Redação Pragmatismo
Barbárie 06/Abr/2017 às 21:50 COMENTÁRIOS
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Soldado torturado em trote no exército perde testículo

Publicado em 06 Abr, 2017 às 21h50

“Eu gritei muito, mas não foi motivo para eles pararem”. Soldado perde testículo após 'trote' nas dependências do exército e quer abandonar carreira militar. Amarrado por superiores e humilhado, ele contou detalhes da covardia a que foi submetido

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Soldado chegou a perder o testículo após sessões de tortura no exército brasileiro

A denúncia de um soldado torturado no 27º Batalhão de Infantaria Paraquedista no Rio de Janeiro revelou o cenário de barbárie e covardia que faz parte da rotina do exército brasileiro.

O caso aconteceu em maio de 2016 mas só agora ganhou publicidade, depois que a ação judicial aberta pelo advogado do soldado deixou de correr em segredo de justiça. As primeiras informações são de Ancelmo Gois, do jornal O Globo.

Torturado diversas vezes nas dependências do exército, o calouro teve lesões tão graves que foi obrigado a remover um testículo em procedimento cirúrgico.

Um grupo de cabos convocou o calouro para passar por um trote. Ele foi levado para o alojamento de seus superiores onde diz ter sido imobilizado, derrubado e, em seguida, agredido. Os momentos de terror foram relatados pelo soldado e, segundo ele, eram diários.

“Teve um dia que eu tentei fugir do trote e me levaram para o alojamento deles. Chegando lá tinha cerca de 15 a 18 cabos. Me amarraram, fecharam as janelas e portas, e quando eu caí no chão começaram as agressões. Eu gritei muito, mas não foi motivo para eles pararem. Eu fui agredido na frente de outro soldado e ele desmaiou (…) Isso já é conhecido por lá. Eles pegam os soldados aos poucos. Todos que se formam sofrem esse trote. Os que se formaram comigo também passaram por isso”, disse a vítima das agressões.

Os agressores usaram pedaços de madeira, fios cortados e cordas.

Pesadelo

Após ser submetido ao procedimento cirúrgico para remover o testículo, o soldado recebeu alta médica. Ele disse que foi obrigado a voltar a prestar seus serviços. A experiência de reencontrar os agressores no Exército causou uma instabilidade psicológica no soldado. Na época, a vítima chegou a ser perseguida e ameaçada pelos superiores.

“Depois que eu recebi alta da cirurgia, eu tive que voltar para lá, eu convivi com os agressores diariamente. Eu sofri pressão psicológica. Eles me perseguiam, ameaçavam. Foi quando eu comecei a ter acompanhamento psiquiátrico. O meu psiquiatra pediu para que eu fosse afastado. Comecei a tomar medicamento controlado (…) Desde a agressão, eles falavam que eu não podia falar com ninguém, falavam que caso alguém visse era pra falar que fui assaltado, falava para usar a farda no corpo inteiro para tampar as marcas”, contou o soldado.

8 indiciados e 10 livres

O Comando Militar do Leste (CML) informou que oito envolvidos no caso foram indiciados em um Inquérito Policial Militar, que foi aberto para apurar as agressões. Além disso, estes oito militares foram licenciados em 28 de fevereiro de 2017. Já o soldado que foi espancado passa por atendimentos médico e psicológico.

Apesar do posicionamento, a vítima das agressões informou que fez denúncia contra 18 cabos que estiveram presentes no trote. No entanto, o Exército só acatou contra oito deles.

“Eu denunciei 18 cabos e eles aceitaram apenas a denúncia contra oito. Não afastaram todos, ainda tem agressores lá no batalhão. Atualmente, eu tenho medo de voltar para lá. Eu não consigo voltar para lá, não consigo entrar em contato com eles”, disse a vítima.

O advogado do soldado, Marcelo Figueira, contou que a vítima teve coragem de enfrentar a situação e, após procurar o escritório, decidiu entrar com uma ação indenizatória contra a União.

“Ele teve a coragem de enfrentar essa situação. Entramos com uma ação indenizatória para reparação dos danos físicos, psicológicos e morais contra a União, através da 27ª Vara. Estamos aguardando a resposta do Exército no processo. Eles foram intimados e estamos aguardando a defesa deles”, disse o advogado.

Ao comentar a decisão do soldado, que prefere não ser identificado, o CML informou que “ao ajuizar ação indenizatória contra a União, o Soldado D. P. V. exerce um direito de cidadão, que será tratado pela Justiça Federal”.

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