Redação Pragmatismo
Palestina 18/Jul/2014 às 14:33 COMENTÁRIOS
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As primeiras horas da incursão terrestre de Israel na Faixa de Gaza

Publicado em 18 Jul, 2014 às 14h33

Gaza amanhece envolvida em combates após noite de fortes bombardeios. 18 palestinos e um soldado israelense morreram nas primeiras horas da incursão terrestre de Israel

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A incursão terrestre israelense em Gaza aconteceu após seis horas do cessar-fogo humanitário a pedido da ONU (Pragmatismo Político)

Forças de artilharia e da Marinha de Israel bombardeiam intensamente nesta sexta-feira (18/07), desde a noite de ontem, as regiões norte e sul da Faixa de Gaza, cenário de fortes combates entre milicianos e soldados desde o início da operação terrestre no território palestino, que começou ontem às 16h (de Brasília).

As zonas mais castigadas são os bairros mais ao norte de Beit Hanoun e Beit Lahia, locais que Israel pediu que a população abandonasse há alguns dias. Também foram atingidas localidades no sul da Faixa, como Khan Yunes e Rafah, esta última próxima da fronteira com o Egito, segundo constatou a Agência Efe.

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A incursão terrestre israelense em Gaza aconteceu após seis horas do cessar-fogo humanitário a pedido da ONU. De acordo com responsáveis militares, o objetivo da incursão é destruir a capacidade militar das milícias, em particular a estrutura bélica do Hamas, e evitar o lançamento de foguetes.

Cerca de 120 projéteis foram lançados pelas milícias palestinas contra território israelense nas últimas horas, mais de 70 deles depois do fim da trégua humanitária, mas sem causar vítimas.

Na operação terrestre participam milhares de unidades de infantaria, tanques e outros veículos blindados, sapadores e engenheiros, estes últimos especialistas em detonações subterrâneas, um dos principais alvos da missão. As tropas têm o apoio da Marinha de Guerra e da Aviação em uma operação que – segundo responsáveis israelenses – também conta com a participação dos serviços secretos.

Mortos e feridos

Pelo menos 18 palestinos e um soldado israelense morreram nas primeiras horas da incursão terrestre de Israel, informaram nesta sexta-feira fontes oficiais. Segundo um porta-voz militar, o soldado, de 20 anos, morreu ontem à noite em um combate e outros dois ficaram feridos, um deles com gravidade, na cidade de Beit Hanoun, no norte da Faixa de Gaza, em circunstâncias ainda não esclarecidas.

A televisão israelense relatou que as Forças Armadas estão investigando se o soldado morreu por “fogo amigo” em uma troca de tiros com os milicianos palestinos.

Com essas mortes, vai a 261 o número de vítimas fatais palestinas nos ataques israelenses desde o início da última ofensiva contra Gaza. Além disso, mais de 2 mil pessoas ficaram feridas, enquanto um cidadão israelense morreu por consequência do lançamento de mísseis das milícias palestinas.

As forças israelenses também afirmaram que abateram 14 milicianos palestinos durante os duros combates de ontem à noite e que um projétil antitanque foi lançado contra um dos blindados de Israel, o que causou danos, mas não deixou vítimas.

Durante essas primeiras horas de combate, as forças terrestres israelenses atacaram 103 posições islamitas, entre elas mais de 20 plataformas de lançamento de foguetes e cerca de nove túneis, segundo o Exército, que definiu as operações como “bem-sucedidas”.

As milícias palestinas, por sua vez, dispararam 45 foguetes contra Israel, 25 dos quais caíram no território do país, sem causar danos e vítimas, enquanto os outros 20 foram interceptados pelo sistema antiaéreo “Domo de Ferro”.

Reação da ANP

O presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, pediu nesta quinta-feira que Israel interrompa sua operação terrestre contra a Faixa de Gaza e advertiu que isso “só complicará a situação” e levará a mais derramamento de sangue.

Em um encontro com jornalistas no Cairo, a capital do Egito, Abbas garantiu que os ataques terrestres que Israel está realizando contra Gaza não vão acabar com o conflito, apenas levarão “a mais agressões”.

Também falou de sua reunião de ontem com o presidente egípcio, Abdul Fatah al Sisi. Abbas garantiu que o encontro “foi importante e que puderam discutir a iniciativa egípcia para encerrar as agressões contra Gaza”.

Sobre seu encontro com o secretário-geral do movimento palestino da Jihad Islâmica, Ziad al Najla, assegurou que “viu uma grande disposição para a aceitação do cessar-fogo” e pediu que o movimento ajude “a convencer o Hamas” para que apoie a iniciativa egípcia que pretende “acabar com os bombardeios e a destruição contínua em Gaza”.

O líder palestino negou que sua agenda de reuniões inclua um encontro com o líder do Hamas, Khaled Meshaal, mas garantiu que não tem nenhum impedimento para conversar com ele “sempre e quando [o encontro] seja para tratar da mediação egípcia e da aplicação do plano de cessar-fogo”.

Abbas informou que viajará nesta sexta-feira para a Turquia, em um giro que também incluirá visitas ao Bahrein e ao Catar, para continuar com seus esforços para acabar com a operação israelense Margem Protetora, lançada no dia 8 de julho e que já deixou pelo menos 248 mortos.

Líderes mundiais reagem

O Egito condenou a decisão israelense, pedindo “máxima moderação” a Tel Aviv para que mais derramamento de sangue civil inocente seja evitado. O Egito foi o responsável por elaborar o plano de cessar-fogo, rejeitado pelo Hamas, que o acusa de deixar Gaza à margem das negociações. O Egito mantém relações diplomáticas muito mais positivas com Israel do que com a Faixa de Gaza, controlada pelo Hamas — a fronteira egípcia na cidade palestina de Rafah, momentaneamente aberta pelo há uma semana, é mantida fechada pelo Egito.

Além da presidente Dilma Rousseff, outros líderes mundiais também criticaram a ação israelense. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pede que Israel “faça mais” para impedir a morte de civis. O chanceler francês, Laurent Fabius, também externou “preocupação extrema” por parte da França. O ex-presidente norte-americano Bill Clinton, em entrevista a uma TV indiana, disse que “Israel está se autoisolando da opinião mundial”.

“Continuamos a pedir que todas as partes façam de tudo para proteger os civis”, disse Jen Psaki, porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, para quem, a partir de agora, os “esforços devem ser redobrados”.

Cronologia das tensões

A escalada de violência israelense ocorreu após a morte de três adolescentes israelenses na Cisjordânia no final de junho. Como “vingança”, um jovem palestino foi queimado vivo e assassinado em Jerusalém.

Logo após a descoberta dos corpos dos três jovens, Israel iniciou uma ofensiva contra o Hamas. Aviões de guerra passaram a bombardear Gaza destruindo casas e instituições e foram realizadas execuções extrajudiciais. Até agora, quase 600 palestinos foram sequestrados e presos.

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A tensão aumentou na região após anúncio, no começo de junho, do fim da cisão entre o Fatah e o Hamas, que controlam a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, respectivamente. Israel considera o Hamas um grupo terrorista e por isso suspendeu as conversas de paz que vinham sendo desenvolvidas com os palestinos com a mediação do secretário de Estado norte-americano, John Kerry.

Opera Mundi

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