Redação Pragmatismo
História 17/Jul/2014 às 17:54 COMENTÁRIOS
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Relembre: aviões civis já foram abatidos por militares no passado

Publicado em 17 Jul, 2014 às 17h54

Forças Armadas da União Soviética e dos Estados Unidos mataram centenas de civis em dois ataques em 1983 e 1988

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Caso se confirme que o desastre com o voo MH17 da Malaysia Airlines tenha sido fruto de um ataque militar, este não será o primeiro contra um avião civil (Divulgação)

A queda ainda não esclarecida do voo MH17, da Malaysian Airlines, nesta quinta-feira 17, na Ucrânia, causa choque pois pode ter sido causada por um ataque militar a um alvo civil. Se confirmada esta hipótese, o caso vai se assemelhar a dois episódios ocorridos nos anos 1980 que provocaram horror no mundo.

O primeiro deles se deu em 1.º de setembro de 1983, quando caças soviéticos abateram o voo 007 da Korean Airlines. Naquele dia, o voo deixará Nova York, nos Estados Unidos, rumo a Seul, na Coreia do Sul. Na segunda parte da viagem, após uma escala em Anchorage, no Alasca, o voo saiu de sua rota e entrou no espaço aéreo da União Soviética, sobrevoando a península de Kamchatka, onde Moscou mantinha uma série de operações secretas. Os caças soviéticos decolaram com a missão de abater a aeronave invasora e cumpriram o objetivo, matando as 269 pessoas a bordo, incluindo 61 norte-americanos, entre eles um deputado.

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O governo dos Estados Unidos classificou a ação como um “massacre” imediatamente após o ocorrido. Inicialmente, o governo soviético negou o ataque ao avião civil, mas depois confirmou o erro e atribuiu o equívoco a uma “sofisticada provocação” dos EUA. O caso, que ocorreu em um dos momentos mais tensos da Guerra Fria (ao lado, a capa da revista Time de 12 de setembro de 1983), só não causou mais estragos nas relações entre as duas potências pois tanto nos EUA quanto na União Soviética prevaleceu, em privado, a versão de que se tratara de um mal-entendido. Essa versão vigorou pois, no mesmo momento em que o voo 007 entrou no espaço aéreo soviético, uma aeronave espiã dos Estados Unidos fazia um voo de vigilância na região. Entre as aeronaves espiãs dos EUA estavam Boeings RC-135s, semelhantes ao 747 da Korean Airlines.

Quase cinco anos depois, em 3 de julho de 1988, foi a vez das Forças Armadas dos Estados Unidos abaterem um avião civil. Naquele dia, o cruzador USS Vincennes, da Marinha dos EUA, se envolveu em uma batalha com navios iranianos no Golfo Pérsico e, em meio ao confronto, abateu o voo 655 da Iran Air, que decolara de uma base aérea em Teerã, capital do Irã, para Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. Os mísseis lançados pelo cruzador destruíram o avião, matando as 290 pessoas, incluindo 66 crianças, a bordo.

Oficialmente, os EUA alegaram que confundiram a aeronave civil com um caça Tomcat F-14 usado pela Força Aérea iraniana. No Irã, o caso foi entendido como sinal da disposição de Washington de entrar de forma definitiva na Guerra Irã-Iraque ao lado do Iraque, então comandado por Saddam Hussein. Este fato, assim como os bárbaros ataques com armas químicas realizados pelas Forças Armadas iraquianas, convenceram o governo do Irã a aceitar, em agosto daquele ano, um cessar-fogo proposto pela ONU.

Em 1996, os EUA indenizaram as famílias das vítimas em 61 milhões de dólares, mas jamais pediram desculpas pelo ocorrido. Até hoje, o ataque ao voo 655 é usado no Irã como prova de que os Estados Unidos não são confiáveis e estão dispostos a tudo para derrubar a República Islâmica.

José Antonio Lima, CartaCapital

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