Redação Pragmatismo
Direita 11/Jul/2017 às 13:37 COMENTÁRIOS
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Afinal, Olavo de Carvalho é subestimado?

Publicado em 11 Jul, 2017 às 13h37

Por que esse que chamam de “astrólogo” é um dos mais importantes mentores da atual geração de jovens direitistas que infesta o Brasil? Seus livros e pensamentos, repletos de teorias da conspiração, sempre foram desprezados por filósofos brasileiros

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Zegomes, GGN

Os filósofos brasileiros subestimam Olavo de Carvalho. Entretanto, esse que chamam depreciativamente de “o astrólogo” é um dos mais importantes mentores da atual geração de fascistas que infesta o país e que derrubou a democracia.

Os filósofos brasileiros, em cima do salto alto, consideram indigno refutá-lo, fazer marcação cerrada em cima dele, talvez porque pensem que assim o estão valorizando, ou talvez porque tenham vergonha dos colegas do mundo acadêmico, se se dedicarem a objeto tão “abjeto”.

Então deu no que deu. Esse homem adquiriu uma estatura de suporte e musculatura de formador máximo da opinião das hordas bárbaras fascistas. Ai, cometi uma gafe, Olavo não gosta dessa palavra!

Olavo de Carvalho disse: Um esquerdista, quando começa a chamar histericamente o adversário de “fascista”, é porque nada sabe contra ele e já perdeu a briga. Temos de espremer a mente esquerdista por todos os lados até que nada mais lhe reste senão o apelo forçado a esse expediente verbal pueril.

Bem, eu que não sou filósofo, nem acadêmico, portanto não tenho reputação a perder, embora possa me expor a vexames, ao pisar numa seara desconhecida, ousei, nos limites do meu escasso tempo de trabalhador, pesquisar alguma coisa sobre esse filósofo autodidata, que podia até se tornar meu ídolo, uma vez que meu sonho é um dia ter tempo para estudar filosofia, autodidata no meu lar.

Li dois livros do homem, O Jardim das Aflições e A Nova Era e a Revolução Cultural, e pesquisei textos seus na internet. Esses dois livros, juntamente com um terceiro chamado O Imbecil Coletivo, compõem o que ele chama de “obras de combate” ou “obras de polêmica”. Aparentemente ele considera O Jardim das Aflições a sua obra prima e recomenda aos leitores não desistirem de ler o livro até o final, porque lá, nas partes finais, encontrar-se-á a grande conclusão, a apoteose do raciocínio elaborado em todo o livro.

Fui lendo, então, sempre na esperança de ao final descobrir o terceiro segredo revelado as pastorinhas de Fátima. Para quem não leu ainda a obra, reservo-me o direito de um pouco de suspense para o epílogo, quer dizer: talvez conte no final qual é a brilhante conclusão.

Por enquanto, Ecce Homo, através de alguns fragmentos.

Olavo de Carvalho disse: “Lição NÚMERO UM da retórica política: Todo ideal tem telhado de vidro, ou melhor, É um telhado de vidro. Não proponham ideal nenhum, modelo nenhum, concentrem-se no “trabalho do negativo”, como o chamava Hegel.
Vocês ainda não perceberam que a grande vantagem do gramscismo e do frankfurtismo sobre todas as estratégias comunistas anteriores reside justamente nisso?

Tradução: Trabalhar o negativo é criticar a esquerda, tudo que cheira a socialismos, utopias. Destruir. Sem propor nada, afinal o mundo como se apresenta está ótimo, não há nada a reformular.

Sendo assim, ficam proibidos qualquer reflexão ou pensamento que parta de uma situação real, de uma carência da humanidade, de algo que possa ser melhorado na vida das pessoas, que possa reduzir o sofrimento das pessoas, que testemunhamos por toda parte. Isso são Utopias.

O pensamento de Olavo de Carvalho é uma teoria da conspiração.

De um lado está um mundo que está bem, que é livre para ter “consciência individual”, onde mesmo os pobres vivem bem (e se não estiverem, deixa pra lá), onde há uma elite que se deu bem por merecimento, porque trabalhou mais, se esforçou mais, que fez as escolhas certas –o tão louvado livre-arbítrio-.

