O que impediu Sergio Moro de levar Lula a Curitiba?
Polícia da Aeronáutica impediu o plano inicial da Lava Jato (PF, MPF, Moro) de levar Lula a Curitiba na última sexta-feira – onde deputados de oposição, incluindo Jair Bolsonaro e Fernando Francischini, já estariam comemorando e esperando a chegada do ex-presidente
O plano de levar Lula a Curitiba Lula poderia ter acabado em tragédia. Cem soldados da Polícia da Aeronáutica cercaram o jatinho que levaria o ex-presidente ao Paraná. A equipe da lava-jato desiste do plano A
O que teria, de fato, atrapalhado os planos de levarem o ex-presidente Lula para Curitiba é umas das questões mais levantadas após a última tentativa da equipe de Moro.
Aeroporto de Congonhas, sexta-feira, 04 de março, cedo da manhã.
Soldados da Polícia da Aeronáutica estranham a movimentação de outros policiais armados.
Bloqueiam a entrada e não deixam eles entrarem no aeroporto. Não teriam reconhecido a farda que foi usada pela Polícia Federal, que estava fortemente armada.
Um dos soldados avisa ao coronel o que está ocorrendo.
O coronel fica furioso.
O reforço é chamado. Em poucos minutos a polícia da aeronáutica está preparada com centenas de homens para, se preciso for, confrontar os policias da PF.
A confusão é enorme, então descobre-se que o ex-presidente estava sendo conduzido. Neste momento, o coronel assume o comando do aeroporto e dá ordens para que cem homens da Polícia da Aeronáutica cerquem o jatinho que, segundo lhe informaram, levaria o ex-presidente Lula para Curitiba.
Mais tensão.
Sabe-se então que Lula está na sala da PF para interrogatório. Neste instante é aventada a decisão de invadir a sala para resgatar o ex-presidente. Há uma negociação, mas o coronel, que segundo consta é legalista, teria perguntado: “O que vocês pensam que estão fazendo com um ex-presidente?”.
Em meio a isso, o ex-deputado, professor Luisinho já estaria protestando contra a detenção de Lula e há uma baderna enorme defronte a sala da PF. Manifestantes contra Lula entram em êxtase.
Desmentidos surgem, mas o coronel do aeroporto não dá sinais de recuar. A PA permanece a postos, pronta para qualquer tentativa de condução de Lula.
A equipe da lava-jato desiste do plano A, que seria levar Lula à Curitiba – onde deputados de oposição já estariam comemorando.
(Ver abaixo. Curiosamente, o deputado Jair Bolsonaro e o seu filho já estavam em Curitiba na manhã de 4 de março na frente da Polícia Federal a espera de Lula):
Além disso, decidem reduzir o tempo do interrogatório, que era pra ser bem mais longo e, consequentemente, mais cansativo ao ex-presidente.
A Polícia da Aeronáutica, sob o comando do coronel, não arreda pé.
Diante do impasse, o juiz Sergio Moro teria dado ordens para abortar a operação.
O ex-presidente Lula é libertado.
A operação fracassou.
Quem forneceu essas informações, relatou tudo isso, exatamente desta forma.
Provavelmente quem esteve no local, naquela fatídica manhã de sexta-feira, possa ter visto parte desse impasse.
Sobre a veracidade desta versão, cabem duas questões:
De fato aconteceu desta maneira, a partir da ótica do narrador.
Ou, como disse a personagem do filme “Cortina de Fumaça”, Paul Benjamin, interpretado por William Hurt, após ouvir a história de natal de Auggie Wren (Harvey Keitel):
“Para se contar uma boa história tem-se que saber apertar as teclas certas. E nisso, você é mestre”.
Quando o narrador dessa história terminou de contar, me disse: “Podia ter acontecido uma tragédia. Foi muito tenso”.
A mim coube apenas a fidelidade do relato sem o uso de qualquer recurso literário.
Jari Mauricio da Rocha, Carta Maior
(Adendo)
Leitores enviaram a Pragmatismo Político um comentário do jornalista Leandro Fortes acerca do conteúdo abordado nesta publicação. Consideramos que as ponderações são pertinentes e reproduzimos, integralmente, abaixo.
Eu desconfio muito dessa história de que a Polícia da Aeronáutica, sob o comando de um coronel legalista, tenha frustrado os planos do juiz Sérgio Moro de levar o ex-presidente Lula para Curitiba.
A FAB é um ambiente incrivelmente reacionário, onde o antipetismo patológico substituiu o anticomunismo da Guerra Fria graças a um processo de envenenamento ideológico levado a cabo por várias gerações de oficiais.
Recentemente, um vídeo divulgado nas redes sociais mostrou alunos da Escola Preparatória de Cadetes do Ar (Epcar) entoando uma ode à tortura enquanto faziam exercícios físicos.
Meninos com idades entre 15 e 18 anos.
Mas, se for mesmo verdade, se tiver havido um coronel que impediu um ex-presidente de ser aprisionado de forma arbitrária, a FAB terá honrado a história de dois de seus maiores heróis: os capitães Alfredo Daudt e Sérgio Ribeiro de Carvalho, o Sérgio Macaco.
O capitão Daudt foi um dos oficiais que impediram a decolagem dos jatos da FAB que bombardeariam o Palácio Piratini, em Porto Alegre, na Campanha da Legalidade, em 1961.
Ele e alguns companheiros furaram os pneus das aeronaves que pretendiam matar o então governador do estado, Leonel Brizola.
O capitão Sérgio Macaco, oficial do grupo de salvamento da FAB, o Parasar, recusou-se a cumprir as ordens de um psicopata, o brigadeiro João Paulo Burnier, de explodir o gasômetro do Rio de Janeiro, em 1968.
Burnier, apontado como um dos mais sádicos torturadores da ditadura, pretendia colocar a culpa das mortes – estimadas em 100 mil pessoas – nos comunistas.
Mas não se enganem.
Daudt e Sérgio Macaco são heróis do Brasil, mas não são reverenciados na FAB.