstein um produtor prestigiado e multimilionário. Uma foi apresentada ao produtor depois que o filme já estava fazendo sucesso. “Eu o conheci bem antes dele me atacar. Ele passava horas me falando sobre possíveis projetos, ele me elogiava e me validava. Mas eu nunca fui uma queridinha do estúdio. Ele me mantinha numa coleira com os filmes e diretores que ele achava que eram os certos para mim.”

Ainda nos anos 90, Weinstein a convidou para uma reunião em um hotel para discutirem papeis. No meio da reunião, Weinstein apareceu só de roupão. “Eu não me senti intimidada. Achei que ele estava sendo só rotineiro, como um tio doidinho e excêntrico.” Harvey a levou para uma sala parecida com uma sauna e se insinuou para ela. Uma perguntou o que ele estava fazendo e Harvey foi embora.

Pouco tempo depois, ele a atacou novamente em uma reunião. “Ele me empurrava pra baixo e tentou se esfregar em mim. Ele tentou ficar pelado pra mim. Ele tentou todo tipo de situação desagradável. Eu me sentia um animal me torcendo para fugir, como uma lagarta.”

No dia seguinte, Harvey a mandou um buquê de flores. Os assistentes dele a ligavam o tempo todo para falar de projetos. Uma pensou em confrontá-lo. Uma sabia do que os homens de Hollywood eram capazes: quando ela tinha 16 anos, foi estuprada por um ator 20 anos mais velho.

Ele agendou uma reunião com ela em um hotel. Uma foi acompanhada de Ilona Herman, maquiadora (que trabalhou em Kill Bill, anos depois). Ilona a esperou na porta do elevador, depois que os assistentes de Harvey a convenceram a subir até o quarto e falar com ele. Assim que Uma entrou, ela disse a Harvey: “Se você fizer o que fez comigo com outras pessoas, você vai perder sua carreira, sua reputação e sua família. Eu te prometo isso.”

Horas depois, a porta do elevador abriu e Thurman parecia devastada. “Ela estava muito abatida e tinha uma expressão vazia no rosto. Os olhos dela estavam arregalados e ela estava fora de controle. Eu a empurrei para dentro do táxi e fomos para a minha casa. Ela tremia muito.” Harvey prometeu que acabaria com a carreira dela.

A partir daquele dia, Uma o tomou com inimigo. Ela só se reunia com ele em situações supervisionadas.

Em 2001, Uma Thurman estava grávida no Festival de Cannes, se reunindo com Quentin Tarantino. KILL BILL, um filme baseado numa ideia que Uma e Quentin tiveram juntos ainda na época de Pulp Fiction. Uma tentava convencer Tarantino a não trabalhar com Harvey. Quentin já sabia da história e desconversou da primeira vez, dizendo que “o Harvey estava sempre tentando ter as garotas que ele não pode ter“. Em Cannes, Uma o lembrou de novo do ocorrido e Quentin decidiu confrontar Weinstein.

Weinstein disse que ela estava louca e que ele estava ressentido pelas acusações. Uma o confrontou pessoalmente. Ele pediu desculpas a ela.

Mas a relação de Uma e Quentin Tarantino mudou desde então.

Quentin cuidou pessoalmente de algumas das medidas sádicas que a Noiva sofre durante o filme, como a cena em que ela é enforcada pela Gogo e quando Budd cospe na cara dela. Foi Tarantino quem cuspiu.

Faltando quatro dias para terminar as filmagens, Tarantino exigiu que Uma filmasse sem dublê a famosa cena em que ela dirige um carro e fala com a câmera. Uma tinha que dirigir a 65km/h para que o cabelo dela voasse da forma planejada. A estrada era de areia e tinha alguns obstáculos e curvas. O carro bateu numa árvore durante a cena. Uma deu entrada no hospital com uma concussão.

O acidente deixou sequelas até hoje no pescoço e nos dois joelhos da atriz. Ela chama o evento de “minha desumanização ao ponto de morte“.

A Miramax a proibiu de ter acesso à filmagem do acidente, a menos que ela assinasse um documento confirmando que não processaria o estúdio. Ela não assinou. A acusação não deu em nada.

Uma Thurman e Quentin Tarantino não conseguiam mais se encontrar sem brigar. Eles nunca mais fizeram um filme juntos, apesar dele viver prometendo um dia fazer Kill Bill 3.

O filme seguinte de Quentin, À PROVA DE MORTE, trazia Zoe Bell (dublê de Uma Thurman em Kill Bill e parecida com ela fisicamente) sendo jogada do capô de um carro.

Uma não foi a única do elenco de Kill Bill a ser atacada por Weinstein. Daryl Hannah foi assediada pelo produtor e disse que Quentin Tarantino ignorou suas acusações.

Quando eles se voltaram contra mim depois do acidente… Eu deixei de ser uma colaboradora criativa de Kill Bill e uma atriz, eu passei a ser uma ferramenta quebrada.”

Harvey me atacou mas não me matou. O que mais me doeu no acidente foi que tudo aconteceu por uma cena barata. Eu já tinha passado por tanta coisa até aquele momento. Eu sempre senti uma conexão muito forte com o meu trabalho com Quentin e muito do que eu deixei acontecer comigo e fiz parte eram, para mim, como brigar com um irmão mais velho. Mas eu achava que eu estava colaborando, sabe?

Assista ao vídeo:

Quinze anos depois do acidente, Tarantino a entregou a filmagem do ocorrido. “Quentin finalmente se redimiu, certo? Mas agora não importa mais, depois do meu pescoço machucado permanentemente e meus joelhos ferrados.”

Eu levei 47 anos para parar de chamar de ‘apaixonadas por mim’ pessoas que são simplesmente más comigo. Levei um tempo enorme porque, quando somos garotas, nós somos condicionadas a acreditar que crueldade e amor estão interligados. Isso vem de uma época que nós precisamos nos distanciar urgentemente.”

i post this clip to memorialize it’s full exposure in the nyt by Maureen Dowd. the circumstances of this event were negligent to the point of criminality. i do not believe though with malicious intent. Quentin Tarantino, was deeply regretful and remains remorseful about this sorry event, and gave me the footage years later so i could expose it and let it see the light of day, regardless of it most likely being an event for which justice will never be possible. he also did so with full knowledge it could cause him personal harm, and i am proud of him for doing the right thing and for his courage. THE COVER UP after the fact is UNFORGIVABLE. for this i hold Lawrence Bender, E. Bennett Walsh, and the notorious Harvey Weinstein solely responsible. they lied, destroyed evidence, and continue to lie about the permanent harm they caused and then chose to suppress. the cover up did have malicious intent, and shame on these three for all eternity. CAA never sent anyone to Mexico. i hope they look after other clients more respectfully if they in fact want to do the job for which they take money with any decency.

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