E do outro lado estão os OUTROS: os comunistas, os gramscianos (ele tem horror a esse monstro chamado Gramsci), os católicos de esquerda, os não sei o quê, que estão sempre urdindo, tramando um assalto contra essa harmonia feliz que é o mundo livre para ter “consciência individual”, e querem destruir a liberdade dos outros. Nesse rolo, lógico, entram os petistas e o dragão das sete cabeças denominado Foro de São Paulo.

No balaio conspiratório os petistas estão tramando, os gramscianos estão invadindo o mundo cultural com conceitos marxistas, lutando pela hegemonia no espírito dos jovens, os professores marxistas estão doutrinando. Por isso discussões sobre as nossas situações econômicas, nossos sofrimentos, nossa política, devem ser vedadas porque trazem o risco do maldito Gramsci. Daí para a Escola Sem Partido é apenas um pulo. Olavo, porém, não gosta dessa expressão.

Olavo de Carvalho disse: “O Brasil não precisa de uma escola “sem partido”: precisa de uma escola SEM COMUNISMO”.

Quem quiser que interprete o que isso quer dizer.

A filosofia de Olavo de Carvalho é uma Propaganda. Como a profissão de Propagandista (o termo mais moderno é Publicitário) é muito bem remunerada, Olavo deve ganhar bem.

Olavo é um homem inteligente –e vaidoso-. Nas entrelinhas ele deixa escapar, quase como uma súplica, que não quer ser reconhecido pelas “obras de polêmica”, mas pela outra parte de sua obra – as aulas de filosofia, sua publicação sobre uma nova visão de Aristóteles, etc. Impossível, Olavo. A sua parte propaganda (obsessiva contra o marxismo e contra qualquer coisa que cheire a utopias socialistas, inclusive o pobre PT), que deve lhe dar muito sucesso e dinheiro, irremediavelmente contaminou sua credibilidade.

Essa amostra da obra do filósofo que li, pequena, é verdade, foi, porém, suficiente para recordar-me uma personagem da Escolinha do Professor Raimundo. Aquele aluno que responde a todas as perguntas com entusiasmo e precisão, mas, na última questão… dá um fora espetacular. Não vou contar o gran finale de O Jardim das Aflições, mas vou adiantar que é mais uma teoria da conspiração. Bem elaborada, sim, onde ele, para simular imparcialidade, coloca como um dos conspiradores a grande Riqueza, o César redivivo.

Em O Jardim das Aflições, Olavo consegue até nos empolgar, nós iniciantes na filosofia, com uma didática eficiente. Eu babei com sua explicação da frase de Dilthey “existir é resistir”. Ao ouvir essa frase eu lembrava que meu pai me trouxe pequeno do Piauí para Goiás, procurando melhorias de vida, para não morrer de fome, saindo de uma região paupérrima e isolada para outra melhorzinha, então eu pensava, existimos porque resistimos, kkkkk. Nada a ver, segundo Olavo.

Não devo ser injusto, aprendi alguma coisa com Olavo. Em algum lugar, não sei se em seus textos ou nos de seu guru, o também filósofo autodidata Mário Ferreira dos Santos, de quem andei folheando alguns livros também, encontrei menção ao Curso de Filosofia de Régis Jolivet, que parece ser muito bom para iniciantes autodidatas na filosofia. Vou iniciar o curso.

Mas o presente mais delicioso e delicado que ganhei da minha superficial pesquisa sobre Olavo foi o contato com o poeta espanhol Antonio Machado, cujo poema A un olmo seco ele usa em uma epígrafe:

Al olmo viejo, hendido por el rayo
y en su mitad podrido,
con las lluvias de abril y el sol de mayo
algunas hojas verdes le han salido.

Mi corazón espera
también, hacia la luz y hacia la vida,
otro milagro de la primavera.

