Redação Pragmatismo
São Paulo 26/Fev/2018 às 12:20 COMENTÁRIOS
São Paulo

Um olhar para dentro do vagão

Publicado em 26 Fev, 2018 às 12h20
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Lucas Mendes*, Pragmatismo Político

Se você já pegou trem em São Paulo, deve ter visto inúmeras crianças passando pelos corredores dos vagões, seja para vender “pururuca” ou pedir dinheiro aos passageiros.

O amadurecimento prematuro obrigou esses garotos a virarem homem mais cedo. Eles tiveram que abrir mão da própria infância para ajudarem a mãe grávida, que precisa sustentar sozinha os outros filhos, após ser abandonada pelo companheiro.

Os livros escolares foram trocados por sacolas pesadas. A equação de matemática não terminou de ser resolvida, pois a responsabilidade de colocar comida em cima da mesa virou exercício do cotidiano.

Os nordestinos também estão ali dentro, eles tiveram que deixar o conforto de casa para tentar uma vida mais digna nas grandes capitais, enxergada como um berço de oportunidades.

Eles deixaram a tranquilidade da cidade pequena para encarar o ritmo frenético da capital mais desenvolvida do país, onde o dia começa antes do galo – pensar – em cantar.

O canto suave do passarinho na varanda foi interrompido pelo barulho das máquinas industriais. Todo o dinheiro conquistado no trabalho serve para pagar o aluguel caro e comprar o leite do filho pequeno.

Os quilômetros de distância separaram os universitários dos familiares mais queridos. Separaram do aconchego do colo da mãe. Separaram do abraço apertado do pai.

Eles se dividem entre trabalho e estudos. Eles pagam o alto preço de viver longe de casa para realizar o sonho de concluir o ensino superior.

Os colegas de república foram transformados em amigos para ajudar a enfrentar a solidão que parte o coração no meio durante as madrugadas. Na hora de repousar a cabeça sobre o travesseiro, a saudade aperta quando surge às lembranças dos irmãos mais novos.

Essas três histórias ilustram um pouco do cotidiano de milhares de pessoas. Apesar do desânimo que, muitas vezes, nos aflige, acordamos no dia seguinte, lavamos o rosto e, no espelho, nos enxergamos agarrados com a perseverança de dias melhores.

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*Lucas Mendes é jornalista e colaborou para Pragmatismo Político.

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