Redação Pragmatismo
América Latina 10/Abr/2015 às 11:44 COMENTÁRIOS
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Cúpula das Américas terá participação inédita e histórica de Cuba

Publicado em 10 Abr, 2015 às 11h44

Reunindo pela 1ª vez continente todo, Cúpula das Américas terá temas incômodos aos EUA. Apesar de defender uma agenda positiva devido à participação inédita de Cuba, Obama terá que enfrentar descontentamento regional por sanções à Venezuela

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Vanessa Martina Silva, Opera Mundi

Pela primeira vez desde a sua criação, em 1994, a Cúpula das Américas reunirá, entre esta sexta-feira (10/04) e sábado (11/04) no Panamá, todos os países do continente americano, marcando a inclusão do presidente cubano, Raúl Castro, entre os 35 chefes de Estado e de governo que integrarão a mesa de discussão.

Com as atenções voltadas para o encontro entre o líder cubano e o presidente norte-americano, Barack Obama, o fórum, idealizado por Bill Clinton na esteira do projeto fracassado da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), terá como principais temas da agenda de debate tópicos incômodos à diplomacia dos Estados Unidos: as sanções impostas à Venezuela, considerada uma “ameaça” à sua segurança; e as relações com Cuba, que permanece sob bloqueio econômico e parte da lista norte-americana dos países que patrocinam o terrorismo.

A ausência histórica de Cuba das seis últimas reuniões de cúpula se deu pois o bloco reúne os países-membros da OEA (Organização dos Estados Americanos) — da qual a ilha foi expulsa em 1962, com a anuência de todos os países, à exceção do México, após a revolução socialista. Em 2009, após 47 anos de exclusão, Cuba foi readmitida à OEA, mas tem rejeitado seu retorno desde então.

Há três anos, na VI Cúpula das Américas, na Colômbia, os países latino-americanos concordaram em reivindicar em conjunto a presença de Havana no encontro seguinte — a discordância com os EUA fez com que a reunião de Cartagena em 2012 terminasse sem um documento final. A sinalização foi cumprida e o Panamá, que sedia o encontro diplomático de 2015, convidou Cuba a participar do evento.

Retomada das relações Cuba-EUA

Três anos após Cartagena, no centro das atenções em torno da cúpula, estão temas relacionados à retomada das relações bilaterais entre Estados Unidos e a ilha caribenha, como fora anunciado em 17 de dezembro.

Os Estados Unidos, no entanto, tinham a intenção de anunciar a reabertura da embaixada na ilha caribenha durante o evento, o que não ocorrerá porque Cuba se nega a levar adiante essas negociações enquanto permanecer na lista de países apoiadores do terrorismo. Apesar de o Departamento de Estado ter recomendado, nesta quinta-feira (09/04), que isso seja feito, não há previsão de quando o ato será concretizado.

A retirada de Cuba desta lista e o fim do bloqueio econômico e financeiro imposto ao país desde a década de 1960 são temas de consenso entre os latino-americanos que participam do evento, fato que contribui para o isolamento a que está submetida a nação norte-americana. Além disso, a controversa participação de opositores aos governos cubano e venezuelano, entre eles um dos assassinos de Ernesto “Che” Guevara e as esposas dos opositores venezuelanos Leopoldo López, Lilian Tintori, e Antonio Ledezma, Mitzy Capriles em fóruns preparatórios ao evento acirrou os ânimos e aumento as expectativas em torno de como se desenvolverão as conversas durante o encontro.

Venezuela e a agenda positiva

Apesar da resposta positiva à região com a integração de Cuba ao evento, os Estados Unidos, que esperavam uma agenda positiva de reaproximação com os demais países, após a criação de organismos integracionistas regionais dos quais não participa — como a Alba (Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América, criada em 2004), Unasul (União das Nações Sul-Americana, fundada em 2007) e Celac (Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos, em 2011) — terá desafios, como manter os temas relativos à Venezuela longe das discussões.

Após ter anunciado sanções contra funcionários do governo do presidente Nicolás Maduro e ter declarado que o país representa uma “ameaça não usual e extraordinária à segurança do país”, os Estados Unidos envolveram-se em mais um tema que gera controvérsia na região.

Por esta razão, analistas consideram que este tema, e não Cuba, deverá dominar a pauta. Isso porque há um consenso na região de que a Venezuela não constitui uma ameaça aos Estados Unidos, posição que deixou novamente os Estados Unidos isolados, a ponto de a subsecretária de Estado, Roberta Jacobson, ter declarado que seu país foi “incompreendido”. Além disso, o teor do acordo justifica o temor de que esse tipo de classificação possa servir como justificativa para uma intervenção militar na região, apesar desse cenário ter sido desmentido por funcionários norte-americanos.

Neste contexto, Maduro pretende entregar a Obama mais de 13 milhões de assinaturas coletadas em todo o subcontinente contrárias ao decreto presidencial firmado por Obama. Isso após os dois fóruns internacionais mais representativos: Unasul e Celac, terem declarado, de forma unânime, oposição à resolução.

Diálogo

Apesar do contexto, o clima não é de rechaço a Obama ou aos Estados Unidos. De acordo com o doutor em Ciências Sociais e escritor Luis Suárez Salazar, especialista em temas relacionados à América Latina, em entrevista ao jornalista Fernando Ravsberg, haverá temas que interessam a todos negociar em bloco com os Estados Unidos e Canadá. “Será um espaço de negociação entre o sul e o norte do continente”, afirmou.

Entre outros pontos de vista comuns para a região estão, além do caso da Venezuela, a contenda da Argentina contra os fundos abutres e o atrito do país com o Reino Unido em torno da soberania das ilhas Malvinas, além da política contra o narcotráfico que não tem surtido o resultado desejado. “Não se trata de fechar a porta na cara de Obama, mas de negociar com ele nos pontos que já há consenso na América Latina”, ressaltou Salazar.

Outro foco de interesse será o encontro entre Obama e a mandatária brasileira, Dilma Rousseff, que ocorrerá no dia 11. Isso porque após o vazamento de denúncias de que líderes mundiais, incluindo Dilma, haviam sido espionados pelo governo norte-americano, as relações entre os governos ficaram estremecidas. Integrantes do Mercosul manifestaram, à época apoio ao Brasil. A contenda envolvendo a Bolívia e o Chile pela reivindicação de uma saída soberana do país mediterrâneo ao Pacífico também estará na pauta.

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