Foi impossível não reconhecer nesse poema, imediatamente, aquela força melancólica de grandes poemas, como esse de Leopardi:

Vaghe stelle dell’Orsa, io non credea

Tornare ancor per uso a contemplarvi

Sul paterno giardino scintillanti,

E ragionar con voi dalle finestre

Di questo albergo ove abitai fanciullo,

E delle gioie mie vidi la fine.(…)

Vagas estrelas da Ursa, não pensava

Tornar-vos a ver, voltar a contemplar-vos

Esplendorosas, cintilantes sobre o jardim paterno

E convosco, das janelas, voltar a conversar

Nesta casa onde vivi menino

E vi chegar o fim das minhas alegrias…

Ou todas as poesias de Kaváfis, por exemplo, Lembra, Corpo,:

Lembra, corpo, não só o quanto foste amado,

Não só os leitos onde repousaste,

Mas também os desejos que brilharam

Por ti em outros olhos, claramente,

E que tornaram a voz trêmula – e que algum

Obstáculo casual fez malograr.

Agora que tudo isso perdeu-se no passado… (tradução de José Paulo Paes)

Onde os poetas derramam lágrimas sobre o triste, melancólico, inexorável devir.

Mas nem com Antonio Machado Olavo conseguiu ser honesto.

Olavo de Carvalho disse: “Don Antonio viveu humildemente num quarto de pensão e morreu num quarto de hotel, fugindo da polícia política sem jamais ter sido político.”

Ora, Antonio Machado exerceu cargo na Espanha republicana e morreu num quarto de hotel de uma cidadezinha francesa na fronteira espanhola, onde estava fugindo da polícia fascista de Franco. E não tinha preferências políticas? Conta outra, Olavo.

Se alguém quiser continuar a pesquisa sobre Olavo, quem sabe algum filósofo ou economista poderia escrever alguma coisa sobre a “ordem social espontânea” de Hayek que provoca tantos pruridos em Olavo:

Olavo de Carvalho disse: “Quando o Hayek subiu acima das chinelas, saltando das análises críticas para a teoria ridícula da “ordem social espontânea”, o liberalismo começou a dar o cu aos comunistas e não parou nunca mais.”

Ele tem obsessão por esse orifício que os mamíferos possuem, utilizado para expelir as excretas e para outras coisinhas mais.

Olavo de Carvalho que prega a negatividade (contra as utopias socialistas), às vezes se expõe e deixa escapar uma afirmação positiva a algum padrão, escolhe um modelo:

Olavo de Carvalho disse: “Ao mudar para os EUA, comecei a tomar consciência de toda uma cultura local que não é exportada, que, embora muito vigorosa aqui dentro, não tem voz no mundo, sendo praticamente ignorada no exterior. Estou me referindo a toda a cultura conservadora e cristã, que para minha surpresa era muito mais vigorosa aqui do que poderia ter imaginado. … E os filmes de Hollywood transmitem uma visão exatamente invertida. O que eles retratam como caipiras atrasados, violentos e assassinos, são, conforme descobri na Virgínia, onde eu vivo, o povo mais educado, gentil e civilizado do mundo.”

Ingenuidade ou má-fé? O povo dos Estados Unidos elege os seus chefes que tem como objetivo maior estender mais ainda o império mundo afora. Estender o império significa fazer guerras, matar pessoas, inclusive crianças, expulsar milhões de seus lares, conspirar e derrubar democracias apenas para abrir caminhos cada vez mais amplos e oligopolizados para seus conglomerados empresariais. “América First” significa rapinar o resto do mundo para que America se dê bem, o que beneficia especialmente o 1%, é verdade, mas deixa algumas migalhas para beneficiar também aquele povo mais educado, gentil e civilizado do mundo que vive lá pelo interior dos EUA, e que, de vez em quando, nas igrejas, lança uma moeda para ajudar os famintos da África e América Latina, inocentes que são das políticas de rapina que seus representantes executam mundo afora, e que lhe permite o razoável padrão de vida. Ah, tá, Olavo.

Olavo de Carvalho é um homem inteligente, que usa a sua inteligência, recebida gratuitamente, para, com o seu vigor, irrigar Think tanks cujos objetivos são a escravidão e o vilipêndio de bilhões de seres, sob a desculpa de que está combatendo as “utopias socialistas que mataram milhões de pessoas”. Uma inteligência que se alia a uma causa má. Só podemos dizer: Ai de ti, Jerusalém.

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